14 de mar. de 2018

A Forma Justa :: Sophia de Mello Breyner Andresen

Sei que seria possível construir o mundo justo 
As cidades poderiam ser claras e lavadas 
Pelo canto dos espaços e das fontes 
O céu o mar e a terra estão prontos 
A saciar a nossa fome do terrestre 
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia 
Cada dia a cada um a liberdade e o reino 
— Na concha na flor no homem e no fruto 
Se nada adoecer a própria forma é justa 
E no todo se integra como palavra em verso 
Sei que seria possível construir a forma justa 
De uma cidade humana que fosse 
Fiel à perfeição do universo 

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco 
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo 

 in: O Nome das Coisas 

12 de mar. de 2018

O elo partido :: Otto Lara Resende

Subitamente, não sabia mais como se ata o nó da gravata. Era como se enfrentasse uma tarefa desconhecida, com que nunca tinha tido qualquer familiaridade. Recomeçou do princípio. Uma vez, outra vez — e nada. Suspirou com desânimo e olhou atento aquele pedaço de pano dependurado no seu pescoço. Vagarosamente, tentou dar a primeira volta — e de novo parou, o gesto sem seqüência. Viu-se no espelho, rugas e suor na testa: a mão esquerda era a direita, a mão direita era a esquerda.

— Vou descendo — anunciou a mulher, impaciente.

— Escuta — disse ele forçando o tom de brincadeira. — Como que se dá mesmo nó em gravata?

— Engraçadinho — e a mulher saiu sem olhá-lo.

Quanto tempo durou aquela hesitação? Essa coisa familiar, corriqueira, cotidiana — dar o nó na gravata. Uns poucos segundos, um minuto, dois minutos ou mais? O tempo da ansiedade, não o do relógio. Não fazia calor, e nas costas das suas mãos começou a porejar um suor incômodo. Assim como surgiu, na mesma vertigem, passou: logo suas mãos inconscientes se organizaram e, independentes, sem comando, ataram a gravata e o puseram em condições de, irrepreensivelmente vestido, sair de casa. Ia a um jantar.

Estimulado pelo uísque, desejoso de atrair a atenção dos circunstantes, ocorreu-lhe, no meio da conversa, contar o pequeno incidente pitoresco:

— Agora mesmo, em casa. Ao me vestir. Esqueci como ?que se dá o nó da gravata.

E antes que despertasse qualquer curiosidade, uma chave se torceu dentro dele. O fato insignificante deixou de ser engraçado. Uma aflição mordeu-o no íntimo. Como uma luz que se apaga. Uma advertência. Um sinal que anuncia, que espreita e ameaça.

— Essa é boa — curioso ou simplesmente gentil, um dos ouvintes procurou estimulá-lo.

Mas o ter esquecido como se dá o nó da gravata já não era apenas um incidente pitoresco. Disfarçou o próprio desconforto e, grave, interditado, sentiu a língua travada, como se esquecer como ?que se ata a gravata fosse logicamente sucedido da incapacidade de contar.

Apenas um lapso, que pode acontecer com qualquer um. Tolice sem importância. E nem se lembrou mais, até que dias depois, achando graça, a mulher tirou-o da dificuldade: atou por ele a gravata desfeita na sua mão. Uma terceira vez ocorreu dois dias depois. "Estou ficando gag?quot;, pensou, entre divertido e irritado. Retirou-se do espelho e procurou com calma recuperar a inocência perdida. Pois era como ter perdido a inocência, de súbito autoconsciente.

Mas logo esqueceu e saiu para a rua, como todo dia. Pegou o carro e, autômato, foi até o edifício do escritório. Estava na fila do elevador, quando deu acordo de si. Era o terceiro da fila. Bem disposto, recém-banhado, cheirando  à nova loção de barba, o estômago nutrido pelo recente café da manhã olhava com magnanimidade o dia que o esperava, o mundo em torno. Pulsava nas suas veias sãs uma suculenta harmonia. Presente tranqüilo, futuro próspero. Confiava em si, confiava na vida.

S?o elevador demorava mais do que de costume, pequeno borrão na manhã alegre e amiga. Não fazia sentido aquela demora que, de repente, perturbou-o como um cisco no olho. Agarrado ?pasta como se temesse perdê-la, verificou que o elevador continuava parado no sétimo andar, exatamente o do seu escritório. Queria não pensar em nada, apenas esperar como todo mundo, mas via com nitidez, como se estivesse de corpo presente no sétimo andar, um contínuo fardado a segurar a porta do elevador que se abria e se fechava por meio de uma célula fotoelétrica. Dois homens tentavam a custo enfiar dentro do carro uma mesa de escritório. Era a sua mesa, mas muito maior. Seus papéis pessoais, sua caneta, as gavetas devassadas.

