Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
24 de set. de 2017
23 de set. de 2017
22 de set. de 2017
PROGRAMA :: Rui Manuel Correia Knopfli
Paul Klee
Não faço o que quero
faço o que posso.
E o que posso passa
pelo passo da dificuldade.
Palavras tenho poucas,
duras, despidas estacas,
complicando a minha escolha.
Ermas e perfiladas
ergo-as ao sol na vertical
e são monótonas e dão sombra.
Com elas levanto quatro nuas
paredes, um tecto em forma
de prece. Dificilmente
construo uma casa fácil.
Fácil é fazer difícil,
difícil fazer o fácil.
De Mangas Verdes com Sal (1969)
21 de set. de 2017
Rick e a girafa :: Carlos Drummond de Andrade
Carolina Whitaker
Rick se preocupava com a escada que precisava galgar para alcançar o mundo dos sonhos. Nãoprecisava de escada. Ele já estava lá. No Jardim Zoológico, neste domingo azul, a girafa olha do
alto para as crianças, e parece convidá-las a um passeio no dorso. Há uma escada perto, e se
for encostada ao animal, Ricardo (Rick é o seu apelido) poderá chegar até lá.
O garoto mede a distância que vai do chão ao lombo, e julga-se em condições de vencê-la.
Uma vez lá em cima, cavalgando o pescoço, e segurando-lhe os chifres, pedirá à girafa, depois
de umas voltas pelo Jardim, que o leve por aí, percorrendo o mundo.
Presa há tanto tempo, a girafa há de estar ansiosa de liberdade. Não será difícil transpor a
cerca. Ela espera que Rick lhe proponha a aventura. Ninguém se atreveria a travar-lhe os
passos. E Rick vai dirigi-la nos rumos que aprendeu no atlas escolar.
O problema é descer de vez em quando, para Rick alimentar-se de biscoitos, fazer
necessidades e dormir. Camarada, a girafa irá se deitando aos poucos, primeiro dobrando
devagar as pernas, depois se inclinando lentamente para o lado, e afinal arriando com
suavidade a carga infantil.
Mas para subir outra vez, como se arranjaria ele? Escada não haverá. Mesmo deitada, a girafa
é difícil de subir. A imaginação não lhe fornece recurso plausível. O sonho frustou-se. Rick
levanta o braço direito e, com a mão espalmada em gesto de adeus à girafa que gentilmente o
convidara, esclarece:
— Muito obrigado! Fica para outra ocasião, quando eu crescer.
Àtica Editora, 2001
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