13 de jun. de 2017

Escadas :: Mario Quintana

Escadas de caracol

Sempre

São misteriosas: conturbam.

Quando as descem, a gente

Se desparafusa.

Quando a gente as sobe

Se parafusa

- o peito

estreito –

o teto descendo

Descendo descendo como nas histórias de imortal horror!


Mas de que jeito,

Mas como pode ser,

Morrer cair rolar por uma escada de parafuso?

Além disso não têm, pelo que dizem, nenhuma acústica...

Oh! não há como as escadarias daqueles antigos edifícios públicos

Para ser assassinado...

Porém não fiques tão eufórico,

- nem tudo são rosas:

Há,

no sonho das velhas casas de cômodos onde moras,

Passos que vêm subindo degrau por degrau em direção ao teu quarto

E “sabes” que é um fantasma chamejante e fosfóreo

- o corpo todo feito de inconsumíveis labaredas verdes!


O melhor

Mesmo

É fechar os olhos

E pensar numa outra coisa...

Pensa, pensa

- o quanto antes!

Naquelas pobres escadas de madeira das casas pobres

- escurinho dos teus primeiros aconchegos...

Pensa em cascatas de risos

Escada abaixo

De crianças deixando a escola...

Pensa na escada do poema

Que tu

comigo

vens descendo

agora...

(Hoje em dia todas as escadas são para descer)

Mas não! este poema não é

Nenhum

Abrigo

Antiaéreo...

Ah, tu querias que eu te embalasse?!

Eu estava, apenas, explorando uns abismos...


Apontamentos de História Sobrenatural, 2005.

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