Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
12 de out. de 2013
11 de out. de 2013
Eu durmo à beira do céu de Pedro Silva Sena
Sobre as pedras
Há muito tempo que nada me pertence
— Talvez a água
Quando corre por mim abaixo
Quando me brilha nos olhos
Talvez as folhas das árvores
Quando as aliso nas mãos
Quando tu chegas
Talvez a carne pendurada nos ossos
Quando brinco com ela
Talvez o chão
a pequena porção dele sob os meus passos
Talvez a sombra
antes de voar
10 de out. de 2013
Sandália nova :: Alice Sant'Anna
a sandália nova branca com dedos
que se refestelam do lado de fora
como crianças que sabem o verão que vem
de repente a chuva mingua os planos
da calça jeans com sandália de dedos
uma combinação entre-estações
para não se sentir nem tão lá nem tão
cá os dedos curvados corcundas
como crianças tristes que sabem
o toró que se aproxima as unhas recém-cortadas
que planejaram se mostrar sobre a cadeira de rodinhas
que nada a água inundou a sexta
da janela os bambus se movem muito
chegam a parecer desesperados
as folhas penduradas são cabelos colados
que gritam novas rugas onde nada havia
Equilíbrio de Clarice Lispector
foto: Maciek Lesniak
Eu sou feita de tão pouca coisa e meu equilíbrio é tão frágil, que eu preciso de um excesso de segurança para me sentir mais ou menos segura. Belém, 8 - julho -1944
fonte: Minhas queridas. Rocco, 2007.
9 de out. de 2013
A idade me cai bem :: Andréa Beheregaray
Lhe respondi que isso é bom, já que com a idade muita coisa cai também!
E pensativa fiquei, aos 33, ainda não me apavorei.
Se existe a mulher moranguinho, e também a melância.
E eu o que seria?
Talvez a mulher bergamota, com a pele cheia de relevos.
Não olho no espelho, e com isso pouca coisa percebo.
Mas sei que também poderia
ser chamada de a mulher braile.
1000 furinhos a compor curvas,
Celulite também é cultura,
basta que entendas a escrita dos cegos.
O que será que contam os textos da minha pele?
Mas bom mesmo é não saber.
Evitar biquinis, se esconder.
Porque se a idade me cai bem,
o resto tem caido também!
* não se trata da imagem de Berthe Morison
"Coroa-de-cristo", "Colchão de Noiva", "Dois Irmãos", "Bem-Casados", Coroa-de-Espinhos", "Martírios", "Duas Amigas", "Coroa-de-Nossa-Senhora
Coroa-de-cristo (Euphorbia milii) é um arbusto espinhoso originário de Madagascar, muito difundido no Brasil, onde é utilizado como planta ornamental e como proteção em cercas vivas. Conhecida popularmente no Brasil como "Coroa-de-cristo", "Colchão de Noiva", "Dois Irmãos", "Bem-Casados", Coroa-de-Espinhos", "Martírios", "Duas Amigas", "Coroa-de-Nossa-Senhora" entre outras denominações.
Seu nome científico, Euphorbia millii, foi proposto por Des Moulins em homenagem ao Barão Pierre-Bernard Milius, governador pela França da Ilha de Bourbon, atual Ilha Reunião, que levou algumas destas plantas para o Jardim Botânico de Bordeaux em 1821.
Essa planta pertencente ao gênero Euphorbia, consiste em um arbusto perene de até 2 metros de altura, bastante ramificado, com longos ramos contorcidos, providos de numerosos espinhos afiados em forma de agulhas, medindo cerca de 3 cm de comprimento. Seu nome é uma homenagem ao Barão Pierre-Bernard Milius, governador pela França da Ilha de Bourbon, atual Ilha Reunião, o qual doou algumas plantas desta espécie para o Jardim Botânico de Bordeaux em 1821. Des Moulins descreveu e publicou esta espécie que apresenta pequenos cachos de flores de coloração vermelha.
O látex dessa planta contém um fluido branco-leitoso, de baixa densidade, que apresenta várias enzimas e alcaloides. Esse líquido pode provocar irritação em contato com a pele e intoxicação se colocado em contato com mucosas ou ingerido. Se os olhos forem atingidos, esse látex pode provocar perfuração da córnea e, consequentemente, cegueira.
Nos casos de ingestão da planta, é necessária a realização de uma lavagem gástrica, com posterior administração de carvão ativado, laxantes e de analgésicos.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
8 de out. de 2013
Coração de António Lobo Antunes
Banksy
Dizem que o nosso coração é do tamanho do nosso punho fechado: se o abrisse tanta coisa fugia.
António Lobo Antunes
7 de out. de 2013
Desafio de Orides Fontela
Contra as flores que vivo
contra os limites
contra a aparência a atenção pura
constrói um campo sem mais jardim
que a essência.