Fechou os olhos, meio tonto, reabriu-os. A fila crescia, ninguém conhecido. Olhou a nuca do homem ?sua frente: toutiço sólido, de cinqüentão próspero. Jurava que agora o elevador vinha descendo. Quis certificar-se e deu com a luzinha sempre acesa no sétimo andar. Outra vez, como se a tudo assistisse, viu o contínuo segurando a porta do elevador e dois homens de macacão tentando irritadamente encaixar l?dentro a mesa enorme. Na fila, ninguém dava mostra de impaciência. A rua ao sol l?fora — gente e carros passando — movimentava-se como todo dia. Pouco adiante, matinal, recém-florido, aparecia um trecho do jardim.

Mas o elevador continuava parado no sétimo andar. Retirou o lenço do bolso e, a pasta debaixo do braço, enxugou a fronte e o pescoço. Vinha-lhe de longe um desconforto a princípio moral — como se tivesse cometido uma falta grave que ali mesmo ia ser descoberta. Depois um mal-estar físico, como se tivesse perdido a carteira, alguma coisa que o diminuísse, uma vez desaparecida. Olhou o relógio de pulso, procurou conformar-se, esquecer que esperava. H?quanto tempo esperava o elevador? No sétimo andar, a mesa, a sua mesa, era grande demais para passar pelas portas que o contínuo continuava a imobilizar.

Dentro dele, um desejo minucioso de examinar-se. Como costumava fazer quando ia viajar. Arrumar a mala sem esquecer nada, um lenço sequer. Começava pela cabeça: pente, escova, loção. O aparelho de barba. As gravatas, as camisas, as cuecas. Peça por peça, ia passando tudo em revista. Mas naquele momento era como se tivesse esquecido qualquer coisa que não identificava. Que o condenava aos olhos da fila cada vez mais numerosa.

Quando a revisão a que se submetia chegou aos pés, ocorreu-lhe que tinha se esquecido de calçar as meias. Tentou sorrir da dúvida disparatada. E queria lembrar-se, ter certeza das suas meias, do momento em que as calçara. Recompunha cada detalhe de tudo que tinha feito desde o momento em que acordara. A barba, o banho de chuveiro, todos os atos, que, automáticos, inauguravam um novo dia, um homem novo. Usava habitualmente s?meias cinzas, azuis e pretas.

De que cor eram, naquele momento, as suas meias? Um desejo ardente de esticar uma perna, depois a outra, arregaçar as calças e olhar, comprovar. Mas o medo irracional do ridículo, como se toda a fila acompanhasse a sua preocupação e esperasse apenas um gesto de sua parte para vai?lo. Sorriu sem sorrir, o sangue estremeceu pela altura do peito at?o pescoço. L?em cima, no sétimo andar, interminável, continuava a luta para meter a imensa mesa no elevador — e era como se estivesse presente, a tudo assistia.

A obsessão agarrou-o: de que cor eram as meias, de que cor? As suas meias, as que usava naquele exato momento. De que cor eram? Procurou se lembrar das circunstâncias com que em casa se vestiu, sua rotina, uma cadeia de gestos repetidos inconscientemente. Mas agora precisava lembrar-se: as meias? Tinha vontade de suspender a calça e olhar, mas se continha. Nada o denunciava, um cidadão como outro qualquer, um cavalheiro, impecável, ?espera do elevador, que todavia não se deslocava do sétimo andar — a luzinha continuava acesa. E ninguém, na fila aumentando, se impacientava. Como se s?a ele coubesse quebrar o silêncio. Todos o observavam.

At?que foi invadido pela certeza cruel de que usava meias vermelhas, um grito de sangue na sua indumentária azul. A gravata era azul, podia ver. A camisa era branca. O terno era azul. Mas as meias. As meias berrantemente vermelhas tornavam os seus pés alheios, episcopais. Estava de p?sobre pés estranhos, sapatos quem sabe de fivela e meias cardinalícias. Seriam rubras, eram, podiam ser?

Enxugou o suor no rosto, agarrou-se aflito ?pasta como se, para existir, para continuar na fila, precisasse dela. A fila silenciosa, irritantemente tranqüila, aguardava um sinal para protestar, começar o motim. A manh?perfeita, luminosa. L?fora, os carros e as pessoas passando. Mas as meias eram inabsorvíveis. Onde ?que fora arranjar aquele par de meias, santo Deus? Ocultas ainda sob as calças, ameaçavam vir a público, denunci?lo. Agora tinha definitivamente certeza: um escândalo, ridículo, um vermelho-vivo como o sangue fresco de um touro.

