8 de nov. de 2015

Seb Janiak - Fotografia - colagem digital












Eu e a Brisa :: composição de Johnny Alf

Mica Wright

Ah, se a juventude que esta brisa canta
Ficasse aqui comigo mais um pouco
Eu poderia esquecer a dor
De ser tão só pra ser um sonho
Daí então quem sabe alguém chegasse
Buscando um sonho em forma de desejo
Felicidade então pra nós seria
E, depois que a tarde nos trouxesse a lua
Se o amor chegasse eu não resistiria
E a madrugada acalentaria a nossa paz
Fica, ó brisa fica pois talvez quem sabe
O inesperado faça uma surpresa
E traga alguém que queira te escutar
E junto a mim queira ficar

7 de nov. de 2015

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor :: Eugénio de Andrade


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,

e o que nos ficou não chega

para afastar o frio de quatro paredes.

Gastámos tudo menos o silêncio.

Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,

gastámos as mãos à força de as apertarmos,

gastámos o relógio e as pedras das esquinas

em esperas inúteis.


Meto as mãos nas algibeiras e não encontro

nada.

Antigamente tínhamos tanto para dar um ao

outro;

era como se todas as coisas fossem minhas:

quanto mais te dava mais tinha para te dar.


Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes

verdes.

E eu acreditava,

porque ao teu lado

todas as coisas eram possíveis.


Mas isso era no tempo dos segredos,

era no tempo em que o teu corpo era um

Aquário,

era no tempo em que os meus olhos

eram realmente peixes verdes.

Hoje são apenas os meus olhos.

É pouco, mas é verdade,

uns olhos como todos os outros.


Já gastámos as palavras.

Quando agora digo: meu amor,

já não se passa absolutamente nada.

E no entanto, antes das palavras gastas,

tenho a certeza

de que todas as coisas estremeciam

só de murmurar o teu nome

no silêncio do meu coração.


Não temos já nada para dar.

Dentro de ti

não há nada que me peça água.

O passado é inútil como um trapo.

E já te disse: as palavras estão gastas.



Adeus.

Edição: Modo de Ler

BIOGRAFIA :: Cecília Meireles (07/11/1901 Rio de Janeiro 09/11/1964 )


Escreverás meu nome com todas as letras,
com todas as datas,
-- e não serei eu.
Repetirás o que ouviste,
o que leste de mim, e mostrarás meu retrato,
-- e nada disso serei eu.
Dirás coisas imaginárias,
invenções sutis, engenhosas teorias,
-- e continuarei ausente.
Somos uma difícil unidade,
de muitos instantes mínimos,
-- isso seria eu.
Mil fragmentos somos, em jogo misterioso,
aproximamo-nos e afastamo-nos, eternamente.
-- Como me poderão encontrar?
Novos e antigos todos os dias,
transparentes e opacos, segundo o giro da luz,
-- nós mesmos nos procuramos.
E por entre as circunstâncias fluímos,
leves e livres como a cascata pelas pedras.
-- Que mortal nos poderia prender?

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...