Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
6 de mai. de 2015
Dois Sonhos : Carlos Drummond de Andrade
Eugene Delacroix, 1830
O gato dorme a tarde inteira no jardim.
Sonha (?) tigres enviesados a chamá-lo
para a fraternidade no jardim.
Gato sonhando, talvez sonho de homem?
Continua dormindo, enquanto ignoro
a natureza e o limite do seu sonho
e por minha vez
também me sonho (inveja) gato no jardim
5 de mai. de 2015
o que eu queria dizer quando disse língua franca :: Laura Erber
cresceram em cidades distantes
o menor ainda se lembra
da lista de coisas proibidas (tv, espionagem,
camundongos)
e da letra semi-legível
e da língua de um verão tardio
que só entre eles
fazia cócegas
hoje aos 70
saberá fazer aquele gesto?
é careca?
gosta das mesmas estações?
poucas palavras?
silêncio que não é mudez?
vive?
talvez saiba discorrer sobre os sonhos de consumo da família Hayashi
talvez saiba discorrer sobre os seus próprios sonhos de consumo não consumados
sobre nossos pesadelos de consumo consumados
sobre a teoria dos signos-lutadores-de-sumô
de toda uma geração
quando trocamos mensagens sobre o assunto
você se lembrou de paralisias fulminantes
que afetam
regiões do cérebro
deixando outras
incrivelmente
fortalecidas
“talvez ele discorde da teoria de 1 milhão de idiotas
mas com certeza aprendeu alguma coisa sobre fidelidade fraternal”
não é a mise-en-scène
não é um olhar sobre a fantasia
do pequeno mundo da casa de papel
japonesa
a vida é mais
e bem menos
concreta
do que o clímax final
no jardim da mansão dos filhos do Xogum
4 de mai. de 2015
O FAZEDOR DE LUZES :: Mia Couto
Estou deitada, baixo do céu estreloso, lembrando meu pai. Nesse há muito tempo, nós nos dedicávamos, à noite, a apanhar frescos. O céu era uma ardósia riscada por súbitos morcegos, desses caçadores de perfumes.
– Pai, eu quero ter uma estrela!
– Estrela, não: é muito custosa de criar.
Eu insistia. Queria possuir estrela como as outras meninas tinham brinquedos, bonecos, cachorros. Aqui, no rés da terra, eu não podia ter nada. Ao menos, lá no infirmamento, se autenticassem minhas posses.
– Mas, pai: o senhor diz que faz criação de estrelas.
– Fazia, tive que entregar todas. Eram dívidas, paguei com estrelas.
– Eu sei que sobrou uma.
Meu pai não respondia nem sim nem talvez. Era um homem vagaroso e vago, sabedor de coisas sem teor. Dedicava-se a serviços anónimos, propício a nenhum esforço. Dizia:
– Sou como o peixe, ninguém me viu transpirar.
E me alertava: veja o musgo, que é o modo do muro ser planta. Quem o rega, quem o aduba? Nada, ninguém. Há coisas que só paradas é que crescem.
– É, minha filha: aprenda com o mineral. Ninguém sabe tanto e tão antigo como a pedra.
Cuidava-me sozinha, órfã eu, viúvo ele. Ou seria ele o órfão, sofrendo do mesmo meu parentesco, o falecimento de minha mãe? Preguntas dessas são incorrigíveis: quem sabe é quem nunca responde. Na realidade, meu nascimento foi um luto para meu pai: minha mãe trocou de existir em meu parto. Me embrulharam em capulana com os sangues todos misturados, o meu novinho em gota e o dela já em cascata para o abismo. Esse sangue transmexido foi a causa, dizem, de meu pai nunca mais compridar olho em outra mulher. Em minha toda vida, eu conheci só aquela exclusiva mão dele, docemente áspera como a pedra. Aquele côncavo de sua mão era minha gruta, meu reconchego. E mais um agasalho: as estranhas falas com que ele me enevoava o adormecer.
– Você escuta os outros se lamentarem de seu pai.
– Não escuto, não – menti.
– Dizem eu não faço nada na vida, não faço nem ideia.
E prosseguia, se perdoando:
– Mas eu, minha filha, eu existo mas não sei onde. Nessa bruma que fica lá, depois do estrangeiro, nessa bruma é que você me vai encontrar a mim, exacto e autêntico. Lá fica minha residência, lá eu sou grande, lá sou senhor, até posso nascer-me as vezes que quiser. Eu não tenho um aqui.
