Mary Jane Glauber
Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
5 de set. de 2022
Eucanaã Ferraz, "Acontecido"
Mary Jane Glauber
1 de set. de 2022
Pobres, verdadeiramente pobres :: Eduardo Galeano (1940-2015)
Pobres, verdadeiramente pobres, são os
que não têm tempo para perder tempo
Pobres, verdadeiramente pobres, são os que não têm silêncio e nem podem comprá-lo.
Pobres, verdadeiramente pobres, são os que têm pernas que se esqueceram de andar, como as asas das galinhas, que se esqueceram de voar.
Pobres, verdadeiramente pobres, são os que comem lixo e pagam por ele como se fosse comida.
Pobres, verdadeiramente pobres, são os que têm o direito de respirar merda, como se fosse ar, sem pagar nada por ela.
Pobres, verdadeiramente pobres, são os que não têm liberdade senão para escolher entre um e outro canal de televisão.
Pobres, verdadeiramente pobres, são os que vivem dramas passionais com as máquinas.
Pobres, verdadeiramente pobres, são os que sempre são muitos e sempre estão sós.
Pobres, verdadeiramente pobres, são os que não sabem que são pobres.
De pernas pro ar. tradução Sergio Faraco. L&PM, 1998.
30 de ago. de 2022
Coleus (Plectranthus)
Coleus é presentemente considerado um sinónimo taxonómico de Plectranthus.
O termo "coleus" (ou "cóleus") é frequentemente utilizado como um nome comum para algumas das espécies anteriormente integradas no extinto género Coleus que são cultivadas e comercializadas como plantas ornamentais.
A lista que se segue apresenta a equivalência entre os nomes científicos tradicionalmente utilizados e a corrente estruturação do género Plectranthus:
Coleus blumei = Coleus scutellarioides = Plectranthus scutellarioides = Solenostemon scutellarioides
Coleus amboinicus = Plectranthus amboinicus
Coleus barbatus = Plectranthus barbatus
Coleus caninus = Plectranthus caninus
Coleus edulis = Plectranthus edulis
Coleus esculentus = Plectranthus esculentus
Coleus forskohlii = Plectranthus barbatus
Coleus rotundifolius = Plectranthus rotundifolius
29 de ago. de 2022
Combate :: CLEMENTINA SUÁREZ (Honduras 1906-1991)
Eu sou um poeta,
um exército de poetas.
E hoje quero escrever um poema,
um poema de apitos
um poema fuzis.
Para pregá-los nas portas,
nas selas das prisões
nos muros das escolas.
Hoje quero construir e destruir,
erigir andaimes de esperança.
Despertar a criança
arcanjo das espadas,
ser relâmpago, trovão,
com estatura de herói
para abater, arrasar,
as podres raízes de minha cidade.
............
Yo soy un poeta,
un ejército de poetas.
Y hoy quiero escribir un poema,
un poema de silbatos
un poema fusiles.
Para pegarlos en las puertas,
en la celda de las prisiones
en los muros de las escuelas.
Hoy quiero construir y destruir,
levantar en andamios la esperanza.
Despertar al niño
arcángel de las espadas,
ser relámpago, trueno,
con estatura de héroe
para talar, arrasar,
las podridas raíces de mi pueblo
16 de ago. de 2022
Amigos
14 de ago. de 2022
As Mortes Sucessivas :: Adélia Prado
8 de ago. de 2022
Borboletas:: Manoel de Barros
1 de ago. de 2022
A curva dos teus olhos : Paul Eluard
A curva dos teus olhos dá a volta ao meu peito
É uma dança de roda e de doçura.
Berço noturno e auréola do tempo,
Se já não sei tudo o que vivi
É que os teus olhos não me viram sempre.
Folhas do dia e musgos do orvalho,
Hastes de brisas, sorrisos de perfume,
Asas de luz cobrindo o mundo inteiro,
Barcos de céu e barcos do mar,
Caçadores dos sons e nascentes das cores.
Perfume esparso de um manancial de auroras
Abandonado sobre a palha dos astros,
Como o dia depende da inocência
O mundo inteiro depende dos teus olhos
E todo o meu sangue corre no teu olhar.
Capitale de la douleur. 1926
KAVÁFIS, Konstantinos :: Longe
Mas já se apagou tanto... visto que nada se mantém --
pois longe, nos primeiros anos de minha adolescência, ela jaz.
Uma pele como feita de jasmim...
Aquela noite de agosto -- era agosto? -- aquela noite...
Mal me lembro agora dos olhos -- eram, creio, azuis...
Ah! sim, azuis: um azul de safira.
..........................
Μακρυά
Θάθελα αυτήν την μνήμη να την πω...
