Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
20 de dez. de 2012
19 de dez. de 2012
Pão é amor entre estranhos de Clarice Lispector
Era reunião de colheita, e fez-se trégua. Comíamos. Como uma horda de seres vivos, cobríamos gradualmente a terra. Ocupados como quem lavra a existência, e planta, e colhe, e mata, e vive, e morre, e come. Comi com a honestidade de quem não engana o que come: comi aquela comida e não o seu nome. Nunca Deus foi tão tomado pelo que Ele é. A comida dizia rude, feliz, austera: come, come e reparte. Aquilo tudo me pertencia, aquela era a mesa de meu pai. Comi sem ternura, comi sem a paixão da piedade. E sem me oferecer à esperança. Comi sem saudade nenhuma. E eu bem valia aquela comida. Porque nem sempre posso ser a guarda de meu irmão, e não posso mais ser a minha guarda, ah não me quero mais. E não quero formar a vida porque a existência já existe. Existe como um chão onde nós todos avançamos. Sem uma palavra de amor. Sem uma palavra. Mas teu prazer entende o meu. Nós somos fortes e nós comemos. Pão é amor entre estranhos.
in: “Felicidade Clandestina”. Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998
18 de dez. de 2012
Lembranças legítimas de Maria Rita Kehl
As saudades do que eu queria ter feito e não fiz se constróem de trás prá frente. É depois, só depois, que você se dá conta de que prestou atenção ao que acontecia à sua direita e não percebeu algo muito mais interessante que se passava à esquerda. Ou vice-versa. Claro, existem também as escolhas. Nesse caso penso que se eu quisesse mesmo, mesmo, fazer x em vez de y, teria feito. Essa coleção de vacilos escreve uma história. No horizonte virtual das possibilidades que foram deixadas prá traz deve haver um duplo meu, vivendo a vida que foi dos outros.
17 de dez. de 2012
Marianne North, naturalista (Hastings, 1830 - Gloucestershire, 1890)
Marianne North nasceu em Hastings e era a filha mais velha de Janet e Frederick North. Estudou técnicas vocais com Charlotte Helen Sainton-Dolby, mas suas habilidades não eram adequadas e ela desistiu, se dedicando então à pintura. Após a morte de sua mãe, em 1855, viajava com seu pai, que era então membro do parlamento de Hastings, e com sua morte em 1869, Marianne decidiu prosseguir a sua ambição inicial de pintar a flora de países distantes.
Começou suas viagens em 1871-1872, indo primeiro ao Canadá, Estados Unidos e Jamaica. Residiu durante um ano no Brasil, onde realizava seu trabalho em uma cabana no interior de uma floresta. Em 1875, depois de alguns meses em Tenerife, ela começou uma viagem ao redor do mundo, e por dois anos pintou a flora da Califórnia, Japão, Bornéu, Java e Ceilão. Passou o ano de 1878 na Índia.
Em seu retorno à Grã-Bretanha, exibiu uma série de desenhos em Londres e ofereceu a coleção ao Royal Botanic Gardens em Kew e também recursos para construir uma galeria para abrigá-los. A oferta foi aceita e a construção dos novos edifícios projetados por James Fergusson foram iniciados naquele ano.[1]
Por sugestão de Charles Darwin, Marianne rumou para a Oceania em 1880, e por um ano retratou imagens na Austrália e na Nova Zelândia. Suas pinturas de Banksia attenuata, B. grandis e B. robur foram prontamente consideradas.Sua galeria em Kew foi inaugurada em 1882. Em 1883, depois de uma visita à África do Sul, uma sala adicional foi aberta na galeria. Em 1884-1885 trabalhou em Seychelles e no Chile. Morreu em Gloucestershire em 30 de agosto de 1890.
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Marianne_North
A verdade de José de Almada Negreiros
Eu tinha chegado tarde à escola. O mestre quis, por força, saber porquê. E eu tive que dizer: Mestre! quando saí de casa tomei um carro para vir mais depressa, mas, por infelicidade, diante do carro caiu um cavalo com um ataque que durou muito tempo. O mestre zangou-se comigo: Não minta! diga a verdade! E eu tive de dizer: Mestre! quando saí de casa... minha mãe tinha um irmão no estrangeiro e, por infelicidade, morreu ontem de repente e nós ficámos de luto carregado. O mestre ainda se zangou mais comigo: Não minta! diga a verdade !!
E eu tive de dizer: Mestre! quando saí de casa... estava a pensar no irmão de minha mãe que está no estrangeiro há tantos anos, sem escrever. Ora isto ainda é pior do que se ele tivesse morrido de repente porque nós não sabemos se estamos de luto carregado ou não.Então o mestre perdeu a cabeça comigo: Não minta, ouviu? diga a verdade, já lho disse!
Fiquei muito tempo calado. De repente, não sei o que me passou pela cabeça que acreditei que o mestre queria efectivamente que lhe dissesse a verdade. E, criança como eu era, pus todo o peso do corpo em cima das pontas dos pés, e com o coração à solta confessei a verdade:Mestre! antes de chegar à Escola há uma casa que vende bonecas. Na montra estava uma boneca vestida de cor-de-rosa! Mestre! a boneca estava vestida de cor-de-rosa! A boneca tinha a pele de cera. Como as meninas! A boneca tinha tranças caídas. Como as meninas! A boneca tinha os dedos finos. Como as meninas! Mestre! A boneca tinha os dedos finos...
16 de dez. de 2012
Anúncio de Casa de Fernando Sabino
Por poder de sugestão, entenda-se aquele misterioso dom que certas casas têm de sugerir a vida dos que já moraram nela. Não pelas manchas e estragos que lhe deixaram antigos moradores, mas exatamente pelas marcas invisíveis que suas paredes recolheram e o tempo fixou.
Essas marcas devem nascer do soalho sob as passadas do morador, correr ao longo das tábuas do teto aos olhos insones que nele se distraem, participar dos próprios ruídos que ajudam a adormecer: o da água caindo na caixa, os talidos de madeira no escuro, o rincho de uma porta ou dos degraus da escada; devem efluir dos trincos e maçanetas, da sombra na parede, terror de uma infância, do vento que infla a cortina. Devem, enfim, impregnar cada canto da casa, estas marcas de tradição que ela carrega em seu bojo como uma carga de navio, a que vai se juntar a do novo morador, dando-lhe novo espírito, e finalmente a absorve”
in No fim dá certo, Record, 2007, pg. 134)
15 de dez. de 2012
14 de dez. de 2012
Assinar:
Postagens (Atom)
Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector
Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...

-
Tem de haver mais Agora o verão se foi E poderia nunca ter vindo. No sol está quente. Mas tem de haver mais. Tudo aconteceu, Tu...
-
A ilha da Madeira foi descoberta no séc. XV e julga-se que os bordados começaram desde logo a ser produzidos pel...