– Não diga assim, pai.
– Havia de ver, minha filha, lá eu não sou como neste lado: não cedo conversa a um qualquer. Pois, nesse outro mundo, filhinha, eu tenho o mais requerido dos serviços: sou fabricador de estrelas. Sim, faço estrelas por encomenda.
– Verdade, pai?
– Verdade, filha. Pergunte a Deus, sou até fornecedor do Paraíso.
Voltávamos ao quintal, deitávamos a assistir ao céu. Eu já adivinhava, meu velho não suportava silêncio. E, num gesto amplo, ele cobria o inteiro presépio do horizonte:
– Tudo isso fui eu que criei.
Eu estremecia, gostosa de me sentir pequenina, junta a esse deus tão caseiro. E lá, pai, eles nos vêem a nós? Nada, filha, não nos vêem. A luz daqui está suja, os homens poeiraram isto tudo.
– Mas ela nos vê, lá nessa estrela onde foi?
O pai não respondia. Ele que tinha palavra para tudo, tropeçava sempre no mesmo silêncio. Minha mãe: dela não se mencionava nunca nada. Ela não era nem criatura, nem coisa, nem causa. Nem sequer ausência. E não sendo nem sujeito nem passado, ela escapava a ser lembrada. Meu velho fugia a sete corações do assunto da saudade. Como daquela vez que a mão, veloz, enxugou o rosto.
– Você nunca olhe o céu enquanto estiver chorando. Promete?
– Então, me dê uma estrela, pai.
– Nada, as estrelas não podem ser dadas. Nunca veja a noite por través das lágrimas – insistiu ele, sério.
Depois, quando se ergueu lhe veio uma tontura, sua mão procurou apoio no meio de dançarinas visões. Eu o amparei, raiz segurando a última árvore.
– Está doente, pai?
– Qual doente?! É a terra que não gosta que eu saia de cima dela. A terra é uma mulher muito ciumenta.
E outras vezes ele voltou a tontear. Até que uma noite, após estranho silêncio, ele me disse, esquivo, quase tímido:
– Vá lá. Escolha uma...
– Posso, pai?
E fingi apontar uma estrela, entre os mil cristais do céu. Ele fez conta que anotava o preciso lugar, marcando no quadro negro o astro que eu apontara. Me ajeitou a mão na minha fronte e me puxou para seu peito. Senti o bater do seu coração:
– Escolheu bem, filha.
E explicou: aquela que eu indicara seria a luz onde ele iria morrer. Ninguém lembra o escuro onde nasceu. Todos viemos de fonte obscura. Por isso, ele preferia a claridade dessa estrela ao escuro de um qualquer cemitério. Então, por primeira vez, meu pai fez referência àquela que me anteriorou.
– É nessa estrela que ela está.
Agora, deitada de novo nas traseiras da casa, eu volto a olhar essa estrela onde meu pai habita. Lá onde ele se inventa de estar com sua amada. E em meus olhos deixo aguar uma tristeza. A lágrima transgride a ordem paterna. Nesse desfoco, a estrela se converte em barco e o céu se desdobra em mar. Me chega a voz de meu pai me ordenando que seque os olhos. Tarde de mais. Já a água é todas as águas e eu me vou deitando na capulana onde as primeiras mãos me seguraram a existência.
Mia Couto, Na berma de nenhuma estrada e outros contos, Lisboa, Caminho, 2001.
Da vista e do visto ::Eucanaã Ferraz
horas se escrevem hoje com o lápis de sempre,
ultramar e um tanto adolescente; não o levaste,
maio, mês do meu aniversário, quando a melancolia
é menos nítida que a linha dos morros e dos edifícios;
vento sol amendoeiras, é como te digo, não levaste
maio e mesmo os meus olhos estão aqui, comigo, algo,
porém, sei que se foi contigo; que coisa era, não sei,
e, ainda que pequena, faz falta, era minha; coincidência
ou não, procuro e não encontro a minha antiga alegria.
Sentimental: poemas. Companhia das Letras, 2012.
3 de mai. de 2015
2 de mai. de 2015
Tarde de Maio :: Carlos Drummond de Andrade
Como esses primitivos que carregam por toda parte o
maxilar inferior de seus mortos,
assim te levo comigo, tarde de maio,
quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra,
outra chama, não perceptível, tão mais devastadora,
surdamente lavrava sob meus traços cômicos,
e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantes
e condenadas, no solo ardente, porções de minh’alma
nunca antes nem nunca mais aferidas em sua nobreza
sem fruto.