Μα έτσι εσβύσθη πια... σαν τίποτε δεν απομένει —
γιατί μακρυά, στα πρώτα εφηβικά μου χρόνια κείται.
Δέρμα σαν καμωμένο από ιασεμί...
Εκείνη του Aυγούστου — Aύγουστος ήταν; — η βραδυά...
Μόλις θυμούμαι πια τα μάτια• ήσαν, θαρρώ, μαβιά...
A ναι, μαβιά• ένα σαπφείρινο μαβί.
Poemas de K. Kaváfis. Tradução, estudo e notas de Ísis Borges da Fonseca. São Paulo: Odysseus, 2006.
27 de jun. de 2022
Passeio pelas estantes da biblioteca :: Jostein Gaarder e Klaus Hagerup
Passeio pelas estantes da biblioteca. Os livros me dão as costas. Não para me rejeitar, como as pessoas: são convidativos, querendo apresentar-se a mim. Metros e mais metros de livros que nunca poderei ler. E sei: o que aqui se oferece é a vida, são complementos à minha própria vida que esperam ser postos em uso. Mas os dias passam rápido e deixam para trás as possibilidades. Um único desses livros talvez bastasse para mudar completamente a minha vida. Quem sou eu agora? Quem eu seria então?
In: A biblioteca mágica de Bibbi Bokken.
20 de jun. de 2022
VIVIANE NATHAN (Montevideo - Uruguai 1953
Confesso não ter a capacidade
que exigem todas as absurdas circunstâncias.
Peço desculpas pelas cem lerdezas diárias,
pelos erros grandes e pequenos,
pela bela bobagem,
pela lúcida vontade
de minha vergonha.
Sou aldeia pequena, de espaços diminutos,
selvas e planícies adornadas
com flores que estremecem silenciosas.
Sou a doce resposta da pergunta que não nasce.
Tradução: Antonio Miranda
....................
Pienso no tener equipaje
que exigen todas las absurdas circunstancias.
Me excuso por las cien torpezas diarias,
por los errores grandes y chiquitos,
por la bella tontería,
por la cuerda voluntad
de mi verguenza.
Soy aldea pequena, de diminutos espacios,
selvas y llanuras adornadadas
con flores que tiemblan silenciosas.
Soy la dulce respuesta de la pregunta que no nace.
6 de jun. de 2022
DA FRUIÇÃO DO SILÊNCIO :: FRANCISCO RUI MONIZ BARRETO ((1935? – 1994 RUY NOGAR, pseudônimo )
Tratávamos o silêncio por tu
Dormíamos na mesma cela
Acordávamos do mesmo sono
Cada sílaba audível
Completamente nua
Feria dum segundo sentido
O palato hipertenso
Da fria cela dezenove
Farrapos de ambiguidade
Pendiam pelas arestas
Das mais afoitas vogais
Ninguém pressentia
No gume acorado
Da quase indiferença
Que o silêncio aparentava
O perfeito sincronismo
Das sílabas dispersas
Pelos tímpanos de cada um
Nada sabíamos de nós próprios
Além da angústia lacerante
Coagulando-nos um a um
Nos limites da expectativa
E no écram memorial
Milhões de imagens se degladiando
Era o silêncio devorando o silêncio
Era o silêncio copulando o silêncio
Era o silêncio assassinando o silêncio
Era silêncio ressuscitando o silêncio
o silêncio
Oh o silêncio
Maldito silêncio colonial
Fuzilando-nos um a um
Contra as paredes da solidão
o silêncio
Oh o silêncio
Maldito silêncio imperial
Sepultando-nos uma a um
Sob os escombros de Portugal.
MOÇAMBIQUE. ANTOLOGIA POÉTICA. Organizador: Rogério Andrade Barbosa. Brasília: Thesarus Editora, s.d.
