25 de jan. de 2013

Ginkgo biloba - Goethe






Essa folha de uma árvore do Oriente
Brotou em meu jardim
Ela revela certo segredo
Que me atrai e às pessoas contemplativas
Ela representa uma só criatura
Que a si mesmo se dividiu?
Ou são duas, que decidiram
Que uma deveriam ser?
Para responder a essa questão,
Descobri a resposta certa:
Nota que em minhas canções e em meus versos
Sou Um e sou Dois?

A tradução em português é de Flávio Demberg,
.......................
Dieses Baums Blatt, der von Osten 
Meinem Garten anvertraut, 
Gibt geheimen Sinn zu kosten, 
Wie's den Wissenden erbaut.
Ist es ein lebendig Wesen, 
Das sich in sich selbst getrennt? 
Sind es zwei, die sich erlesen, 
Dasz man sie als Eines kennt?

Solche Frage zu erwidern, 
Fand ich wohl den rechten Sinn: 
Fühlst du nicht an meinen Liedern, 
Dasz ich Eins und doppelt bin?
.........................
Las hojas de este árbol, que del Oriente 
a mi jardín venido, lo adorna ahora, 
un arcano sentido tienen, que al sabio 
de reflexión le brindan materia obvia.

¿Será este árbol extraño algún ser vivo 
que un día en dos mitades se dividiera? 
¿O dos seres que tanto se comprendieron, 
que fundirse en un solo ser decidieran?

La clave de este enigma tan inquietante 
Yo dentro de mí mismo creo haberla hallado: 
¿no adivinas tú mismo, por mis canciones, 
que soy sencillo y doble como este árbol?
...............
La feuille de cet arbre 
Qu'à mon jardin confia l 'Orient 
Laisse entrevoir son sens secret 
Au sage qui sait s'en saisir.

Serait-ce là un être unique 
Qui de lui-même s’est déchiré ? 
Ou bien deux qui se sont choisis 
Et qui ne veulent être qu’un ?

Répondant à cette question 
J’ai percé le sens de l’énigme 
Ne sens-tu pas d’après mon chant 
Que je suis un et pourtant deux ?
............................
Le foglie di quest'albero dall'Oriente
venuto a ornare il mio giardino  
celano un senso arcano  
che il saggio sa capire. 

C'è in esso una creatura  
che da sola si spezza?  
O son due che per scelta voglion 
essere una sola? 

Per chiarire il mistero  
ho trovato la chiave:  
non senti nel mio canto ch'io 
pur essendo uno anche duplice sono?

24 de jan. de 2013

Mandamentos de Fernando Pessoa

1. Não tenhas opiniões firmes, nem creias demasiadamente no valor de tuas opiniões.
2. Sê tolerante, porque não tens a certeza de nada.
3. Não julgues ninguém, porque não vês os motivos, mas só os actos...
4. Espera o melhor e prepara-te para o pior.
5. Não mates nem estragues, porque, como não sabes o que é a vida, excepto que é um mistério, não sabes que fazes matando ou estragando, nem que forças desencadeias sobre ti mesmo se estragares ou matares.
6. Não queiras reformar nada, porque, como não sabes a que leis as coisas obedecem, não sabes se as leis naturais estão de acordo, ou com a justiça, ou, pelo menos, com a nossa ideia de justiça.
7. Faz por agir como os outros e pensar diferentemente deles. Não cuides que há relação entre agir e pensar. Há oposição. Os maiores homens de acção têm sido perfeitos animais na inteligência. Os mais ousados pensadores têm sido incapazes de um gesto ousado ou de um passo fora do passeio.

s.d.
Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990. - 73.

Helder Reis - Fotografia




























23 de jan. de 2013

Nova poética de Manuel Bandeira


Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Saí um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na primeira esquina passa um caminhão, salpica-lhe o paletó ou a calça de uma nódoa de lama: 
É a vida

O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.

Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens cem por cento e as amadas que envelheceram sem maldade.


22 de jan. de 2013

O poema que tomou o lugar de uma montanha de Wallace Stevens


Ei-lo, palavra por palavra,
O poema que tomou o lugar de uma montanha.
Ele respirava no seu oxigênio,
Mesmo quando o livro jazia voltado sobre o pó da mesa.
Recordava-lhe o quanto tinha precisado
De um destino para o seu próprio rumo,
Como tinha reordenado os pinheiros,
Movido as pedras e escolhido um caminho por entre as nuvens,
Pela perspectiva que mais lhe convinha
Onde se acharia inteiro numa inexplicada inteireza:
A exata rocha onde as suas inexatidões,
Descobririam, por fim, a vista para a qual tinham avançado,
Onde poderia deitar-se, fitando o mar lá em baixo,
E reconhecer a sua única e solitária casa.


21 de jan. de 2013

Poesia de Livia Garcia Roza

foto: Roberto Kusterle

Poesia é voar para dentro.


Quando os meus olhos de Mario Quintana



Grupo Matizes 

Quando os meus olhos de manhã se abriram, 
Fecham-se de novo, deslumbrados: 
Uns peixes, em reflexos doirados, 
Voavam na luz: dentro da luz sumiram-se 

Rua em rua, acenderam-se os telhados.
Num claro riso as tabuletas riram.
E até no canto onde os deixei guardados
Os meus sapatos velhos refloriram.

