20 de out. de 2008

Poeminha do Contra



                                                             

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão. Eu passarinho!


Mario Quintana

21 de set. de 2008

Irmãos



Meu Irmão é Filho Único (Mio fratello è figlio unico)
O filme mostra as mudanças de postura, discussões e a inevitável separação dos irmãos por causa de seus rumos até, claro, o reencontro promovido pela sabedoria da idade. Com o tempo, eles percebem a verdadeira essência não apenas de suas diferenças, mas de suas semelhanças.

Coração


7 de set. de 2008

Verde coração




Saí de lá aos grandes cantos, 
tempo de  verde coração.

Guimarães Rosa  in Grande Sertão Veredas

23 de jul. de 2008

Inteiramente


Canova Antonio Amore e Psiche, 1788-1793
/
Tenho desejo, tenho saudade de você - mas tamanha - que não encontro paz (hoje particularmente!) e penso somente em você. Não vou à parte alguma, caminho de um canto a outro, olho no seu armário vazio, nada pode ser mais triste do que a vida sem você. Não me esqueça, por Deus, amo-a um milhão de vezes mais que todos os outros postos juntos. Não me interessa ver ninguém, não tenho vontade de falar com ninguém a não ser com você. O dia mais lindo da minha vida será o da sua chegada. Ame-me, menina. Não se descuide, descanse, escreva se necessita de alguma coisa. Beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a beijo-a, beijo-a. Não me esqueça, querida, inteiramente seu. 

Maiakovski

17 de jul. de 2008

Anjo - Madri




“ Os anjos não dão os ombros, não;
 quando querem mostrar indiferença
 os anjos dão as asas.”

 Mário Quintana, in Caderno H 

12 de jun. de 2008

A cançãozinha do primeiro desejo




Na manhã verde,
queria ser coração.
Coração.

E na tarde madura
queria ser rouxinol.
Rouxinol.

(Alma,
põe-te cor de laranja.
Alma,
põe-te da cor do amor.)

Na manhã viva,
eu queria ser eu.
Coração.


E na tarde caída
queria ser minha voz.
Rouxinol.

Alma,
põe-te cor de laranja!
Alma,
põe-te da cor do amor!

Garcia Lorca

11 de mai. de 2008

Palavra



Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho...São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas... E então as revolvo, agito-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as... Deixo-as como estalactites em meu poema como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda... Tudo está na palavra... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que lhe obedeceu... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que se lhes foi agregado de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes... São antiqüíssimas e recentíssimas. 
Pablo Neruda in Confesso que vivi

28 de abr. de 2008

Escolha


O mundo globalizado volta-se todo para o futuro. A vida imita a urgência das apostas antecipadas que cria as tais bolhas de não-riqueza do capital financeiro. A tecnologia aponta para a superação de todas as descobertas, que já nascem com os dias contados, fadadas à obsolescência. Chamamos de progresso a essa forma de vida breve das coisas, fruto do trabalho humano que envelhece tão rapidamente quanto elas. 

O presente é uma partícula mínima de tempo, cada vez mais comprimida entre o que já foi e o que será. A rigor, pensem bem: o presente não existe. O futuro é um lugar gelado onde não vive ninguém, de onde só nos acenam promessas de velocidade. A depender das tecnociências hoje, no futuro nos deslocaremos ainda mais depressa, nos comunicaremos mais depressa, ganharemos e perderemos dinheiro mais depressa – e tentaremos envelhecer mais devagar. 
O passado tornou-se o único terreno seguro onde a imaginação pode armar sua tenda e contemplar o mundo em relativa tranqüilidade. Na vida em retrospecto, todas as nossas escolhas teriam sido corretas. Teríamos sido abolicionistas no século XIX, modernistas nos anos 1920, resistentes antifascistas em 1930-40, opositores firmes contra as duas ditaduras brasileiras. O passado nos poupa da dimensão trágica da escolha. 
Mas é no presente que o corpo está vivo. No presente é que se jogam os lances de dados do destino. Ele é tudo o que temos – e nos escapa.

Maria Rita Kelh 

27 de abr. de 2008

Tempo da delicadeza


Todo o Sentimento

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.
Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.
Chico Buarque


21 de abr. de 2008

Outoniza-te de Carlos Drummond de Andrade




Sou tua árvore-de-guarda e simbolizo teu outono pessoal. Quero apenas que te outonize com paciência e doçura. O dardo de luz fere menos, a chuva dá às frutas seu definitivo sabor. As folhas caem, é certo, e os cabelos também, mas há alguma coisa de gracioso em tudo isso: parábolas, ritmos, tons suaves...
Outoniza-se com dignidade, meu velho.



Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...