24 de abr. de 2013

Peter Newell (1862 - 1924) ilustrador






Quando sua mulher explica o óbvio de Fabrício Carpinejar


O amor ensina o óbvio. O ridículo.
Só sua mulher pode ensinar aquilo que deveria ter aprendido antes e que tem vergonha de confessar que ainda não sabe. Pode ser qualquer atividade banal, usar o abridor de latas ou andar de bicicleta, amarrar cadarços ou soltar pandorga, fazer pipoca na panela ou embaralhar cartas, criar fogo entre duas pedras ou ligar a máquina de lavar.
O amor é uma segunda infância, a repescagem das descobertas

23 de abr. de 2013

Verena Matzen ( 1965, Buenos Aires, Argentina )


 











O ameaçado de Jorge Luis Borges

Leon Ferrari

É o amor. Terei de me esconder ou fugir.
Crescem as paredes de seu cárcere,
como em um sonho atroz.

A bela máscara mudou,
mas como sempre é a única.
De que me servirão meus talismãs:
o exercício das letras, a vaga erudição,
o aprendizado das palavras que usou
o vago norte para cantar seus mares e suas espadas,
a serena amizade, as galerias da biblioteca,
as coisas comuns, os hábitos,
o jovem amor de minha mãe,
a sombra militar de meus mortos,
a noite intemporal, o gosto do sonho?

Estar ou não é a medida do meu tempo.
O cântaro já se quebra sobre a fonte,
já se levanta o homem à voz da ave,
já escureceram os que olham pelas janelas,
mas a sombra não trouxe a paz.

É, eu sei, é o amor:
a ansiedade e o alívio de ouvir tua voz,
espera e a memória, o horror de viver o sucessivo.
É o amor com suas mitologias,
com suas pequenas magias inúteis.
Há uma esquina pela qual não me atrevo a passar.
Agora os exércitos me cercam, as hordas.
(este quarto é irreal; ela não o viu.)

O nome de uma mulher me delata.
Dói-me uma mulher por todo o corpo.

             ******************

Es el amor. Tendré que cultarme o que huir.
Crecen los muros de su cárcel, como en un sueño atroz.
La hermosa máscara ha cambiado, pero como siempre es la única.
¿De qué me servirán mis talismanes: el ejercicio de las letras,
la vaga erudición, el aprendizaje de las palabras que usó el áspero Norte para cantar sus mares y sus espadas,
la serena amistad, las galerías de la biblioteca, las cosas comunes,
los hábitos, el joven amor de mi madre, la sombra militar de mis muertos, la noche intemporal, el sabor del sueño?
Estar contigo o no estar contigo es la medida de mi tiempo.
Ya el cántaro se quiebra sobre la fuente, ya el hombre se
levanta a la voz del ave, ya se han oscurecido los que miran por las ventanas, pero la sombra no ha traído la paz.
Es, ya lo sé, el amor: la ansiedad y el alivio de oír tu voz, la espera y la memoria, el horror de vivir en lo sucesivo.
Es el amor con sus mitologías, con sus pequeñas magias inútiles.
Hay una esquina por la que no me atrevo a pasar.
Ya los ejércitos me cercan, las hordas.
(Esta habitación es irreal; ella no la ha visto.)
El nombre de una mujer me delata.
Me duele una mujer en todo el cuerpo.

SIMONE GRECCO artista plástica pela Belas Artes de São Paulo




















22 de abr. de 2013

Atravesso o bosque de Carlos Saraiva Pinto


Lincoln Koga 
atravesso o bosque
de castanheiros
pisando o manto das folhas
levadas pelo vento
no princípio do outono.

fecho a cancela de madeira do jardim
e lavo o rosto para entrar em casa.

esta noite
dormirei à luz das velas
se for preciso.


Elliott Erwitt (Paris, 1928) fotógrafo franco-estadunidense














21 de abr. de 2013

Corações emaranhados








  • Nome Científico: Ceropegia woodii
  • Sinonímia: Ceropegia linearis subsp. linearis, Ceropegia linearis subsp. woodii, Ceropegia barbertonensis, Ceropegia euryacme, Ceropegia schoenlandii
  • Nome Popular: Corações-emaranhados
  • Família: Asclepiadaceae
  • Divisão: Angiospermae
  • Origem: África do Sul, Zimbábue, Suazilândia
  • Ciclo de Vida: Perene
É uma trepadeira pendente e muito delicada, de caule longo e arroxeado que pode alcançar de 2 a 4 metros de comprimento. Apresenta folhas suculentas, opostas, em formato de coração, de coloração verde-musgo, com um marmorizado prateado na página superior e arroxeadas na inferior. A floração é distribuída durante os meses quentes e as flores são em forma de um pequeno vaso, com corola rosada, e pétalas roxo-púrpura. Os frutos são pequenas vagens, com sementes achatadas, que caem facilmente quando maduras.
Os corações emaranhados podem ser utilizados na decoração  de ambientes internos ou em varandas. Ganham destaque especial se cultivados em grupos de cinco ou mais mudas, em vasos ou cestas suspensas, assim como jardineiras e floreiras colocadas em locais altos. Por não tolerar o sol quente do meio-dia, deve ser protegida neste horário. Se a planta estiver ao ar livre, pode atrair beija-flores. A manutenção desta suculenta se limita às regas e adubações mensais na primavera e verão.
Deve ser cultivada sob meia sombra ou luz difusa (sombra), em substrato leve, drenável, enriquecido com matéria orgânica e irrigado a intervalos regulares. Não tolera o encharcamento, mas é capaz de passar por um período seco. As regas devem ser reduzidas no inverno, pois a planta entra em dormência. Aprecia o calor. Multiplica-se por estaquia, por mergulhia dos pequenos tubérculos produzidos na base das folhas e por sementes.

Abraço de Livia Garcia Roza


Stasia Burrington


Certas frases são como ganhar um abraço.

Janela de Adélia Prado


Janela, palavra linda.
Janela é o bater das asas da borboleta amarela.
Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa pintada,
janela jeca, de azul.
Eu pulo você pra dentro e pra fora, monto a cavalo em você,
meu pé esbarra no chão.
Janela sobre o mundo aberta, por onde vi
o casamento da Anita esperando neném, a mãe
do Pedro Cisterna urinando na chuva, por onde vi
meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai:
minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis.
Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,
clarabóia na minha alma,
olho no meu coração.

20 de abr. de 2013

O vinho dos amantes de Charles Baudelaire

Bouguereau

Hoje o espaço é esplêndido!
Sem freio, sem esporas, sem brida,
Partamos a cavalo no vinho
Para um céu feérico e divino!

Como dois anjos atormentados
Por calentura implacável,
No azul cristal da manhã
Sigamos a miragem distante!

Suavemente balouçados sobre a asa
Do turbilhão inteligente,
Em um delírio paralelo,

Minha irmã, nadando lado a lado,
Fugiremos sem descanso nem tréguas
Para o paraíso dos meus sonhos!

Os paraísos artificiais. trad. José Saramago.Livros B. Estampa, 1978.

19 de abr. de 2013

A despropósito de Adélia Prado



Olhou para o teto, a telha parecia um quadrado de doce.
Ah! - falou sem se dar conta que descobria, durando desde
a infância, aquela hora do dia, mais um galo cantando,
um corte de trator, as três camadas de terra, 
a ocre, a marrom, a arroxeada. Um pasto,
não tinha certeza se uma vaca
e o sarilho da cisterna desembestado, a lata
batendo no fundo com estrondo.
Quando insistiram, vem jantar, que esfria,
ele foi e disse antes de comer:
`Qualidade de telha é essas de antigamente`.

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...