Súbito, como se tivesse estado distraído, ou dormindo, o elevador escancarou a porta no andar térreo. Sentiu-se paralisado, preso ao chão, incapaz de locomover-se como as pessoas ?sua frente, como os que se postavam às suas costas. Procurava, pasmo, os dois homens de macacão, o contínuo uniformizado — e a mesa, a sua mesa. Mas s?via o elevador, como sempre, como todos os dias. Foi preciso quase que o empurrassem, as grotescas meias vermelhas, para que ele, morto de vergonha, sem poder olhar os próprios pés, se animasse a entrar no elevador.

Saltou no sétimo andar e, por um triz, ia deixando cair a pasta. Trancou-se na sua sala. A mesa, devolvida às dimensões normais, continuava l? imóvel. Finalmente tomou coragem para verificar. Suspendeu as calças, fixou com espanto as próprias pernas: agora de novo as suas meias eram azuis. E os sapatos voltavam a ser os seus sapatos. Movia-se outra vez com os próprios pés. O telefone o chamava. Foi falar ao telefone. E o dia prosseguiu, na sua confortável rotina. Nem de longe podia pensar em contar para alguém. Não havia o que contar.

O tempo passou. Nada fora do comum aconteceu nas semanas seguintes. A não ser um pequeno desmaio da memória: esquecera o nome de um amigo de infância. Teimoso, idéia fixa, passou horas tentando lembrar. Não podia dormir sem que lhe viesse o nome que escapava. Uma falha na cadeia lógica e vulgar das lembranças que cercavam aquele antigo colega de ginásio. Puxando pela memória, reavivou pormenores h?muito sepultados pelo tempo. Mas o nome. O nome não lhe ocorria. Sob a língua. Ou na ponta da língua, mas inarticulado, desfeito. Como a gravata, trapo inútil incapaz de organizar-se no n? Tinha de esquecer que esquecera, para então recuperar, espontâneo, o que com esforço não conseguia arrancar de dentro de si mesmo. Tudo perfeito, alerta, mas um pequeno colapso insistente, inexplicável. Via a cara do companheiro, ouvia-lhe a voz, podia descrev?lo traço por traço. Mas o nome. O nome por atar. Dormiu frustrado, mais aborrecido do que seria natural diante de lapso tão inexpressivo.

— Gumercindo — no meio da noite acordou assustado e tinha na boca, de graça, atado, o nome que em vão perseguira antes de dormir.

Amnésias assim, sabia, acontecem a todo mundo. Não chegam a ser tema de conversa. Deu de ombros, não comentou nem com a mulher. Dois ou três dias depois, porém. Numa noite em que se recolheu mais cedo, morto de sono. Fisicamente exausto, atirou-se pesadamente ? cama e não conseguia deitar-se a cômodo, como toda noite.

— Como ?mesmo que eu durmo? — queria saber qual a posição que habitualmente tomava para dormir. A postura que usava no sono, insabida. Probleminha idiota, mas que o desorganizava mentalmente e súbito o lançava numa aflita perplexidade física. Deste lado: não era. Virou-se do outro lado: também não era. Estendeu-se de costas: as mãos sobravam, os braços não se incorporavam ?rotina. Como distribuir o corpo na cama? Cruzou os braços no peito e sentiu-se estranho, ridículo. Cruzou as mãos e pareceu sinistro, fúnebre. Era como se antecipasse o defunto que não queria ser. Angustiante idéia da morte.

At?que associou o mal-estar com a primeira vez que não soubera dar o n?na gravata. Alguma coisa de comum, um escondido traço unia um episódio ao outro. Nada de particularmente alarmante, s?uma ponta de grotesco. Vexame. Ajeitou o travesseiro, a cabeça alta demais. Afastou o travesseiro e enfiou a cara no colchão como se procurasse com alívio uma forma de sufocação. Insustentável, esticou as pernas e dividiu-se em dois. Recolheu as pernas, dobrou os joelhos, mas ainda assim não conseguiu retomar a naturalidade. Buscava um ponto de equilíbrio e não o achava. Seu corpo exigia um prumo inencontrável. De barriga para baixo, a cabeça sobrava, pesava, descomprometida. Não era assim. Nunca foi assim. E o tempo passava; o sono não vinha. Sentado na cama, passou a mão pelos cabelos ralos e procurou controlar-se. Que ?que estava acontecendo? Ansiedade sem sentido, tolice. Decidiu recomeçar do princípio e ainda sorriu do próprio embaraço. Tinha a sua graça. Um cidadão morto de sono esquecer como ?que costuma dormir. Virou a cabeça para a esquerda. Para a direita. Para a esquerda. Para a direita. A cabeça sobejava mesmo. Num princípio de tonteira, a cabeça cresceu de volume e desprendeu-se do corpo, que agora lhe parecia estranho, como se não fosse dele. Outra vez esticado, recolheu as pernas, dobrou os joelhos na altura da barriga. Enfiou as mãos entre os joelhos, enroscado em si mesmo, fetal. Suportou aquela disciplina por alguns minutos; resistindo ao desejo de se levantar, fugir da cama, do sono, de si mesmo. Vontade de esquecer-se, abandonar o próprio corpo, com que j?não se sentia solidário.

