26 de abr. de 2012

Todo o Leitor é Leitor de si Mesmo- de Marcel Proust

imagem: Elizabeth Peyton
Na realidade, todo leitor é, quando lê, o leitor de si mesmo. A obra não passa de uma espécie de instrumento óptico oferecido ao leitor a fim de lhe ser possível discernir o que, sem ela, não teria certamente visto em si mesmo.
Marcel Proust, in "O Tempo Redescoberto"

25 de abr. de 2012

Da pequena parte de perfeição


Amor e Psique de Antonio Canova (1757 — 1822)

“Já amei mulheres de feições diversas,
Por suas mais diversas qualidades,
Mas nunca assim, com toda a minha alma,
Pois sempre alguma sombra de defeito
Pairava sobre a graça mais perfeita
E desfazia o meu encantamento.
Mas você é tão bela e tão perfeita,
Parece feita da pequena parte
De perfeição que há em cada criatura.”
Shakespeare “A Tempestade”, tradução de Geraldo Carneiro

Erva-doce




O funcho, também conhecido por anis-doce, erva-doce, maratro ou finóquio, ou fiuncho, é o nome vernáculo dado à espécie herbácea Foeniculum vulgare Mill. (sinónimo taxonómico de Anethum foeniculum L. e deFoeniculum officinale L.) uma umbelífera fortemente aromática comestível utilizada em culinária, em perfumaria e como aromatizante no fabrico de bebidas espirituosas e planta medicinal. O funcho é nativo da bacia do Mediterrâneo, com variedades na Macaronésia e no Médio Oriente, onde ocorre no estado silvestre, mas é hoje cultivado, sob diversas formas varietais, em todas as regiões temperadas e subtropicais. 
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Funcho

24 de abr. de 2012

Presença de Mário Quintana

Wyeth
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.

Fotografia: Diego González Ragel [España, 1893-1951].








Sobre: Diego González Ragel [España, 1893-1951]. Las aficiones de Diego González Ragel pronto le condujeron hasta un variado grupo de artistas, intelectuales, deportistas y aristócratas de la época que iría fotografiando a lo largo de toda su vida. Paralelamente se especializó en el fotorreportaje, cuya dificultad técnica y modernidad pronto le lanzaron a la fama. Colaboró con revistas y publicaciones de gran prestigio, como Blanco y Negro o The Illustrated London News. Destacan también varias series de retratos, como los de la familia Sorolla o los del guitarrista Andrés Segovia. Junto a otros colegas, fundó la Unión de Reporteros Gráficos de Guerra y en 1941 fue nombrado fotógrafo oficial del Banco de España, actividad que combinaba con sus colaboraciones en el diario ABC y con trabajos más personales: retratos de familia, vistas de Madrid y reportajes de carreras y cacerías.

23 de abr. de 2012

Treze


Ler ou Copiar um Texto de Walter Benjamin

Marjan Khosravi, artista iraniana

O efeito de uma estrada campestre não é o mesmo quando se caminha por ela ou quando a sobrevoamos de avião. De igual modo, o efeito de um texto não é o mesmo quando ele é lido ou copiado. O passageiro do avião vê apenas como a estrada abre caminho pela paisagem, como ela se desenrola de acordo com o padrão do terreno adjacente. Somente aquele que percorre a estrada a pé se dá conta dos efeitos que ela produz e de como daquela mesma paisagem, que aos olhos de quem a sobrevoa não passa de um terreno indiferenciado, afloram distâncias, belvederes, clareiras, perspectivas a cada nova curva [...]. Apenas o texto copiado produz esse poderoso efeito na alma daquele que dele se ocupa, ao passo que o mero leitor jamais descobre os novos aspectos do seu ser profundo que são abertos pelo texto como uma estrada talhada na sua floresta interior, sempre a fechar-se atrás de si. Pois o leitor segue os movimentos de sua mente no vôo livre do devaneio, ao passo que o copiador os submete ao seu comando. A prática chinesa de copiar livros era assim uma incomparável garantia de cultura literária, e a arte de fazer transcrições, uma chave para os enigmas da China.