Mas os primitivos imploram à relíquia saúde e chuva,
colheita, fim do inimigo, não sei que portentos.
Eu nada te peço a ti, tarde de maio,
senão que continues, no tempo e fora dele, irreversível,
sinal de derrota que se vai consumindo a ponto de
converter-se em sinal de beleza no rosto de alguém
que, precisamente, volve o rosto e passa…
Outono é a estação em que ocorrem tais crises,
e em maio, tantas vezes, morremos.
Para renascer, eu sei, numa fictícia primavera,
já então espectrais sob o aveludado da casca,
trazendo na sombra a aderência das resinas fúnebres
com que nos ungiram, e nas vestes a poeira do carro
fúnebre, tarde de maio, em que desaparecemos,
sem que ninguém, o amor inclusive, pusesse reparo.
E os que o vissem não saberiam dizer: se era um préstito
lutuoso, arrastado, poeirento, ou um desfile carnavalesco.
Nem houve testemunha.
Nunca há testemunhas. Há desatentos. Curiosos, muitos.
Quem reconhece o drama, quando se precipita, sem máscara?
Se morro de amor, todos o ignoram
e negam. O próprio amor se desconhece e maltrata.
O próprio amor se esconde, ao jeito dos bichos caçados;
não está certo de ser amor, há tanto lavou a memória
das impurezas de barro e folha em que repousava. E resta,
perdida no ar, por que melhor se conserve,
uma particular tristeza, a imprimir seu selo nas nuvens.
maxilar inferior de seus mortos,
assim te levo comigo, tarde de maio,
quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra,
outra chama, não perceptível, tão mais devastadora,
surdamente lavrava sob meus traços cômicos,
e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantes
e condenadas, no solo ardente, porções de minh’alma
nunca antes nem nunca mais aferidas em sua nobreza
sem fruto.
Mas os primitivos imploram à relíquia saúde e chuva,
colheita, fim do inimigo, não sei que portentos.
Eu nada te peço a ti, tarde de maio,
senão que continues, no tempo e fora dele, irreversível,
sinal de derrota que se vai consumindo a ponto de
converter-se em sinal de beleza no rosto de alguém
que, precisamente, volve o rosto e passa…
Outono é a estação em que ocorrem tais crises,
e em maio, tantas vezes, morremos.
Para renascer, eu sei, numa fictícia primavera,
já então espectrais sob o aveludado da casca,
trazendo na sombra a aderência das resinas fúnebres
com que nos ungiram, e nas vestes a poeira do carro
fúnebre, tarde de maio, em que desaparecemos,
sem que ninguém, o amor inclusive, pusesse reparo.
E os que o vissem não saberiam dizer: se era um préstito
lutuoso, arrastado, poeirento, ou um desfile carnavalesco.
Nem houve testemunha.
Nunca há testemunhas. Há desatentos. Curiosos, muitos.
Quem reconhece o drama, quando se precipita, sem máscara?
Se morro de amor, todos o ignoram
e negam. O próprio amor se desconhece e maltrata.
O próprio amor se esconde, ao jeito dos bichos caçados;
não está certo de ser amor, há tanto lavou a memória
das impurezas de barro e folha em que repousava. E resta,
perdida no ar, por que melhor se conserve,
uma particular tristeza, a imprimir seu selo nas nuvens.
1 de mai. de 2015
A Escolha :: William Butler Yeats
O intelecto do homem é forçado a escolher
A perfeição da vida, ou do trabalho
E se escolhe a segunda tem de recusar
Uma mansão celeste, enfurecendo-se em segredo.
Quando tudo acabar, o que haverá de novo?
Com sorte ou sem ela a labuta deixou as suas marcas:
Essa velha perplexidade é a bolsa vazia,
Ou a vaidade do dia, o remorso da noite.
Tradução: Maria de Lourdes Guimarães e Laureano Silveira
In: Os pássaros brancos e outros poemas. Relógio d'Água, 2012.
........................
The Choice
The intellect of man is forced to choose
Perfection of the life, or of the work,
And if it take the second must refuse
A heavenly mansion, raging in the dark.
When all that story’s finished, what’s the news?