— Como ?mesmo que eu durmo? Como ?raios que eu sempre dormi em toda a minha vida? — e não se sentia anatomicamente confortável, como se tivesse perdido uma chave sem qualquer importância — at?perd?la.

Como todas as noites, serena, abandonada, sem arquitetura, a mulher dormia ao seu lado. Impensável acord?la para perguntar como ?que ele dormia. Ficaria uma fera com a brincadeira sem graça. Ou ia pensar que estava louco. P?ante p? levantou-se no escuro e foi at?a copa. Tudo rigorosamente normal. De p? seu corpo era do tamanho de sempre, articulado. Abriu a geladeira — a luz da geladeira rasgou um cone de claridade na copa — e bebeu sem sede um copo d'água. S?percebeu que estava descalço quando pisou nos ladrilhos do banheiro social. Sem acender a luz, o medo de não se ver no espelho. O medo de não se reconhecer arrepiou-o. Outra cara, infamiliar, ou quem sabe sem cara. Acendeu a luz: afinal era ele mesmo, banalmente. Com alívio, reapertou a calça frouxa do pijama. Saiu do toalete sem apagar a luz e, outra vez na copa, tomou um comprimido para dormir e, com a mão trêmula, levou um copo d'água para o quarto. A mulher dormia tranqüila. Todo mundo dormia. Devagarinho, sem alterar a respiração, meteu-se debaixo dos lençóis, de costas, os olhos fechados.

E começou a flutuar no espaço. Abria os olhos, continuava a boiar, mais baixo, mais baixo, at?chegar ao nível da cama. Fechava os olhos e o jogo recomeçava. Ora s?o corpo, girando circularmente, subindo, descendo. Ora o corpo e com o corpo a cama, rodando depressa, mais depressa. Abria os olhos, parava. Mudou de posição: de bruços, como no seu tempo de criança. A mãe lhe trazia o xarope no meio da noite e lhe recomendava que se deitasse de bruços, para vencer o acesso de tosse. Antigamente. Mas agora o sono não vinha. A ponta do sono, inagarrável. O sono desfeito como um novelo amontoado, sem começo nem fim. Sem n?

Pacientemente, deitou-se do lado direito. Depois do lado esquerdo. Não insistiu na postura: encolheu as pernas, esticou os braços. Um braço recolhido e o outro estendido ao longo do corpo. Não reencontrava a perdida intimidade consigo mesmo. Não sabia mais deitar-se e dormir. Ficou quieto, tentando esquecer, sem pensar. Deflagrada, a insônia recusava-se a apagar dentro dele a sua luz amarela. Desejo de absorver-se, reorganizar-se, pedaço por pedaço. Membro por membro. Reintegrar-se. Esquecer-se para dormir. Recostado contra o travesseiro, meio sentado, a noite tinha ancorado para sempre num porto de fadiga e torpor. Noite longa, lenta, oleosa, de silêncio e vácuo.

Um chinelo pendendo do p? Cochilou na cadeira de balanço, como um agonizante, afinal entregue, que sem convicção espera o amanhecer. Despertou com o corpo dolorido, os pés inchados — na árvore da rua a algazarra dos pardais despertos. O dia clareando, libertou-se da insônia e se meteu na cama at?a hora do costume.

Dia estafante, devolvido ?rotina como se nada demais tivesse acontecido. S??noite contou o caso, a insônia, para a mulher, que ouviu calada, irrelevante. Mas não contou o que agora lhe parecia absurdo: esquecer-se, como quem perde uma chave, de como deitar-se para dormir. Era um segredo e uma ameaça. E ?distância de algumas horas, remoto como uma experiência alheia.
Naquela mesma noite levou para o quarto e para a cama o temor de que tudo ia se repetir. Pegou um livro, mas não conseguia prestar atenção ?leitura. Ligou o rádio. Demorou-se no banheiro. Entrou e saiu do quarto, cortou aplicadamente as unhas dos pés. Ao espelho, observou as rugas nos cantos dos olhos, o cabelo ralo. Com uma pinça, tirou uns fios mais espessos das sobrancelhas. Espremeu os cravos do nariz e arrancou dois ou três cabelos encravados da barba. Queria afastar a lembrança da véspera. Distrair-se.

E dormiu naturalmente, como todo dia. O cotidiano refeito, as noites tranqüilas, repousantes. At?que uma semana depois:

— Esqueci como ?que eu durmo — disse ansioso ?mulher.

— Bobagem — ela resmungou, morta de sono.

— Minha posição na cama.

— Deita e dorme — disse a mulher imperativa, sem olh?lo.