6 de out. de 2013
Um ponto de vista de Bernardo Carvalho
magritte
"Nunca vi ninguém tão só. (...) Numa das vezes em que me falou das suas viagens pelo mundo, perguntei aonde queria chegar e ele me disse que estava em busca de um ponto de vista. Eu lhe perguntei: "Para olhar o quê?". Ele respondeu: "Um ponto de vista em que eu já não esteja no campo de visão". Eu poderia ter dito a ele, mas não tive coragem, que não precisava procurar, que se fosse por isso não precisava ter ido tão longe. Porque ele nunca estaria no seu próprio campo de visão, desde que evite os espelhos. Às vezes me dava a impressão de que, a despeito de ter visto muitas coisas, não via o óbvio, e por isso acreditava que os outros não o vissem, que pudessem se esconder. O que eu vi, nunca falei. Fiquei à sua espera".in: Nove noites. Companhia das Letras, 2006. p. 100
5 de out. de 2013
Fábula de um arquiteto - João Cabral de Melo Neto
A arquitetura como construir portas,
de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e teto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.
2.
Até que, tantos livres o amedrontando,
renegou dar a viver no claro e aberto.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até refechar o homem: na capela útero,
com confortos de matriz, outra vez feto.
Fonte: Melo Neto, J. C. 1994. Obra completa: volume único. RJ, Nova Aguilar.
Poema originalmente publicado em 1966.
Poema originalmente publicado em 1966.
4 de out. de 2013
Urucum
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Malvales
Família: Bixaceae
Género: Bixa
Espécie: Bixa orellana
Nome binomial
Bixa orellana
Lineu
Urucu, ou urucum, é o fruto do urucuzeiro ou urucueiro (Bixa orellana), arvoreta da família das bixáceas, nativa na América tropical, que chega a atingir altura de até seis metros. Apresenta grandes folhas de cor verde-claro e flores rosadas com muitos estames. Seus frutos são cápsulas armadas por espinhos maleáveis, que se tornam vermelhas quando ficam maduras. Então se abrem e revelam pequenas sementes dispostas em série, de trinta a cinquenta por fruto, envoltas em arilo também vermelho.
Chama-se ainda açafroa e também colorau (forma imprópria, a designar especificamente o condimento, também o corante, preparados à base de sementes do urucu trituradas ao pó, puras e/ou misturadas a outras).
Noutras culturas, chama-se: orleansstrauch (alemão), achiote ou onoto (espanhol), rocou (francês) e achiote ou annatto (inglês).
Etimologia
"Urucu" e "urucum" originam-se do tupi transliterado uru'ku, que significa "vermelho", numa referência à cor de seus frutos e sementes.
Contexto Cultural e Histórico
O urucu é utilizado tradicionalmente pelos índios brasileiros (juntamente com o jenipapo, de coloração preta) e peruanos, como fonte de matéria prima para tinturas vermelhas, usadas para os mais diversos fins, entre eles, protetor da pele contra o sol e contra picadas de insetos; há também o simbolismo de agradecimento aos deuses pelas colheitas, pesca ou saúde do povo. No Brasil, a tintura de urucu em pó é conhecida como colorau e usada na culinária para realçar a cor dos alimentos. Esta espécie vegetal ainda é cultivada por suas belas flores e frutos atrativos. Ao passar urucu na pele, ele penetra nos poros e, ao longo do tempo, a pele passa a ter uma tonalidade avermelhada constante e definitiva. Isso acontece pois os poros se entopem de urucu e não conseguem mais eliminá-lo[carece de fontes].
Um produtivo nativo das América, que foi levado para Europa desde o século XVII, é mundialmente empregado como corante de diversos fins, principalmente na indústria alimentícia. Com o banimento do uso de corantes alimentícios artificiais na União Européia, por prováveis efeitos cancerígenos, por exemplo a anilina, é intensamente importado da América tropical e África, além de quase não ter sabor.
Na culinária: como condimento e também colorante, emprega-se sob a forma de pó obtido por trituração das sementes, usualmente misturadas a certo teor de outros grãos também triturados, devido ao arilo que envolve as sementes, que fornece matéria corante vermelha característica, como na casca dos queijos: leyden, queijo-do-reino e outros. É apreciado pela quase ausência de sabor e por não apresentar os efeitos prejudiciais dos corantes artificiais;
Na cosmética: empregam-no os ameríndios tropicais no preparo de tinturas para pintar o corpo, com a finalidade de proteção contra o rigor do sol (confere proteção contra radiação ultravioleta);
Na medicina: como medicamento fitoterápico, é dotado de inúmeras características e propriedades bioquímicas, que lhe dão aplicação em vasta gama de casos.
Composição Química
As sementes do urucu contêm celulose (40 a 45%), açúcares (3,5 a 5,2%), óleo essencial (0,3% a 0,9%), óleo fixo (3%), pigmentos (4,5 a 5,5%), proteínas (13 a 16%), alfa e beta-carotenos e outros constituintes.
Possuem, também, dois tipos de pigmentos:
A bixina, de cor vermelha e solúvel em óleo;
A orelhena, de cor amarela e solúvel em água.
