Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
3 de jun. de 2019
Narciso :: Antonio Cicero
31 de mai. de 2019
Não vás tão docilmente :: Dylan Thomas (tradução Augusto de Campos)
Não vás tão docilmente nessa noite linda;
Que a velhice arda e brade ao término do dia;
Clama, clama contra o apagar da luz que finda.
Embora o sábio entenda que a treva é bem-vinda
Quando a palavra já perdeu toda a magia,
Não vai tão docilmente nessa noite linda.
O justo, à última onda, ao entrever, ainda,
Seus débeis dons dançando ao verde da baía,
Clama, clama contra o apagar da luz que finda.
O louco que, a sorrir, sofreia o sol e brinda,
Sem saber que o feriu com a sua ousadia,
Não vai tão docilmente nessa noite linda.
O grave, quase cego, ao vislumbrar o fim da
Aurora astral que o seu olhar incendiaria,
Clama, clama contra o apagar da luz que finda.
Assim, meu pai, do alto que nos deslinda
Me abençoa ou maldiz. Rogo-te todavia:
Não vás tão docilmente nessa noite linda.
Clama, clama contra o apagar da luz que finda.
30 de mai. de 2019
27 de mai. de 2019
Dices que nada se pierde :: Antonio MACHADO
26 de mai. de 2019
Um jardim para Sylvia :: Ana Martins Marques
23 de mai. de 2019
ROUPAS :: Anne Sexton
Veste uma camisa limpa antes de morrer, dizem os russos.
Por favor, nada com baba, nódoas de ovo, sangue
suor, esperma.
Queres-me limpa, Deus,
por isso vou tentar obedecer.
O chapéu com que me casei,
servirá?
Branco, largo com um pequeno bouquet de flores falsas.
É antiquado, com tanto estilo como um percevejo,
mas fica bem morrer com algo nostálgico.
E vou levar
a minha bata de pintar
lavada vezes sem conta, claro
manchada com cada cozinha amarela que pintei.
Deus, não te importas que eu leve todas as minhas cozinhas?
Elas contêm o riso da família e a sopa.
Como soutien
(precisamos mesmo mencionar isso?)
o preto acolchoado que tanto irritava o meu amante
quando eu o despia.
Ele dizia: “para onde foi aquilo tudo?”
E levarei
a saia de grávida do meu nono mês
uma janela para a barriga do amor
que deixou cada bebê sair como uma maçã,
as águas a rebentar no restaurante.
Como roupa íntima escolherei algodão branco,
as calcinhas da minha infância,
pois era uma máxima da minha mãe
que as meninas boas apenas usavam algodão branco.
Seria perfeitamente agradável para mim
morrer como uma boa menina
cheirando a desinfetante.
Mas tendo dezesseis-anos-nas-calcinhas
morreria cheia de perguntas.
22 de mai. de 2019
A minha mãe é a minha filha:: VALTER HUGO MÃE |
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