Foi a primeira insônia completa de sua vida. Noite branca, hora a hora, minuto após minuto, segundo por segundo. Virava e revirava-se na cama, esbarrava no mesmo desconforto. A vida deixava de fluir. Uma parada, um branco, uma ausência. A falta de uma ponte. Um elo perdido. Levantava-se, procurava esquecer, desligar-se daquele segredo comprometedor. Ligar as duas pontas do que sempre fora ao que devia continuar sendo, sem interrupção. Fumou cigarro atrás de cigarro. Porque não queria fumar fumava mais. Andava pela casa. Olhava pela janela a rua — a calçada vazia, a árvore, as lâmpadas acesas. Pensou, lembrou, repensou, relembrou. Cruel, a noite vagarosa, a interminável noite ancorada. E a sua pequena desprotegida solidão, palpável, aborrecido plantão para nada. Estar s?e acordado o fazia mais s? mais acordado. Velava a si mesmo. Tentou dormir no sof?da sala, mas nem o sof?nem a cama acolhiam naturalmente o seu corpo, o seu sono. Dormir era perder a própria companhia.

O dia claro, alto sol, a casa restituída ?sua visão familiar, a cozinha e a copa recendendo ao caf?fresco, fez a barba, tomou banho e saiu. Foi trabalhar — a incomunicável insônia, de que ?luz do sol se envergonhava. Era inverossímil. E era preciso guardar o segredo. Como se escondesse um malfeito infantil, sua culpa.

— Que ?que h?com voc? — a mulher deu enfim sinal de perceber.

— Nada.

— Então dorme.

O horror de ir para a cama. E a impossibilidade de contar, partilhar sua vergonha. Ficou mais sozinho. J?não era igual a todo mundo. Tinha medo e orgulho — um homem diferente. Sua singularidade ameaçava, mas consolava também. Sentia-se mais próximo de si mesmo.

— Por que voc?não consulta um médico? — a mulher desconfiava.

Pequenos derrames imperceptíveis — leu numa revista vagas informações sobre problemas que os neurologistas estudam. Falhas de memória, hiatos convulsivos. Pensou em consultar mesmo um clínico: medir a pressão, o sangue. Mas não gostava de médico e confiava na saúde de ferro. Deixou de preocupar-se com o n?da gravata. Esqueceu a insônia. Ridículo contar a sério que, na hora de dormir, j?não sabia como se deitar. Não tinha importância.

Uma tarde, ao falar pelo telefone. Era com o sócio, com quem se dava bem, prosperavam. A princípio apenas um mal-estar indefinido. Depois não conseguia se lembrar da cara do sócio. A voz conhecida, a conversa nítida, o riso de sempre, os mesmos cacoetes — mas como era mesmo a sua fisionomia? Desligou o telefone e teve a impressão de que estava pálido. Apertou a cabeça entre as mãos. Fechou e abriu os olhos, pontinhos volantes. Como ?a cara dele? Transpirava como se estivesse numa sauna. E aquele vazio: a cara, como era a cara? A cara sonegada, escamoteada como num passe de mágica. Tudo o mais era como de costume, mas a penetrante sensação de aviso o ameaçava. Ansioso sinal, plano inclinado.

Trancou-se no banheiro e lavou várias vezes o rosto. Precisava refrescar-se, afogueado. Um frio fogo o queimava. No entanto, refletida no espelho, sua cara normal, at? favorecida. Menos rugas, as entradas da testa menos cavadas. Seu definido perfil: era ele mesmo, sem qualquer alteração. Como todo mundo, tinha uma fisionomia pessoal e intransferível. Mas o sócio — como era o sócio? Estúpido vazio. Sabia-se despojado de qualquer coisa essencial e, pela primeira vez, frágil, desprotegido contra o que podia acontecer, teve medo, tremeu de medo. Era um compromisso que não queria aceitar, mas de que não conseguia desvencilhar-se. Precisava apelar para alguém, pedir socorro. Recuar do abismo, mudar de rumo, rejeitar o que podia vir, o que sobrevinha, iminente, incontornável — e não tinha nome, nem configuração.

Desligado de tudo, sem interesse pelo trabalho, foi para casa mais cedo. A casa podia proteg?lo. Leu sem pressa o jornal e ligou a televisão. Era um homem normal, um homem como qualquer outro, mas, por trás dos seus gestos, de sua normalidade, um vazio o convocava. Telefonou para a casa do sócio, não o encontrou. Desejo de sair para a rua, ver gente, cada qual com seu perfil. Ver o sócio, recuper?lo — o que s?foi possível no dia seguinte, quando se avistaram no escritório.

— Nunca me viu? — por um momento o sócio pareceu estranhar a maneira como ele o fixava.