Para informação nutricional, 100 g de semente de urucum contêm:
• Cálcio 7,00 mg
• Ferro 0,80 mg
• Fósforo 10,00 mg
• Vitamina A 15,00 µg
• Vitamina B1
• Vitamina B2 0,05 mg
• Vitamina B3 0,03 mg
• Vitamina C 2,00 mg
Uso Medicinal
Embora, sob o ponto de vista científico, ainda seja objeto de estudo com vista ao estabelecimento do rol de aplicações, consideram-se as folhas e as sementes do urucu como:
Dotadas de virtudes expectorantes em geral;
Úteis nas afecções diversas, principalmente do coração;
Eficazes na eliminação de manchas e verrugas (tintura das sementes aplicada sobre a pele elimina manchas brancas, verrugas, e rejuvenesce a pele);
Eficazes para alívio e redução da prisão de ventre, hemorróidas e hemorragias (chá das folhas).
A Medicina Fitoterápica dispõe das informações precisas sobre o uso médico.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
SONETO XVII Pablo Neruda (1904-73)
No te amo como si fueras rosa de sal, topacio
o flecha de claveles que propagan el fuego:
te amo como se aman ciertas cosas oscuras,
secretamente, entre la sombra y el alma.
Te amo como la planta que no florece
y lleva dentro de sí, escondida, la luz de aquellas flores,
y gracias a tu amor vive oscuro en mi cuerpo
el apretado aroma que ascendió de la tierra.
Te amo sin saber cómo, ni cuándo, ni de dónde,
te amo directamente sin problemas ni orgullo:
así te amo porque no sé amar de otra manera,
sino así de este modo en que no soy ni eres,
tan cerca que tu mano sobre mi pecho es mía,
tan cerca que se cierran tus ojos con mi sueño.
o flecha de claveles que propagan el fuego:
te amo como se aman ciertas cosas oscuras,
secretamente, entre la sombra y el alma.
Te amo como la planta que no florece
y lleva dentro de sí, escondida, la luz de aquellas flores,
y gracias a tu amor vive oscuro en mi cuerpo
el apretado aroma que ascendió de la tierra.
Te amo sin saber cómo, ni cuándo, ni de dónde,
te amo directamente sin problemas ni orgullo:
así te amo porque no sé amar de otra manera,
sino así de este modo en que no soy ni eres,
tan cerca que tu mano sobre mi pecho es mía,
tan cerca que se cierran tus ojos con mi sueño.
3 de out. de 2013
O Cão sem Plumas de João Cabral de Melo Neto
Aquele rio
é espesso
como o real mais espesso.
Espesso
por sua paisagem espessa,
onde a fome
estende seus batalhões de secretas
e íntimas formigas.
E espesso
por sua fábula espessa;
pelo fluir
de suas geléias de terra;
ao parir
suas ilhas negras de terra.
Porque é muito mais espessa
a vida que se desdobra
em mais vida,
como uma fruta
é mais espessa
que sua flor;
como a árvore
é mais espessa
que sua semente;
como a flor
é mais espessa
que sua árvore,
etc. etc.
Espesso,
porque é mais espessa
a vida que se luta
cada dia,
o dia que se adquire
cada dia
(como uma ave
que vai cada segundo
conquistando seu vôo).
In Poesias Completas (1940-1965) José Olympio, 3a. ed., 1979
Flor-de-criança, cabeleira-de-velho, neve-da-montanha, leiteiro, cabeleireiro-de-velho, cabeça-branca
Família: Euphorbiaceae
Divisão: Angiospermae
Origem: América Central
Ciclo de Vida: Perene
A cabeleira-de-velho é um arbusto semi-lenhoso e lactescente (de seiva leitosa) muito ornamental. Apresenta caule bastante ramificado e de casca marrom claro a acinzentado. Sua copa é arredondada e compacta e seu porte é pequeno, atingindo de 2 a 3 metros de altura. Suas folhas são elípticas, verdes e decíduas. As inflorescências do tipo umbela, surgem no outono e inverno. Elas são constituídas por pequenas flores brancas em forma de estrela circundadas por brácteas vistosas, de coloração branco-creme.
fonte ww.Jardineiro .net
2 de out. de 2013
O seu santo nome de Carlos Drummond de Andrade
Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda a razão ( e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie.
1 de out. de 2013
A literatura é uma viagem contínua de Cladio Magris
Gabriel Metsu
A literatura é uma viagem contínua entre a escrita diurna, em que o autor se bate pelos próprios valores e deuses, e a noturna, em que um escritor escuta e repete o que dizem os seus demônios, os duplos que habitam no fundo de seu coração, mesmo quando eles dizem coisas que desmentem os seus valores.
A literatura é, também, uma descida aos Infernos.
A literatura é, também, uma descida aos Infernos.
Claudio Magris. Alfabetos - Ensaios de Literatura. UFPR, 2008
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