Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
24 de abr. de 2013
Quando sua mulher explica o óbvio de Fabrício Carpinejar
O amor ensina o óbvio. O ridículo.
Só sua mulher pode ensinar aquilo que deveria ter aprendido antes e que tem vergonha de confessar que ainda não sabe. Pode ser qualquer atividade banal, usar o abridor de latas ou andar de bicicleta, amarrar cadarços ou soltar pandorga, fazer pipoca na panela ou embaralhar cartas, criar fogo entre duas pedras ou ligar a máquina de lavar.
O amor é uma segunda infância, a repescagem das descobertas
23 de abr. de 2013
O ameaçado de Jorge Luis Borges
Crescem as paredes de seu cárcere,
como em um sonho atroz.
A bela máscara mudou,
mas como sempre é a única.
De que me servirão meus talismãs:
o exercício das letras, a vaga erudição,
o aprendizado das palavras que usou
o vago norte para cantar seus mares e suas espadas,
a serena amizade, as galerias da biblioteca,
as coisas comuns, os hábitos,
o jovem amor de minha mãe,
a sombra militar de meus mortos,
a noite intemporal, o gosto do sonho?
Estar ou não é a medida do meu tempo.
O cântaro já se quebra sobre a fonte,
já se levanta o homem à voz da ave,
já escureceram os que olham pelas janelas,
mas a sombra não trouxe a paz.
É, eu sei, é o amor:
a ansiedade e o alívio de ouvir tua voz,
espera e a memória, o horror de viver o sucessivo.
É o amor com suas mitologias,
com suas pequenas magias inúteis.
Há uma esquina pela qual não me atrevo a passar.
Agora os exércitos me cercam, as hordas.
(este quarto é irreal; ela não o viu.)
O nome de uma mulher me delata.
Dói-me uma mulher por todo o corpo.
******************
Crecen los muros de su cárcel, como en un sueño atroz.
La hermosa máscara ha cambiado, pero como siempre es la única.
¿De qué me servirán mis talismanes: el ejercicio de las letras,
la vaga erudición, el aprendizaje de las palabras que usó el áspero Norte para cantar sus mares y sus espadas,
la serena amistad, las galerías de la biblioteca, las cosas comunes,
los hábitos, el joven amor de mi madre, la sombra militar de mis muertos, la noche intemporal, el sabor del sueño?
Estar contigo o no estar contigo es la medida de mi tiempo.
Ya el cántaro se quiebra sobre la fuente, ya el hombre se
levanta a la voz del ave, ya se han oscurecido los que miran por las ventanas, pero la sombra no ha traído la paz.
Es, ya lo sé, el amor: la ansiedad y el alivio de oír tu voz, la espera y la memoria, el horror de vivir en lo sucesivo.
Es el amor con sus mitologías, con sus pequeñas magias inútiles.
Hay una esquina por la que no me atrevo a pasar.
Ya los ejércitos me cercan, las hordas.
(Esta habitación es irreal; ella no la ha visto.)
El nombre de una mujer me delata.
Me duele una mujer en todo el cuerpo.
22 de abr. de 2013
Atravesso o bosque de Carlos Saraiva Pinto
Lincoln Koga
atravesso o bosque
de castanheiros
pisando o manto das folhas
levadas pelo vento
no princípio do outono.
fecho a cancela de madeira do jardim
e lavo o rosto para entrar em casa.
esta noite
dormirei à luz das velas
se for preciso.
21 de abr. de 2013
Corações emaranhados
- Nome Científico: Ceropegia woodii
- Sinonímia: Ceropegia linearis subsp. linearis, Ceropegia linearis subsp. woodii, Ceropegia barbertonensis, Ceropegia euryacme, Ceropegia schoenlandii
- Nome Popular: Corações-emaranhados
- Família: Asclepiadaceae
- Divisão: Angiospermae
- Origem: África do Sul, Zimbábue, Suazilândia
- Ciclo de Vida: Perene
Deve ser cultivada sob meia sombra ou luz difusa (sombra), em substrato leve, drenável, enriquecido com matéria orgânica e irrigado a intervalos regulares. Não tolera o encharcamento, mas é capaz de passar por um período seco. As regas devem ser reduzidas no inverno, pois a planta entra em dormência. Aprecia o calor. Multiplica-se por estaquia, por mergulhia dos pequenos tubérculos produzidos na base das folhas e por sementes.
Janela de Adélia Prado
Janela, palavra linda.
Janela é o bater das asas da borboleta amarela.
Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa pintada,
janela jeca, de azul.
Eu pulo você pra dentro e pra fora, monto a cavalo em você,
meu pé esbarra no chão.
Janela sobre o mundo aberta, por onde vi
o casamento da Anita esperando neném, a mãe
do Pedro Cisterna urinando na chuva, por onde vi
meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai:
minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis.
Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,
clarabóia na minha alma,
olho no meu coração.
20 de abr. de 2013
O vinho dos amantes de Charles Baudelaire
Sem freio, sem esporas, sem brida,
Partamos a cavalo no vinho
Para um céu feérico e divino!
Como dois anjos atormentados
Por calentura implacável,
No azul cristal da manhã
Sigamos a miragem distante!
Suavemente balouçados sobre a asa
Do turbilhão inteligente,
Em um delírio paralelo,
Minha irmã, nadando lado a lado,
Fugiremos sem descanso nem tréguas
Para o paraíso dos meus sonhos!
Os paraísos artificiais. trad. José Saramago.Livros B. Estampa, 1978.
19 de abr. de 2013
A despropósito de Adélia Prado
Olhou para o teto, a telha parecia um quadrado de doce.
Ah! - falou sem se dar conta que descobria, durando desde
a infância, aquela hora do dia, mais um galo cantando,
um corte de trator, as três camadas de terra,
a ocre, a marrom, a arroxeada. Um pasto,
não tinha certeza se uma vaca
e o sarilho da cisterna desembestado, a lata
batendo no fundo com estrondo.
Quando insistiram, vem jantar, que esfria,
ele foi e disse antes de comer:
`Qualidade de telha é essas de antigamente`.
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