7 de set. de 2014

Bordelando :: Bordados















O Grupo Bordelando é formado por 50 mulheres com idade entre 30 e 80 anos, em sua maioria professoras que trabalharam algum tempo numa mesma escola ou fizeram outras atividades juntas ao longo destes 40 anos de convivência.

O início do grupo se deu em 2002 quando 17 mulheres aposentadas, em sua grande maioria, professoras do ensino de artes visuais, música e teatro sentiram a necessidade de produzir alguma coisa que sintetizasse a suas vivências de ensino de arte, fazeres artísticos, a amizade construída ao longo dos anos e que fosse prazerosa.

A idéia de cada uma bordar imagens isoladas e ajuntá-las numa colcha foi o passo inicial. O resultado visual foi tão bom que fizeram uma exposição no Espaço Cultural 508 Sul, Galeria Darlan Rosa, em julho de 2006. Durante esta exposição realizaram uma oficina de bordados que trouxe mais 20 pessoas, formando o Bordelando II. Hoje são quatro grupos.

Em maio de 2008 foi realizada a segunda exposição no Espaço Cultural 508 sul, Galeria Parangolé: Idas e Vindas.

Há um convênio com a ONG Aconchego, que trabalha com aconselhamento à adoção de crianças. Esta ONG recebe uma porcentagem do que se vende e o grupo confecciona colchas e almofadas para cada criança levar consigo como propriedade sua, quando é adotada.

Algumas oficinas de bordado com crianças foram realizadas fora de Brasília, com o objetivo de promover o gosto pelos fazeres artísticos, trabalho comunitário e atividade ocupacional. O Bordelando acontece também em Tipi – Município de Aurora no Cariri cearense e no Jardim do Ingá, Goiás.

A utilização dos materiais disponíveis, a ausência de uma técnica pré­-determinada para o feitio do bordado e a disposição para tornar aquele ato de encontro entre mulheres mais do que apenas uma forma de rebeldia ou submissão, transforma, também, a atitude desse grupo de amigas uma produção artística impar na atualidade. Trata-se de uma manifestação do coletivo no individual e do individual no coletivo, na produção de cada peça, em que todas devem sempre, obrigatoriamente, participar, impregnando o fazer artístico de sentimento e de vida.

fonte: http://bordelandobsb.blogspot.com.br/p/blog-page.html

Descobrimento ::: Mário de Andrade

Portinari 

Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves

De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.

Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.

Esse homem é brasileiro que nem eu.

fonte: Clã de jabuti 

6 de set. de 2014

PRESENTE :: Antonio Cicero

Vincent van Gogh, 1888

Por que não me deitar sobre este
gramado, se o consente o tempo,
e há um cheiro de flores e verde
e um céu azul por firmamento
e a brisa displicentemente
acaricia-me os cabelos?
E por que não, por um momento,
nem me lembrar que há sofrimento
de um lado e de outro e atrás e à frente
e, ouvindo os pássaros ao vento
sem mais nem menos, de repente,
antes que a idade breve leve
cabelos sonhos devaneios,
dar a mim mesmo este presente?

5 de set. de 2014

Phoebe Wahl












DO QUE QUER SER CONCEBIDO :: Adriano Nunes

Paradise - M.C. Escher, 1921
palavras são para isso,
sim, para inventar
o paraíso.
aprendi
assim
comigo.

prometi tudo
mesmo a mim,
mas menti.
palavras são para isso,
digo, para desafiar
o íntimo.

pronto.
admito:
palavras são para isso,
repito, para cantar
o infinito
do que quer ser concebido.

In: Laringes de grafite.  Vidráguas.

4 de set. de 2014

D. Esteves (Dennis Esteves )













A noite :: Sophia de Mello Breyner Andresen

Piroska Szanto, 1959

A noite abre os seus ângulos de lua
E em todas as paredes te procuro
 
A noite ergue as suas esquinas azuis
E em todas as esquinas te procura
 
A noite abre as suas praças solitárias
E em todas as solidões eu te procuro
 
Ao longo do rio a noite acende as suas luzes
Roxas verdes e azuis
Eu te procuro

In: Poemas escolhidos. Companhia das Letras.

3 de set. de 2014

Uma voz - Ferreira Gullar

 Georges Braque, 1953

Sua voz quando ela canta
me lembra um pássaro mas
não um pássaro cantando:
lembra um pássaro voando

A lua no cinema e outros poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

2 de set. de 2014

Eliza Piro ( Adelaide, Austrália)

















O POETA AO ESPELHO, BARBEANDO-SE :: José Paulo Paes

Paul Ward

o rito
do dia
o ríctus
do dia
o risco
do dia

EU?
UE?

olho
por olho
dente
por dente
ruga
por ruga

EU?
UE?

o fio
da barba
o fio
da navalha
a vida
por um fio

EU?
UE?

mas a barba
feita
a máscara
refeita
mais um dia
aceita

EU
EU

do livro: Poesia completa.  Companhia das Letras.

1 de set. de 2014

O vestido branco - Clarice Lispector

   James McNeill Whistler, 1864  

Acordei de madrugada desejando ter um vestido branco. E seria de gaze. Era um desejo intenso e lúcido. Acho que era a minha inocência que nunca parou. Alguns, bem sei, já até me disseram, me acham perigosa.. Mas também sou inocente. A vontade de me vestir de branco foi o que sempre me salvou. Sei, e talvez só eu e alguns saibam, que se tenho perigo tenho também uma pureza. E ela só é perigosa para quem tem perigo dentro de si. A pureza de que falo é límpida: até as coisas ruins a gente aceita. E tem um gosto de vestido branco de gaze. Talvez eu nunca venha a tê-lo, mas é como se tivesse, de tal modo se aprende a viver com o que tanto falta. Também quero um vestido preto porque me deixa mais clara e faz minha pureza sobressair. É mesmo pureza? O que é primitivo é pureza. O que é espontâneo é pureza. O que é ruim é pureza? Não sei, sei que às vezes a raiz do que é ruim é uma pureza que não pôde ser.
     Acordei de madrugada com tanta intensidade por um vestido branco  de gaze, que abri meu guarda-roupa. Tinha um branco, de pano grosso e decote arredondado. Grossura é pureza? Uma coisa sei: amor, por mais violento, é.
     E eis que de repente agora mesmo vi que não sou pura.
In: A descoberta do mundo. Nova Fronteira, 1984. p. 104.

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...