In luck or out the toil has left its mark:
That old perplexity an empty purse,
Or the day’s vanity, the night’s remorse.
30 de abr. de 2015
Bordados da Ilha da Madeira
O bordado faz parte da cultura e da história da Madeira (Portugal) e foi originalmente introduzido pela família inglesa Phelps que se instalou na ilha em 1784. Tudo começou com a filha mais velha de Joseph Phelps, Elizabeth, que em 1854 fundou uma escola em sua casa e, seguindo desenhos originais seus, ensinou crianças e mulheres a bordar. Estes bordados inicialmente eram vendidos de forma privada a amigos da família e só mais tarde se expandiu a venda a turistas. Tornaram-se populares e muito procurados na Ilha da Madeira na sequência de uma exposição no Funchal e mais tarde venceram vários prémios no International World Trade Exhibition em Londres.
O interesse britânico por esta exposição foi tão grande que a Madeira recebe um convite para estar em Londres na Exposição Universal, que decorre no ano seguinte em 1851. Esta participação revelou-se um grande sucesso onde as peças apresentadas foram elogiadas pela sua pureza e perfeição artística.
Em 1860 o bordado era já uma indústria bem estabelecida. Estimava-se que havia cerca de 70.000 bordadeiras nessa altura na Madeira.
Até meados do séc. XIX não existem referências à venda ou exportação de Bordado Madeira. O ano de 1850 é um marco para uma nova fase do Bordado Madeira, data em que este produto ganha um cariz comercial. Neste ano foi organizada uma exposição das indústrias madeirenses, realizada no Palácio de S. Lourenço, onde se tornou evidente o potencial económico do produto.
Durante o Séc. XIX as principais exportações destinam-se a Inglaterra e Alemanha. No século XX exporta-se Bordado Madeira para todo o mundo. Itália, Estados Unidos, América do Sul e a Austrália tornam-se mercados importantes. França, Singapura, Holanda, Brasil e outros países contribuíram também para a expansão do comércio e da notoriedade do Bordado Madeira. Atualmente os maiores mercados de exportação são EUA, Itália e Inglaterra.
Os tecidos usados na indústria do bordado são linho, seda, algodão e organdi. Destes são feitas toalhas de mesa, vestidos, camisas, lençóis e delicados lenços.
As fábricas de Bordado Madeira localizam-se no Funchal mas tradicionalmente as bordadeiras fazem o trabalho de bordar em casa, um pouco por toda a ilha.
As fábricas fornecem às bordadeiras o material e depois de bordado recebem-no de volta, terminando o processo de produção para depois vender e exportar para todo o mundo.
Os desenhos usam padrões tradicionais e modernos que são ligeiramente impressos directamente no tecido como guia. Depois o tecido impresso é distribuído às bordadeiras em conjunto com as coloridas linhas de bordar por toda a ilha da Madeira e do Porto Santo. Na fase final, após ter sido bordado, o pano é devolvido à fábrica onde é verificado, cortado, lavado e prensado, e finalmente verificado de novo e é nessa altura que recebe o selo que garante a sua qualidade e perfeição.
Atualmente o desenho é criado por um desenhador criador de bordados ou adaptado por um técnico desenhista; depois é colocada uma chapa sobre o original e são picotados os desenhos com uma máquina própria de picotagem.
Com a chapa sobre o tecido a bordar, usa – se uma pasta à base de parafina, azul e petróleo e estampa-se no pano. O pano é então passado à bordadeira, que executa a arte final (bordado). As peças bordadas, de seguida são lavadas e passadas a ferro. Os recortes são feitos de seguida nos trabalhos que englobam motivos abertos. Depois a peça é engomada, dobrada e, por fim, embalada.
Os pontos mais utilizados nos bordados da Madeira são: caseado, cavaca, richelieu, arrendados, oficial, bastidor, cordão, pé de flor, francês, de sombra e o ponto de remendo. Como derivados existem o ilhó e a folha aberta.
