Mais uma vez, nas suas hesitações confusas, o que a tranqüilizou foi o que tantas vezes lhe servia de sereno apoio: é que tudo o que existia, existia com uma precisão absoluta e no fundo o que ela terminasse por fazer ou não fazer não escaparia dessa precisão; aquilo que fosse do tamanho da cabeça de um alfinete, não transbordava nenhuma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete: tudo o que existia era de uma grande perfeição. Só que a maioria do que existia com tal perfeição era, tecnicamente, invisível: a verdade, clara e exata em si própria, já vinha vaga e quase insensível à mulher.
Bem, suspirou ela, se não vinha
clara, pelo menos sabia que havia um sentido secreto das coisas da vida. De tal
modo sabia que às vezes, embora confusa, terminava pressentindo a perfeição —
de novo esses pensamentos, que de algum modo usava como lembrete (de que, por
causa da perfeição que existia, ela terminaria acertando (...)
Clarice Lispector in Uma
aprendizagem Ou o livro dos prazeres
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