Queria e j?não podia contar. E não poder contar o isolava definitivamente, como se, a partir dali, tivesse mudado de lado, passado para a outra margem. Dava adeus ao que vinha sendo, a tudo que era — ao dia-a-dia, aos negócios, ao confortável cotidiano. Mas lutava. Para qualquer nova emergência, não seria apanhado desprevenido. Obsessivamente, arquivava, armazenava traço por traço do sócio, seu rosto de sempre, inesquecível, doravante inescamoteável.

Uma tarde muito quente, no escritório, o ar-condicionado ronronando, vinha da rua exaltado, feliz com o resultado de um negócio que h?semanas se arrastava, quando precisou telefonar para a mulher. Ao discar — lembrava-se do número, claro — deu por falta de alguma coisa. Um pássaro que de repente levanta vôo, uma paisagem que se oculta por trás de um obstáculo, um perfume que se esvai. Algo que se interrompe, curto-circuito na corrente elétrica. Uma ficha que desaparece. Ao alcance da mão, habitual, mecânico, um objeto que se subtrai — uma caneta, um par de óculos, uma anotação. Do outro lado da linha, na sua casa, o telefone chamava.

— Al?— disse ela.

Uma leve tonteira, como se levitasse, arrebatou-o. Perplexo, não aceitava o próprio silêncio e, para libertar-se, desligou. Sua mulher, não se lembrava da própria mulher. Seu nome, seu rosto — tudo permanecia a uma distância inatingível. L?longe existia, não mais ao seu alcance. Entre ele e o que naturalmente sabia, seu patrimônio, um elo partiu-se, treva opaca, ausência. Mecanicamente, tirou a gravata e de p? como num teste decisivo, refez o laço. Perfeito. Mas sua mulher. Às pressas, sem despedir-se, saiu imediatamente para casa.

— Chegou cedo — disse ela. — Alguma coisa?

— Dor de cabeça — ele disfarçou e, ao olh?la, se convenceu do absurdo que era ter esquecido. Sua mulher. Ali estava inteira, com seu rosto, seu nome.

Trancou-se no quarto, espichou-se de costas na cama e leu de cabo a rabo o jornal da tarde. Uma incômoda sonolência fechou-lhe os olhos. A noite caiu sem que percebesse. Acendeu a luz da cabeceira e retomou o jornal como se o lesse pela primeira vez. Voltou ? primeira página. Lia e relia o mesmo texto, palavra por palavra. Chegava ao fim e era como se não tivesse lido. Lia sem ler, desligado. Queria estranhar, alarmar-se, mas era como se tivesse sido sempre assim. E a certeza de que assim seria sempre, sem volta possível. Deixou cair o jornal no chão e, esticado na cama, sem qualquer protesto, acompanhava com os olhos uma pequena bruxa a cabecear tonta contra o teto.

— Que ?que voc?tem? — at?que enfim a mulher veio cham?lo.

— Nada — respondeu, e estava perfeitamente em paz, resignado.

Brancas paredes despojadas, largo silêncio sem ecos. Desprendera-se de tudo. A longa viagem ia começar, sem rumo, sem susto, para levar a lugar nenhum. Uma mulher acabou de entrar.

— Quem sou eu? — ele perguntou num último esforço. E, para sempre dócil, conquistado, nem ao menos quis saber seu nome.

fonte: Pompas do Mundo. Editora Rocco, 1975.

8 de mar. de 2018

Sentados no palácio duas figuras :: Djalal ad-Din Rumi


Sentados no palácio duas figuras,
são dois seres, uma alma, tu e eu.

Um canto radioso move os pássaros
quando entramos no jardim, tu e eu!

Os astros já não dançam e contemplam
a lua que formamos, tu e eu!

Entrelaçados no amor, sem tu nem eu,
livres de palavras vãs, tu e eu!

Bebem as aves do céu a água doce
de nosso amor, e rimos tu e eu!

Estranha maravilha estarmos juntos:
estou no Iraque e estás no Khorasan.


RUMI, Djalal ad-Din. Sentados no palácio duas figuras. Tradução de Marco Lucchesi. 
In: LUCCHESI, Marco. Poemas reunidos. Record, 2000.

4 de mar. de 2018

CONTRIBUTO PARA AS ESTATÍSTICAS :: Wislawa Szymborska

Em cem pessoas,
sabedoras de tudo melhor -
cinquenta e duas;
inseguras de cada passo -
quase todo o resto;
prontas para ajudar,
desde que não demore muito -
quarenta e nove;
sempre boas,
porque não conseguem de outra forma -
quatro, talvez cinco;
dispostas a admirar sem inveja -
dezoito;
constantemente receosas
de algo ou alguém -
setenta e sete;
aptas para a felicidade -
vinte e quatro, quando muito;
individualmente inofensivas,
em grupo ameaçadoras -
mais da metade, com certeza;
cruéis,
por força das circunstâncias -
é melhor não sabê-lo,
nem aproximadamente;
com trancas na porta depois da casa roubada-
quase tantas como
aquelas que as têm, antes da casa roubada;
não levando nada da vida a não ser coisas -
quarenta,
embora preferisse estar enganada;
agachadas, doloridas
e sem lanterna no escuro -
oitenta e três,
mais tarde ou mais cedo;
dignas de compaixão -
noventa e nove;
mortais -
cem em cem.
Número, até agora, não sujeito a alterações.