29 de mai. de 2022
Caderno dos mortos :: mar becker
"os vivos morrem logo
são os mortos que morrem devagar
são os mortos que seguem morrendo depois que os velamos, que os enterramos
passam-se dias, e ainda encontramos os fios do seu cabelo espalhados pela casa
passam-se meses, e ainda vemos o livro
o marca-páginas guardando o fogo da última palavra lida
passam-se anos, e descobrimos na gaveta uma carta escrita do seu próprio punho e que nunca chegou a ser enviada
são lentos, os mortos
demoram-se nisto de nos revelarem em cadernos um amor que foi calado por toda uma vida
são lentos
como é lento o amor
como é lento reconhecer uma letra, que nos faz lembrar as mãos
como é lento imaginar as mãos, que nos fazem lembrar o pulso
como é lento pressentir o pulso, que nos atravessa
como sangue
em uma hora de hemorragia intensa os vivos perdem todo o sangue dos seus corpos
os mortos no entanto continuam sangrando
sangram por décadas, por gerações
sangram como mênstruo, pelos corpos das mulheres que habitam a casa
sangram no silêncio compartilhado entre mãe e filha
entre duas irmãs
e topamos com seu rosto renascido
em outros rostos
não só os da família, mas também daqueles que cruzam por nós na rua
e que não conhecemos
sempre acabamos encontrando nossos mortos por aí
eles acham jeito de voltar
de permanecer
eles acham jeito de surgir num sorriso
na cor que certos olhos assumem em tardes mais luminosas
num gesto breve
qualquer
os mortos, os mortos
tão vivos"
Fonte: A mulher submersa. Editora Urutau.
23 de mai. de 2022
Aforismo :: Carolina Noémia Abranches de Sousa Soares ( 20 Setembro 1926 (Catembe, Moçambique - 04 Dezembro 2002 Cascais, Portugal)
Claudia Interrante
Havia uma formiga
compartilhando comigo o isolamento
e comendo juntos.
Estávamos iguais
com duas diferenças:
Não era interrogada
e por descuido podiam pisá-la.
Mas aos dois intencionalmente
podiam pôr-nos de rastos
mas não podiam
ajoelhar-nos.
L'Homme Révolté :: Hélio Pellegrino
Dana Carter
Venho de um negro tempo irredutível,
anterior a mim.
Vou para um negro tempo desmedido,
infinito campo de ébano
onde me apagarei.
De uma escarpa a outra,
transfixado entre negro e negror,
danço — centelha breve — o meu furor.
22 de mai. de 2022
ALTA GASTRONOMIA. E FUNDA :: Marcílio Godoi
Quer souflé, entrecôte, foie gras?
Não, obrigado.
Quero arroz soltinho com feijão cozido na folha de louro e farinha crocante, frita com cebola picadinha e o dente de alho esmurrado que a mãe colocava só para abrir as narinas da gente e avisar logo à casa inteira que o meio-dia chegara.
Quer petit fours, croissant, pain au chocolat?
Quero não, pode deixar.
Quero é pão de queijo mesmo, quentinho, com ou sem manteiga, mas com uma fatia de minas generosa, branquinha, no meio, crostando entre os molares enxaguados de café bem ralo e doce, como o que fazia minha mãe, no centro geométrico de todas as tardes de minha vida, mesmo muito depois que saí de casa.
Quer petit gateau, vol-au-vent, crème brûlée?
Não, agradecido.
Quero é doce de figo em calda dourada, o coração verde que minha mãe colocava em potes de vidro emergenciais sobre a tábua curva do armário. Quero adentrar o escuro desse armário cheio de quitandas e ouvir de novo as histórias de nossas mil e uma noites familiares, e sua astronômica simplicidade.
Sinto-me como um ingrediente de Deus quando experimento qualquer coisa que me recupere na memória esse alimento que fala-me a todos os sentidos. Sou feito dessa comida. Mal sabem os renomados chefs cuisiniers contemporâneos que há mais de cinco, seis décadas, minha mãe já havia inventado a cozinha molecular. Sim, uma culinária toda à base de um ingrediente atômico indivisível e incondicional muito conhecido, presente em todas as culturas desse mundo, o amor.
Quer visitar a Grande Muralha da China, Machu Picchu, o Taj Mahal?
Não, fica para uma outra vez.
Quero é ir para Minas, ver minha mãe enxugar apressada as mãos no avental antes de me receber na cozinha com o abraço cheirando a cravo. Quero me sentir outra vez o pequeno astronauta incrustado para sempre em suas nuvens de ambrosia.
"A divina Cozinha de dona Etelvina"
16 de mai. de 2022
A vida é como a água :: Paulina Chiziane
Georgia O'Keeffe
10 de mai. de 2022
Poeminha Nupcial de Millôr Fernandes
9 de mai. de 2022
Duramos indefinidamente :: .BRECHT, Bertolt.
Bruce Rolff
Duramos indefinidamente
Então tudo mudou
Mas como somos finitos tudo continua igual
Obras reunidas em 20 volumes . Frankfurt: Suhrkamp Verlag, 1967.
1 de mai. de 2022
Distração :: Adriane Garcia
Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector
Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...
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Tem de haver mais Agora o verão se foi E poderia nunca ter vindo. No sol está quente. Mas tem de haver mais. Tudo aconteceu, Tu...
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A ilha da Madeira foi descoberta no séc. XV e julga-se que os bordados começaram desde logo a ser produzidos pel...