O ponto caseado difere do “cordão” pelo nó produzido no cruzamento da linha de forma a assegurar a área de recorte; o ponto cavaca é de figura geométrica circularexecutada em “ponto cordão” com aberturas recortadas; o richelieu consta do “ponto caseado” quando utilizado nos contornos de motivos para recorte sobre tecidos de textura pesada; os pontos arrendados “Ana”, “Crivo”, e “Escada” são pontos executados mediante a contagem e retirada de fios no tecido tanto na vertical como na horizontal e enlaçados com linha de acordo com a respectiva espécie. O ponto oficial é o “ponto cordão” quando utilizado nos contornos de motivos para recorte sobre tecidos de textura leve; o ponto bastido é um ponto utilizado nos contornos de desenho cuja configuração exige determinado relevo; o ponto de cordão é o ponto utilizado nos contornos de desenho cuja configuração não obriga a recorte, quando sugere “caules” toma o nome de “pau”; o ponto pé de flor ou de corda para ser perfeito necessita de uma grande regularidade na dimensão dos pontos simples e que a distância entre a entrada e a saída da agulha seja sensivelmente igual; o ponto francês é utilizado para contornar e prender aplicações de outro tecido, necessita de execução cuidadosa para se obter o melhor efeito; o ponto de sombra só é utilizado nos tecidos transparentes – cambraias e casas o que implica muita delicadeza na realização do trabalho. Toda a linha é aplicada com efeito decorativo pelo que os pontos do direito contornam a figura enquanto os do avesso se destinam a sombrear a respectiva área; é necessário que a linha do reverso cubra o melhor possível a área da figura desenhada; finalmente o ponto de remendo é quase um ponto de costura e é muito utilizado para prender aplicações de outros tecidos.
A criação de bordados, contagem técnica dos pontos, estampagem, colorido, registo é feito na fábrica de bordados. Há um “agente” da fábrica que se responsabiliza pela distribuição dos bordados às bordadeiras, especialmente na zona rural. A bordadeira executa este trabalho domesticamente e volta à fábrica para pagamento e acabamentos. Nas fábricas existem empregados e operárias. São estas operárias que preparam a estampagem e os acabamentos. O sistema de comercialização principal é pelo “mostruário” das peças executadas, ou pela sugestão dos “clientes”.
Os preços da mão-de-obra são feitos a partir de “contagem” do desenho, a saber: todas as espécies de pontos usados nessas peças têm uma base calculada por unidade ou por metro.
Por exemplo, por cada “pétala” bordada entre um tamanho mínimo e o máximo desenhado, é contado um “ponto industrial”.
Acima da área máxima para um ponto ajusta-se a percentagem.
Um metro de “caseado liso” conta 60 “pontos industriais”, e assim outros têm cálculos compatíveis.
Uma vez tomadas as quantidades dos “pontos industriais”, estes são multiplicados por uma base legal e acha-se o preço a ser pago pela peça. Note-se que os “pontos industriais” nada têm a ver com os pontos que a bordadeira dá.
Os bordados clássicos são ainda desenhados em papel vegetal, picotado numa chapa sobreposta ao original e estampados com pasta azul.
Os bordados modernos são preparados pelo mesmo processo dos clássicos, mas o tipo de desenho é mais simples, permitindo os coloridos.
Tanto o bordado antigo como o bordado clássico, se forem genuínos, não comportam colorido. Devem ser brancos tanto o pano como a linha que o borda.
No bordado clássico usam-se linhos brancos ou crus para os brancos, o bordado deve ser em linha branca ou azulada. Nos bordados sobre linho cru, a linha deve ser de uma só cor que vai desde o bege ao tom do pano e deste ao castanho-escuro.
A beleza do desenho salienta-se pelo recorte das partes abertas dos motivos, ficando os bordados apenas como contorno ou motivo de composição. O desenho clássico não é descritivo. Ele sugere no pano a ideia artística.
No entanto, por evolução e gostos comerciais, passou a descrever-se motivos e a usar-se nesses desenhos várias cores. Usam-se cores garridas nessa tentativa e como esse tipo de desenho é quase barroco, no todo faz efeitos agradáveis.
Quem pesquisar com cuidado o desenho clássico genuíno entenderá facilmente que este só permite uma cor.
Os trabalhos modernos são feitos de organdi, cambraias e tecidos leves, ou muitas vezes com aplicações, que são decorrências do meio bordador e de influência de mercados. Usam-se cores “pastel”, delicadas e harmonizadas. Não podemos classificar este tipo de bordado como um verdadeiro Bordado da Madeira, mas aceita-se o fato de ser Bordado da Madeira.
Desde 1938 é obrigatório que o bordado para venda disponha de um selo de garantia, por isso, quando comprar bordados da Madeira, procure o selo de garantia.
fonte: http://houdelier.com/paginas/bordadosilhamadeira.html
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