28 de fev. de 2018

Ilha:: Olinda Beja (Guadalupe, São Tomé e Príncipe,1946 )

  Ronnie Landfield 

Tenho uma ilha por dentro de mim
cheia de corais e praias sem fim
que chora e repete na longa distância
os dias e as horas que me deu na infância
tenho as canoas correndo na alma
e bebo em orgias vinho de palma
na roça à noite varrendo o terreiro
eu falo e discuto com piadô feiticeiro
santo é o seu nome e santa é a gente
que as ilhas povoam bendito o seu ventre
tenho uma ilha por dentro de mim
cheia de floresta de mato capim
que chora e repete no porto de abrigo
os dias e as horas que eu trouxe comigo

25 de fev. de 2018

É urgente o amor :: Eugénio de Andrade

É urgente o amor
É urgente um barco no mar
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

in "Até Amanhã"

20 de fev. de 2018

Flor-morcego – Tacca chantrieri






Nome Científico: Tacca chantrieri
Sinonímia: Clerodendrum esquirolii, Schizocapsa breviscapa, Schizocapsa itagakii, Tacca esquirolii, Tacca garrettii, Tacca macrantha, Tacca paxiana, Tacca roxburghii, Tacca vespertilio, Tacca minor, Tacca wilsonii
Nomes Populares: Flor-morcego, Planta-morcego, Orquídea-morcego, Flor-negra, Bigodes-de-gato
Família: Dioscoreaceae
Clima: Equatorial, Subtropical, Tropical
Origem: Ásia, China, Malásia, Oceania, Tailândia
Altura: 0.6 a 0.9 metros
Luminosidade: Luz Difusa, Meia Sombra, Sombra
Ciclo de Vida: Perene

A flor-morcego é uma planta tropical, herbácea, hermafrodita e acaule, conhecida por suas flores exóticas e ornamentais. Apesar de ser chamada também de “orquídea-morcego”, esta espécie exótica não tem parentesco com as orquídeas, na verdade ela pertence a família Dioscoreaceae, a mesma do inhame (Dioscorea sp). Apresenta raízes longas e tuberosas, folhas elípticas, de cor verde-oliva, brilhantes, glabras, com nervuras bem marcadas e sustentadas por longos pecíolos. Floresce na primavera e verão e suas inflorescências parecem pequenos morcegos, com duas brácteas de um tom marrom escuro, quase negras e longos “bigodes”. As flores verdadeiras são pequenas, pentâmeras e globulares. Os frutos que se seguem são cápsulas papiráceas que levam cerca de um ano para amadurecer.

No paisagismo a flor-morcego é ideal para áreas sombreadas em locais de clima quente e úmido. No entanto é bem mais valorizada quando cultivada em vasos e jardineiras, adornando varandas, salas de estar, escritórios, etc. Ela no entanto teme o ar seco e irá se ressentir em áreas com ar condicionado. Ainda assim é possível cultivá-la em locais de clima temperado, desde que possa ser levada para ambientes protegidos como dentro de casa ou estufas úmidas. As plantas sadias crescem produzindo novas mudas, já se as condições de cultivo não forem atendidas ela declina lentamente. Assim, seu cultivo é considerado difícil, não sendo indicada para jardineiros iniciantes.

Deve ser cultivada sob luz difusa ou sombra clara, em substrato humoso, leve, bem drenável e irrigado com frequência. Não tolera frio intenso ou estiagem. Replante a cada 2 ou 3 anos para renovar o vigor da planta. Multiplica-se por sementes e por separação das mudas formadas entorno da planta mãe. Plantas formadas a partir de sementes levam de 2 a 3 anos até iniciar o florescimento.

fonte: Jardineiro.net

Cada dia de João Cabral de Melo Neto


Porque é muito mais espessa
a vida que se desdobra
em mais vida,
como uma fruta
é mais espessa
que sua flor;
como a árvore
é mais espessa
que sua semente;
como a flor
é mais espessa
que sua árvore,
etc. etc.

Espesso,
porque é mais espessa
a vida que se luta
cada dia,
o dia que se adquire
cada dia
(como uma ave
que vai cada segundo
conquistando seu vôo).

 "O Cão sem Plumas" In Poesias Completas 

19 de fev. de 2018

SENNA MACRANTHERA : MANDUÍ, Canudo de pito arbóreo, Fava do mato, Fedegoso do mato, Mamangá, Manduirana, Pau-fava e Tararaçu.





