Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
28 de dez. de 2013
A vida oblíqua? :: Clarice Lispector
A vida oblíqua? Bem sei que há um desencontro leve entre as coisas, elas quase se chocam, há desencontro entre os seres que se perdem uns aos outros entre palavras que quase não dizem mais nada. Mas quase nos entendemos nesse leve desencontro, nesse quase que é a única forma de suportar a vida em cheio, pois um encontro brusco face a face com ela nos assustaria, espaventaria os seus delicados fios de teia de aranha. Nós somos de soslaio para não comprometer o que pressentimos de infinitamente outro nessa vida de que te falo.
In: Água viva. Editora Ática, 1984. p. 71.
Ideal dos amorosos
Mário de Sá-Carneiro, in 'Cartas a Fernando Pessoa'
27 de dez. de 2013
Reflexivo :: Affonso Romano de Sant'Anna
O que não escrevi, calou-me
O que não fiz, partiu-me
O que não senti, doeu-se
O que não vivi, morreu-se
O que adiei, adeus-se
In: O lado esquerdo do meu peito. Rocco, 1992
O que não fiz, partiu-me
O que não senti, doeu-se
O que não vivi, morreu-se
O que adiei, adeus-se
In: O lado esquerdo do meu peito. Rocco, 1992
Caixa de fósforos de Laura Esquivel
In: Como Água Para Chocolate, Biblioteca Sábado
26 de dez. de 2013
25 de dez. de 2013
Cartão de Natal :: João Cabral de Melo Neto
pensam os homens
reinaugurar a sua vida
e começar novo caderno,
fresco como o pão do dia;
pois que nestes dias a aventura
parece em ponto de vôo, e parece
que vão enfim poder
explodir suas sementes:
que desta vez não perca esse caderno
sua atração núbil para o dente;
que o entusiasmo conserve vivas
suas molas,
e possa enfim o ferro
comer a ferrugem
o sim comer o não.
João Cabral de Melo Neto
24 de dez. de 2013
Poema de Natal :: Vinícius de Moraes
Childe Hassam
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Natividade
Gentile da Fabriano, 1423
Tiepolo
Gerard van Honthorst
Bosh
Giotto
La Nativité, vers 1150. Cathédrale de Chartres. França
Na manjedoura :: Clarice Lispector
Arthur Hughes
A humanidade é filha de Cristo homem, mas as crianças, os brutos e os amantes são filhos daquele instante na manjedoura. Como são filhos de menino, os seus erros são iluminados: a marca do cordeiro é o seu destino. Eles se reconhecem por uma palidez na testa, como a de uma estrela de tarde, um cheiro de palha e terra, uma paciência de infante. Também as crianças, os pobres de espírito e os que se amam são recusados nas hospedarias. Um menino, porém, é o seu pastor e nada lhes faltará. Há séculos eles se escondem em mistérios e estábulos onde pelos séculos repetem o instante do nascimento: a alegria dos homens.
Para não esquecer. Editora Ática, 1984. p. 23
23 de dez. de 2013
Caminho de Guimarães Rosa
Fiz o caminho. Sem tomar direção, sem saber do caminho.
Pé por pé, pé por si. Deixei que o caminho me escolha.
Na travessia, só silêncio. O nenhuns-nada.
O alegre, mesmo, era a gente viver devagarinho, miudinho,
não se importando demais com coisa nenhuma.
Nessa estrada, salvou-me a palavra.
22 de dez. de 2013
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