7 de set. de 2023

A cada cem pessoas :: Wisława Szymborska

A cada cem pessoas:

sabem de tudo e muito melhor do que os outros:

– cinquenta e duas.

ficam inseguras a cada passo:

– quase todas as outras.

estão prontas a ajudar

desde é claro que isso não lhes tome muito tempo:

– quarenta e nove, o que já não é mau.

são sempre boas porque incapazes de ser de outro modo:

– quatro… vá lá, talvez cinco.

estão prontas a admirar sem inveja:

– dezoito.

são induzidas ao erro

por uma juventude que passa tão depressa:

– umas sessenta.

com quem não se pode brincar:

– quarenta e quatro.

vivem angustiadas em relação a alguém ou a qualquer coisa:

– setenta e sete.

são dotadíssimas para a felicidade:

– no máximo vinte e tal.

inofensivas quando sozinhas

mas selvagens quando em multidão:

– isso, o melhor é não tentar saber nem aproximadamente.

não pedem nada da vida exceto coisas:

– trinta, mas preferia estar enganada.

encurvadas, sofridas,

sem uma lanterna que lhes ilumine as trevas:

– cedo ou tarde, oitenta e três.

justas:

– pelo menos trinta e cinco, e lamba os beiços.

mas se a isso juntarmos o esforço de compreender:

– três.

dignas de compaixão:

– noventa e nove.

mortais:

– cem entre cem,

número que, até momento, não é possível alterar.

Wisława Szymborska, in Instante, Relógio D’Água, 2006, pp. 63-65.

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