Quase que eu saio voando céu em fora!
Evitemos, Senhor, esse prodígio... 
As famílias, que haviam de dizer?

Nenhum milagre é permitido agora...
E lá se iria o resto de prestígio
Que no meu bairro eu inda possa ter!...


20 de jan. de 2013

Las Simples Cosas de Armando Tejada Gómez e César Isella


Uno se despide
incensiblemente de pequeñas cosas
lo mismo que un arbol
que en tiempo de otoño se queda sin hojas
que al fin la tristeza es la muerte lenta de las simples cosas
esas cosas simples que quedan doliendo en el corazón

Uno vuelve siempre a los mismos sitios donde amo la vida
y entonces comprende como estan de ausentes las cosas queridas
por eso muchacha no partas ahora soñando el regreso
que el amor es simple y a las cosas simples las debora el tiempo
demorate a ti, en la luz solar de este medio dia
donde encontraras con el pan al sol la mesa tendida
por eso muchacha no partas ahora soñando el regreso
que el amor es simple y a las cosas simples las debora el tiempo

Uno vuelve siempre a los viejos sitios donde amo la vida...

http://www.youtube.com/watch?v=Gks8Dq0-YVQ

Claridade de Livia Garcia Roza

Jana Joana Vitche


Em cada escrito procuro uma claridade.


Tomasz Gudzowaty, fotógrafo polonês








O fotógrafo polonês Tomasz Gudzowaty registrou um treinamento de kung fu de monges budistas do famoso templo Shaolin, na China.
Momentos de meditação, equilíbrio e força foram captados pelas lentes de Gudzowaty.
Para os budistas, o templo Shaolin é o berço da tradição religiosa Chan, linha que busca cultivar a mente e o espírito através da meditação profunda.
O monastério foi fechado durante Revolução Cultural do governo Mao Tsé-Tung. Mas na década de 80, o templo foi reaberto como um centro de treinamento de Kung Fu e também tornou-se atração turística.
Em 2010, o templo entrou na lista de Patrimônios da Humanidade pela Unesco.

19 de jan. de 2013

Copo de leite









Vida Sempre de Casimiro de Brito



Entre a vida e a morte há apenas 
o simples fenómeno 
de uma subtil transformação. A morte 
não é morte da vida. 
A morte não é inação, inutilidade. 
A morte é apenas a face obscura, 
mínima, em gestação 
de uma viagem que não cessa de ser. Aventura 
prolongada 
desde o porão do tempo. Projectando-se 
nas naves inconcebíveis do futuro. 

A morte não é morte da vida: apenas 
novas formas de vida. Nova 
utilidade. Outro papel a desempenhar 
no palco velocíssimo do mundo. Novo ser-se (comércio 
do pó) e não se pertencer. 
Nova claridade, respiração, naufrágio 
na maquina incomparável do universo. 

Casimiro de Brito, in "Solidão Imperfeita"

18 de jan. de 2013

Soneto à maneira de Camões de Sophia de Mello Breyner Andresen

imagem: Vilhelm Hammershoi   Femme dan un interieur -1905

Esperança e desespero de alimento
Me servem neste dia em que te espero
E já não sei se quero ou se não quero
Tão longe de razões é meu tormento.

Mas como usar amor de entendimento?
Daquilo que te peço desespero
Ainda que mo dês - pois o que eu quero
Ninguém o dá senão por um momento.

Mas como és belo, amor, de não durares,
De ser tão breve e fundo o teu engano,
E de eu te possuir sem tu te dares.

Amor perfeito dado a um ser humano:
Também morre o florir de mil pomares
E se quebram as ondas no oceano.

in Coral, 1950

17 de jan. de 2013

At the heart of it all de Rui Pires Cabral


Amigo, a longa noite sempre acaba
e por vezes é tão triste acordar e perceber
que juntos fizemos o solitário caminho
para o escuro de cada um. Como nos apela
essa travessia incerta pelo avesso de um desesperado
desejo de viver. Ao início há outro modo de encanto

que, uma vez esgotado, de novo se refaz:
sofreremos em comum o nosso tempo na cidade
e tudo o que dele pudermos compartir: a música,
a esquiva beleza de um verso, o sentimento
das coisas que entretanto perdemos
ou nunca chegámos a ter. Mas tu bem sabes

que a última canção desemboca fatalmente
no silêncio mais cruel – o que trazemos connosco
e não podemos sanar. Abre por fim a janela,
repudia outra vez o cansado mundo e o dia
que gastámos de antemão nessa funda vontade
de não estar, nada ser, nada sentir.


Rui Pires Cabral, Longe da Aldeia, Averno, 2005.

16 de jan. de 2013

Olivier Föllmi, fotografia









« La photographie n'est pas un but mais un moyen pour m'impliquer dans l'harmonie du monde. »  Olivier Föllmi, né en 1958 à Saint-Julien-en-Genevois, França.

15 de jan. de 2013

A primeira vez de Livia Garcia Roza




A primeira vez que você me viu disse que meu interior devia ser de um azul lindíssimo onde deviam brincar borboletas, esquilos gatos e passarinhos, onde nasciam e floresciam flores silvestres, onde o sol de verão brilhava e às vezes ofuscava, e o vento era brisa e vendaval, e as chuvas eram rápidas e limpas.... Aí seu celular tocou e você foi embora. Correndo.

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...