FAMÍLIA DAS FABACEAS , SUB-ORDEM CAESALPINACEAE

 NOME INDIGENA: MANDUÍ vem do tupi guarani e significa “liquido verde” devido a polpa sucosa de cor verde que envolve as lojas internas onde ficam as sementes. Também recebe os nomes de: Canudo de pito arbóreo, Fava do mato, Fedegoso do mato, Mamangá, Manduirana, Pau-fava e Tararaçu.
 Origem: Planta de habito pioneiro, aparecendo nas formações primarias ou em bordas de mata na floresta semidecídua, sendo planta comum desde o estado do Ceará até o estado de São Paulo, Brasil.
Características: Arvore de porte médio, atingindo 5 a 7 m de altura com copa baixa e globosa, tem tronco cilíndrico de 20 a 30 cm de diâmetro com ritidoma ou casca com inúmeras e pequenas depleções (sentidas ao tatear) e levemente estriado (com rugas) quando a arvore é mais velha. A cor da casca é cinzento esverdeada e os ramos novos são glabros (sem pelos) e esverdeados. As folhas são alternas e espiraladas, compostas parimpinadas (como pena e aos pares) com 2 pares de folíolos opostos sob peciolo e raque central de 10 a 16 cm de comprimento com base não espessa. A lamina foliar é oblonga (mais longa que larga), lanceolada (como lança) com base assimétrica (desigual) e ápice agudo, medindo 5 a 8 cm de comprimento por 2 a 4 cm de largura. As flores nascem em panículas (tipo de cacho) no ápice dos ramos, são pedunculadas (sob haste ou suporte de 2 a 3,5 cm de comprimento). A flor tem 5 pétalas ovadas (forma de ovo) de 1,2 a 2,4 cm de comprimento, de coloração amarelo dourado com estames e estilete (órgãos reprodutivos) bem desenvolvidos. O fruto é uma vagem cilíndrica esverdeada mesmo quando madura, deiscente (que se abre numa lateral) medindo 15 a 35 cm de comprimento por 1 a 1,6 cm de diâmetro, com arilo esverdeados nas cavidades internas e cada uma com uma semente pequena achatada.

Dicas para cultivo: Planta rústica e de crescimento rápido, sendo resistente a geadas de 0 ou - 1 grau, vegeta bem em altitudes superiores de 200 a 800 m. Aprecia solos que podem ser profundos, bem drenados ou úmidos, cm pH neutro, com constituição arenosa ou argilosa (solo vermelho) e rico em matéria orgânica ou acido e pobre para a Senna rugosa. Pode ser cultivada com sucesso em solos pobres e na recuperação de áreas devastadas.

Mudas: As sementes são arredondadas, achatadas, brilhantes e tem cor de café com leite. Essas devem ser colhidas quando o fruto estiver se abrindo naturalmente, antes de os pássaros não devorarem o liquido esverdeado e derrubarem as sementes. Devem ser semeadas logo que colhidas, colocando 2 ou 3 sementes diretamente em embalagens individuais contendo substrato organo arenoso. As sementes germinam em 20 a 40 dias, e quando as plântulas estiverem com 10 cm de altura faz-se o desbaste deixando a planta mais vigorosa. As mudas atingem 40 cm com 5 a 7 meses após o plantio.

Plantando: Pode ser plantada a pleno sol como em bosques com arvores grandes bem espaçadas. O espaçamento para reflorestamentos é de 3 x 3 m e para pomar ou banco de presevação, é de 5 x5  metros. Adicione a cova 100g de calcário e 500g de cinzas e 4 a 6 pás de matéria orgânica na terra dos 20 cm iniciais da cova que deve ter 40 cm de altura, largura e profundidade. A melhor época de plantio é de setembro a dezembro. Após o plantio,irrigar a cada quinze dias nos primeiros 3 meses, depois somente se faltar água na época da florada.

Cultivando: Fazer apenas podas de formação da copa e eliminar os galhos que nascerem na base do tronco. Adubar com composto orgânico, pode ser 2 pás de cama de frango bem curtida + 30 gr de N-P-K 10-10-10 dobrando essa quantia a cada ano até o 2ª ano. A planta tem galhos frágeis e podem se lascar ou quebrar quando ocorrem vendavais.

Usos: Os frutos amadurecem em julho a agosto. Os frutos são deiscentes (se abrem quando maduros), e por isso, devem ser colhidos para consumo ainda verdes quando estiverem bem macios e com a polpa bem liquida. Os frutos podem ser consumidos dando um leve aperto a casca se rompe deixando sair uma polpa sucosa, verde de sabor que lembra uma limonada bem doce. A arvore pode ser cultivada por sua magnífica floração outonal e para atrair e fornecer alimento para os pássaros durante o inverno.

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...