A cada cem pessoas:
sabem de tudo e muito melhor do que os outros:
– cinquenta e duas.
ficam inseguras a cada passo:
– quase todas as outras.
estão prontas a ajudar
desde é claro que isso não lhes tome muito tempo:
– quarenta e nove, o que já não é mau.
são sempre boas porque incapazes de ser de outro modo:
– quatro… vá lá, talvez cinco.
estão prontas a admirar sem inveja:
– dezoito.
são induzidas ao erro
por uma juventude que passa tão depressa:
– umas sessenta.
com quem não se pode brincar:
– quarenta e quatro.
vivem angustiadas em relação a alguém ou a qualquer coisa:
– setenta e sete.
são dotadíssimas para a felicidade:
– no máximo vinte e tal.
inofensivas quando sozinhas
mas selvagens quando em multidão:
– isso, o melhor é não tentar saber nem aproximadamente.
não pedem nada da vida exceto coisas:
– trinta, mas preferia estar enganada.
encurvadas, sofridas,
sem uma lanterna que lhes ilumine as trevas:
– cedo ou tarde, oitenta e três.
justas:
– pelo menos trinta e cinco, e lamba os beiços.
mas se a isso juntarmos o esforço de compreender:
– três.
dignas de compaixão:
– noventa e nove.
mortais:
– cem entre cem,
número que, até momento, não é possível alterar.
Wisława Szymborska, in Instante, Relógio D’Água, 2006, pp. 63-65.
Nenhum comentário:
Postar um comentário