Walter Benjamin, in 'Rua de Sentido Único'

21 de abr. de 2012

Desenho de Mário de Andrade


Poty - Capa do livro Ave,  palavra de Guimarães Rosa 

O que me agrada principalmente, na tão complexa natureza do desenho, é o seu caráter infinitamente sutil, de ser ao mesmo tempo uma transitoriedade e uma sabedoria. O desenho fala, chega mesmo a ser muito mais uma espécie de escritura, uma caligrafia, que uma arte plástica.

20 de abr. de 2012

Pedra de crochê !






Todo Sentimento de Chico Buarque



Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.
Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.


19 de abr. de 2012

Amor de Índio - Beto Guedes e Ronaldo Bastos

Marc Chagall - Sonho 

Tudo o que move é sagrado
E remove as montanhas
Com todo cuidado, meu amor
Enquanto a chama arder
Todo dia te ver passar
Tudo viver a teu lado
Com o arco da promessa
Do azul pintado pra durar
(...)

18 de abr. de 2012

O cheiro da madeira de Marcello Mastroianni


Nas férias escolares, entre uma figuração e outra, eu passava quase todos os verões na oficina de meu pai e de meu avô - uma oficininha numa garagem pequena, com duas bancadas de carpintaria, porque os dois eram carpinteiros.
Meu pai ia embora na hora do almoço. Aí meu avô, homem de poucas palavras, dizia-me: " Varra as aparas de madeira e a serragem. As lixas, guarde-as ali. Depois, se tiver tempo, afie as ferramentas". Eu perguntava: "Mas quando é que vou comer ?"
No fundo, isso não me desagradava, porque eu admirava o trabalho daqueles dois homens, que, entre outras coisas, viviam discutindo. Meu pai dizia: "Já faz um dia que está trabalhando nessa cadeira de cozinha ! Quanto é que vai poder cobrar daquela mulher ?" E meu avô: "É minha obrigação consertá-la". Já naquele tempo, havia conflito de gerações.
Eu ficava um pouco envergonhado. Ali pelos quinze, dezesseis anos, comecei a olhar para as meninas. De vez em quando, meu avô me dizia: "Pegue a bolsa de ferramentas. Vamos consertar uma porta que não fecha mais". Na casa a que devíamos ir, talvez morasse uma garota em quem eu estivesse interessado, e chegar com aquela sacola de ferramentas seria ... Sinceramente, eu tinha vergonha.
Mas as lembranças daqueles anos são muito bonitas. O cheiro da madeira, por exemplo. Quem não o conhece não pode imaginar quanto é bom. O cheiro de madeira misturado ao suor de meu pai e de meu avô, aos impropérios, às cuspidas de vovô, que fumava cachimbo. Acho que aprendi muita coisa com aquelas experiências - certa percepção das coisas simples, certa humildade.
in: Mastroianni, Marcello. Eu me lembro, sim, eu me lembro. DBA, 1999. p. 95.

17 de abr. de 2012

Leveza de Cecília Meireles

imagem de Henriette Browne

Leve é o pássaro:
e a sua sombra voante,
mais leve.

E a cascata aérea
de sua garganta,
mais leve.

E o que se lembra, ouvindo-se
deslizar seu canto,
mais leve.

E o desejo rápido
desse mais antigo instante,
mais leve.

E a fuga invisível
do amargo passante,
mais leve.

16 de abr. de 2012

Pierre Verger - Fotografia

foto de Pierre Verger 

Intimidade, por Luiz Fernando Verissimo



Os dois na cama.

— Bem...

— Mmm?

— Posso te fazer uma pergunta?

— Se você pode me fazer uma pergunta? 40 anos de casados e você precisa de permissão para me fazer uma pergunta?

— É uma coisa que me intriga há 40 anos...

