Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
26 de jan. de 2021
25 de jan. de 2021
20 de jan. de 2021
Arthur Rimbaud: "Bonne pensée du matin" Bom augúrio matutino
Gustave Caillebotte
Verão, às quatro da madrugada
Sob os bosques dispersa a aurora
O odor da noite festejada.
Mas lá, em seus imensos canteiros
De obras, em mangas de camisa,
Ao sol das Hespérides, já se agitam
Os carpinteiros.
Em seus desertos de serragem,
Caros lambris preparam, lentos,
Em que a riqueza da cidade
Verá falsos firmamentos.
Ah! por esses belos Fabricantes,
Súditos de um rei da Babilônia,
Vênus! deixa um pouco os Amantes
Com as almas em coroa.
Rainha dos Pastores!
Dai-lhes o trago deste dia,
Para que em paz recobrem forças
À espera do banho de mar, ao mei: trad. de Ivo Barroso
Bonne pensée du matin
À quatre heures du matin, l'été,
Le sommeil d'amour dure encore.
Sous les bosquets, l'aube évapore
L'odeur du soir fêté.
Mais là-bas dans l'immense chantier
Vers le soleil des Hespérides,
En bras de chemise, les charpentiers
Déjà s'agitent.
Dans leur désert de mousse, tranquilles,
Ils préparent les lambris précieux
Où la richesse de la ville
Rira sous de faux cieux.
Ah ! pour ces Ouvriers charmants
Sujets d'un roi de Babylone,
Vénus ! laisse un peu les Amants
Dont l'âme est en couronne
Ô Reine des Bergers !
Porte aux travailleurs l'eau-de-vie.
Pour que leurs forces soient en paix
En attendant le bain dans la mer, à midi.
RIMBAUD, Arthur. "Bonne pensée du matin" / "Bom augúrio matutino". In:_____. Poesia completa. Edição bilingue. Trad. de Ivo Barroso. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995.
11 de jan. de 2021
"Nossa porção de noite" :: Emily Dickinson
Nossa porção de aurora —
Nossa ausência de amor —
Nossa ausência de agrura —
Uma estrela, outra estrela
Que se extravia!
Uma névoa, outra névoa,
Depois – o Dia!
.....................
Our share of night to bear –
Our share of morning –
Our blank in bliss to fill
Our blank in scorning –
Here a star, and there a star,
Some lose their way!
Here a mist, and there a mist,
Afterwards – day!
Para o Zé :: Adélia Prado
Eu te amo, homem, hoje como toda vida quis e não sabia, eu que já amava de extremoso amor o peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos de bordado, onde tem o desenho cômico de um peixe — os lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer te amo.
Teço as curvas, as mistas e as quebradas, industriosa como abelha, alegrinha como florinha amarela, desejando as finuras, violoncelo, violino, menestrel e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito pra escutar o que bate. Eu te amo, homem, amo o teu coração, o que é, a carne de que é feito, amo sua matéria, fauna e flora, seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas perdidas nas casas que habitamos, os fios de tua barba.
Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto:
"Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentas o teu gado, onde repousas ao meio-dia, para que eu não ande vagueando atrás dos rebanhos de teus companheiros".
Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.
Te alinho junto das coisas que falam uma coisa só: Deus é amor. Você me espicaça como o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece, tira de mim o ar desnudo, me faz bonita de olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega, me dá um filho, comida, enche minhas mãos.
Eu te amo, homem, exatamente como amo o que acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando os panos, se alargando aquecido, dando a volta ao mundo, estalando os dedos pra pessoa e bicho.
Amo até a barata, quando descubro que assim te amo, o que não queria dizer amo também, o piolho.
Assim, te amo do modo mais natural, vero-romântico, homem meu, particular homem universal.
Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.
Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos, a luz na cabeceira, o abajur de prata; como criada ama, vou te amar, o delicioso amor: com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso, me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles eu beijo.
8 de jan. de 2021
CAFÉ ORFEU :: Manuel António Pina
Nunca tinha caído
de tamanha altura em mim
antes de ter subido
às alturas do teu sorriso.
Regressava do teu sorriso
como de uma súbita ausência
ou como se tivesse lá ficado
e outro é que tivesse regressado.
Fora do teu sorriso
a minha vida parecia
a vida de outra pessoa
que fora de mim a vivia.
E a que eu regressava lentamente
como se antes do teu sorriso
alguém(eu provavelmente)
nunca tivesse existido.
4 de jan. de 2021
Sempre :: Noemi Jaffe
31 de dez. de 2020
28 de dez. de 2020
Para comer depois :: Adélia Prado
25 de dez. de 2020
Outro natal :: Adriano Nunes
.
24 de dez. de 2020
Glauco Mattoso, "Revisitado"
15 de dez. de 2020
Hélio Pellegrino, Carta a Fernando Sabino
10 de dez. de 2020
Precisa-se :: Clarice Lispector
fonte: A descoberta do mundo. Rocco, 1999.
Clarice Lispector:: pinturas
9 de dez. de 2020
Será que morrer é o último prazer terreno ?
Fonte: A descoberta do mundo. Rocco
8 de dez. de 2020
Lenilde Freitas :: Narciso
A flor narciso
tem seu mistério.
Depois que brota no topo da haste,
vive alguns dias e fenece.
Suas folhas curvas em dor
morrem também.
Como o bulbo vivo permanece,
levá-la ao escuro é o que convém,
deixar que o tempo passe.
Ao voltar à luz a flor renasce.
FREITAS, Lenilde. Esboço de Eva. São Paulo: Roswitha Kempf / Editores, 1987.
7 de dez. de 2020
Nonada de Guimarães Rosa
Rosa, João Guimarães: Grande Sertão: Veredas. 19ª edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 366
Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector
Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...
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Tem de haver mais Agora o verão se foi E poderia nunca ter vindo. No sol está quente. Mas tem de haver mais. Tudo aconteceu, Tu...
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A ilha da Madeira foi descoberta no séc. XV e julga-se que os bordados começaram desde logo a ser produzidos pel...