11 de ago. de 2015

Pintura Chinesa - 1633

Manual de Caligrafia e Pintura”, feito em 1633 pelo estúdio Ten Bamboo, em Nanquim, na China. 










fonte: http://cudl.lib.cam.ac.uk/view/PR-FH-00910-00083-00098/7

OS NOMES INÚTEIS :: MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA (Lisboa, 1959)

Mark Rothko 

Não  digas ao que vens. Deixa-me
adivinhar pelo pó nos teus cabelos
que vento te mandou. É longe a
tua casa? Dou-te a minha: leio nos

teus olhos o cansaço do dia que te
venceu; e, no teu rosto, as sombras
contam-me o rosto da viagem. Anda,

vem repousar os martírios da estrada
nas curvas do meu corpo — é um
destino sem dor e sem memória. Tens

sede? Sobra da tarde apenas uma
fatia de laranja — morde-a na minha
boca sem pedires. Não, não me digas
quem és nem ao que vens. Decido eu.

Nenhum Nome Depois.  Gótica, 2005.

10 de ago. de 2015

BAIRRO RECONQUISTADO :: Jorge Luis Borges

Maurice Brazil Prendergast
Ninguém viu a beleza das ruas
até que, pavoroso, num clamor,
se precipitou o céu esverdeado
num abatimento de água e de sombra.
A tempestade foi unânime
e malquisto aos olhares foi o mundo,
mas quando um arco abençoou
a tarde com as cores do seu perdão
e um cheiro a terra molhada
animou os jardins,
pusemo-nos a andar por entre as ruas
como por uma herdade recuperada,
e nos cristais houve generosidades de sol
e nas folhas luzentes
disse a sua trémula imortalidade o verão.

Milton Guran ( Rio de Janeiro, em 1948)
















9 de ago. de 2015

Acalanto :: Dorival Caymmi

É tão tarde
A manhã já vem,
Todos dormem
A noite também,
Só eu velo
Por você, meu bem
Dorme anjo
O boi pega Neném;
Lá no céu
Deixam de cantar,
Os anjinhos
Foram se deitar,
Mamãezinha
Precisa descansar
Dorme, anjo
Papai vai lhe ninar:
"Boi, boi, boi,
Boi da cara preta
Pega essa menina
Que tem medo de careta."

Snezana Susz












Pais e filhos















MEIA IDADE :: ROBERT LOWELL (1917-1977)

A monotonia do solstício de inverno
está agora em mim, Nova Iorque
atravessa-me os nervos,
enquanto percorro
as ruas maceradas.

Quarenta e cinco,
e a seguir?, e a seguir?
A cada esquina,
encontro meu Pai,
da minha idade, ainda vivo.

Pai, perdoa as
minhas ofensas,
como eu perdoo
aqueles que
tenho ofendido!

Nunca escalaste
o Monte Sião, porém deixaste
pegadas de dinossauro
na crosta
por onde devo caminhar.

............


MIDDLE AGE

Now the midwinter grind
is on me, New York
drills through my nerves,
as I walk
the chewed-up streets.

At forty-five,
what next, what next?
At every corner,
I meet my Father,
my age, still alive.

Father, forgive me
my injuries,
as I forgive
those I
have injured!

You never climbed
Mount Sion, yet left
dinosaur
death-steps on the crust,
where I must walk.

8 de ago. de 2015

CÚMULO DA CARÊNCIA É... :: Fabrício Carpinejar


— Mandar flores para si mesma.
— Perder-se nas Lojas Americanas para ser chamado no alto-falante.
— Estacionar na contramão.
— Trocar de roupa de janela aberta.
— Candidatar-se a reeleição de síndico.
— Procurar rever namorados ou namoradas do Ensino Fundamental.
— Colocar comentários falsos em seu próprio blog.
— Dormir com bonecos ou ursos de pelúcia gigantes.
— Chorar de repente em fila de banco e ainda pedir um copo d`água.
— Ir para emergência do Hospital em função de coriza.
— Apaixonar-se pelos amigos do vô ou da vó.
— Puxar assunto com todos que batem à sua porta, como Testemunhas de Jeová ou motoboy.
— Repartir seu combo de pipoca com o estranho no cinema.
— Pagar garota de programa para conversar.
— Comemorar cada divórcio dos amigos.
— Conferir suas mensagens a cada cinco minutos, e desligar o celular para ver se está funcionando.
— Ir numa cartomante perguntar sobre o passado.
— Ficar com ciúme dos terapeutas dos amigos.
— Tomar porre na festa da empresa e não lembrar de nada.

Milton Avery (1885 – 1965) Altmar, New York















Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...