— O que?

— A sua calcinha pendurada no box do chuveiro...

— Sim?

— Está ali para secar ou para molhar mais?

— Como é?!

— A sua calcinha pendurada no...

— Eu ouvi a pergunta. Só não estou acreditando. Há 40 anos você vive com essa dúvida? O que a calcinha dela está fazendo no box do banheiro?

— É. Ela foi lavada e está secando, ou está ali para receber mais água?

— E por que você levou 40 anos para me fazer essa pergunta?

— Sei lá. Eu...

— Você achou que nós não tínhamos intimidade o bastante para tratar do assunto, é isto?. Que eram necessários 40 anos de vida em comum para podermos discutir a minha calcinha pendurada no box sem constrangimentos. É isto? Você sabe tudo ao meu respeito. Sabe toda a minha vida, conhece cada estria e sinal do meu corpo, sabe do que eu gosto e não gosto, em quem eu voto, sabe as minhas manias e os meus ruídos, mas estava faltando este detalhe. Este ponto cego no nosso relacionamento. O que a minha calcinha faz pendurada no box do banheiro.

— Não, eu queria perguntar há tempo, mas...

— Já sei. Você achou que fosse uma coisa só de mulher, que homem jamais entenderia. As calcinhas penduradas no chuveiro seriam uma espécie de demarcação de território, um ritual de congregação tribal. Um mistério que une todas as mulheres do mundo e um terreno em que homem só entra com o risco de enlouquecer. Por isso demorou tanto para fazer a pergunta.

— Nada disso. Eu só...

— Francamente.

Ele já estava quase dormindo quando se deu conta. Ela não respondera a pergunta.

Bob Carey e o Projeto Tutu: fotos malucas de si mesmo para beneficiar pacientes de câncer de mama







http://www.thetutuproject.com/

15 de abr. de 2012

Encadeamento


“Foi um dia memorável, pois operou grandes mudanças em mim. Mas isso se dá com qualquer vida. Imagine um dia especial na sua vida e pense como teria sido seu percurso sem ele. Faça uma pausa, você que está lendo, e pense na grande corrente de ferro, de ouro, de espinhos ou flores que jamais o teria prendido não fosse o encadeamento do primeiro elo em um dia memorável.”
Charles Dickens, In: Grandes esperanças

14 de abr. de 2012

O Que é Escrever? Agustina Bessa-Luís

Ama-se a palavra, usa-se a escrita, despertam-se as coisas do silêncio em que foram criadas.
Depois de tudo, escrever é um pouco corrigir a fortuna, que é cega, com um júbilo da Natureza, que é precavida.
in "Contemplação Carinhosa da Angústia"

Fractais







Fractais (do latim fractus, fração, quebrado) são figuras da geometria não-Euclidiana. 
A geometria fractal é o ramo da matemática que estuda as propriedades e comportamento dos fractais. Descreve muitas situações que não podem ser explicadas facilmente pela geometria clássica, e foram aplicadas em ciência, tecnologia e arte gerada por computador. As raízes conceituais dos fractais remontam a tentativas de medir o tamanho de objetos para os quais as definições tradicionais baseadas na geometria euclidiana falham.

Um fractal é um objeto geométrico que pode ser dividido em partes, cada uma das quais semelhante ao objeto original. Diz-se que os fractais têm infinitos detalhes, são geralmenteautossimilares e independem de escala. Em muitos casos um fractal pode ser gerado por um padrão repetido, tipicamente um processo recorrente ou iterativo.

O termo foi criado em 1975 por Benoît Mandelbrot, matemático francês nascido na Polónia, que descobriu a geometria fractal na década de 70 do século XX, a partir do adjetivo latino fractus, doverbo frangere, que significa quebrar. Os Fractais são normalmente gerados através de computadores com softwares específicos. Através de seu estudo podemos descrever muitos objetos extremamente irregulares do mundo real.

fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fractal

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...