30 de jun. de 2017

As garotas da varinha de condão :: Simone Brantes

Quando eu tinha uns onze anos
três meninas na biblioteca do colégio me
disseram: você faz o resumo, você sabe fazer
você escreve essas coisas
melhor do que nós
Eram três meninas que mal
me conheciam, como podiam saber
do que eu mesma não
sabia?
Talvez quisessem apenas
que alguém fizesse
e me convenceram
inventando uma capacidade
que eu não tinha
para que eu fizesse
o que não queriam
não sabiam
ou não lhes dava
prazer
Me lembro do nome delas
uma ruivinha
as outras morenas
Até hoje agradeço
pelo dom que passei a ter
e também porque hoje
como professora
de garotos da idade que eu tinha
posso mentir a eles
acreditando mesmo
ser possível
a invenção
de todos os dons

29 de jun. de 2017

Por que eu não sou pintor :: Frank O’Hara (1926-1966)

William J. McCloskey
Eu não sou pintor, sou poeta.
Por que? Eu acho que preferiria
ser pintor, mas não sou. Bem,

por exemplo, Mike Goldberg
está começando uma pintura. Eu apareço.
“Senta e toma uma bebida” ele
diz.Eu bebo; bebemos. Eu olho
para cima. “Você pôs SARDINHAS nela.”
“Sim, ela precisava de algo ali.”
“Oh”. Eu me vou e os dias passam
e eu apareço de novo. A pintura
está indo, e eu vou, e os dias
passam. Eu apareço. A pintura
está pronta. “Cadê SARDINHAS?”
Só restaram algumas
letras, “Era demais”, Mike diz.

Mas eu? Um dia estou pensando em
uma cor: laranja. Eu escrevo um verso
sobre laranja. Em breve será uma
página toda de palavras, não versos.
Então outra página. Deveria haver
tanto a mais, não de laranja, de
palavras, de como laranja é terrível
e a vida. Os dias passam. Está até em
prosa, eu sou um poeta de verdade. Meu
poema terminou e ainda não mencionei
laranjas. São doze poemas, eu chamo
de LARANJAS. E um dia na galeria
eu vejo a pintura de Mike, chamada SARDINHAS.

28 de jun. de 2017

Matita Perê : Antonio Carlos Jobim e Paulo Cesar Pinheiro

No jardim das rosas
De sonho e medo
Pelos canteiros de espinhos e flores
Lá, quero ver você
Olerê, Olará, você me pegar

Madrugada fria de estranho sonho
Acordou João, cachorro latia
João abriu a porta
O sonho existia

Que João fugisse
Que João partisse
Que João sumisse do mundo
De nem Deus achar, Ierê

Manhã noiteira de força viagem
Leva em dianteira um dia de vantagem
Folha de palmeira apaga a passagem
O chão, na palma da mão, o chão, o chão

E manhã redonda de pedras altas
Cruzou fronteira de servidão
Olerê, quero ver
Olerê

E por maus caminhos de toda sorte
Buscando a vida, encontrando a morte
Pela meia rosa do quadrante Norte
João, João

Um tal de Chico chamado Antônio
Num cavalo baio que era um burro velho
Que na barra fria já cruzado o rio
Lá vinha Matias cujo o nome é Pedro
Aliás Horácio, vulgo Simão
Lá um chamado Tião
Chamado João

Recebendo aviso entortou caminho
De Nor-Nordeste pra Norte-Norte
Na meia vida de adiadas mortes
Um estranho chamado João

No clarão das águas
No deserto negro
A perder mais nada
Corajoso medo
Lá quero ver você

Por sete caminhos de setenta sortes
Setecentas vidas e sete mil mortes
Esse um, João, João
E deu dia claro
E deu noite escura
E deu meia-noite no coração
Olerê, quero ver
Olerê

Passa sete serras
Passa cana brava
No brejo das almas
Tudo terminava
No caminho velho onde a lama trava
Lá no todo-fim-é-bom
Se acabou João

No Jardim das rosas
De sonho e medo
No clarão das águas
No deserto negro
Lá, quero ver você
Lerê, lará
Você me pegar

László Fehér (17 de março de 1953 -Szekesfehervar, Hungria )


























27 de jun. de 2017

Estrada com ipê florido :: ALCIDES MARQUES


O amor e nós :: Erich Fried

O que nos deve o amor?
Que ajuda
nos trouxe o amor
contra o desemprego
contra Hitler
contra a última guerra
ou ontem e hoje
contra o novo medo
e contra a bomba?
Que ajuda
contra tudo
o que nos destrói?
Ajuda alguma:
o amor nos atraiçoou
O que nos deve o amor?
O que devemos ao amor?
Que ajuda lhe trouxemos
contra o desemprego
contra Hitler
contra a última guerra
ou ontem e hoje
contra o novo medo
e contra a bomba?
Que ajuda
contra tudo
o que nos destrói?
Ajuda alguma:
Nós atraiçoamos o amor

Erich Fried
(a/c s. b.)

Tradução Simone Brantes

Die Liebe und wir

Was soll uns die Liebe?
Welche Hilfe
hat uns die Liebe gebracht
gegen die Arbeitslosigkeit
gegen Hitler
gegen den letzten Krieg
oder gestern und heute
gegen die neue Angst
und gegen die Bombe?
Welche Hilfe
gegen alles
was uns zerstört?
Gar keine Hilfe:
Die Liebe hat uns verraten
Was soll uns die Liebe?
Was sollen wir der Liebe?
Welche Hilfe
haben wir ihr gebracht
gegen die Arbeitslosigkeit
gegen Hitler
gegen den letzten Krieg
oder gestern und heute
gegen die neue Angst
und gegen die Bombe?
Welche Hilfe
gegen alles
was sie zerstört?
Gar keine Hilfe:
Wir haben die Liebe verraten

26 de jun. de 2017

Mirindiba-rosa, Dedaleiro, Louro-de-são-paulo, Mirindiba, Mirindiba-bagre, Mirinduva ( Lafoensia glyptocarpa)







Família: Lythraceae
Categoria: Árvores, Árvores Ornamentais
Clima: Equatorial, Subtropical, Tropical
Origem: América do Sul, Brasil
Altura: 6.0 a 9.0 metros, 9.0 a 12 metros
Luminosidade: Sol Pleno
Ciclo de Vida: Perene
A mirindiba-rosa é uma árvore tropical bastante rústica e ornamental, indicada para a arborização urbana e recuperação de áreas degradadas. Seu crescimento é moderado a rápido e seu porte é médio, alcançando de 8 a 15 metros de altura. O tronco apresenta casca sulcada, de cor pardacenta a acinzentada, e sua madeira é pesada e densa, de boa qualidade. As folhas são simples, ovaladas, glabras, brilhantes, com bordos ondulados e apresentam uma curiosa glândula no ápice, que produz uma substância adocicada, atrativa para formigas.

A floração ocorre no inverno, despontando numerosos botões avermelhados, dispostos em inflorescências terminais do tipo rácemo simples. As flores brancas, com longos estames, desabrocham à tardinha, produzem muito néctar, que chega a escorrer, e duram apenas por uma noite. Os polinizadores são principalmente morcegos. Os frutos se desenvolvem na primavera e são cápsulas globosas, secas, sulcadas e deiscentes, contendo sementes aladas.

A mirindiba-rosa possui copa arredondada, com folhagem e floração decorativas. No paisagismo pode ser utilizada na arborização de ruas desprovidas de fiação elétrica e em parques e praças. Também pode ser aproveitada em jardins residenciais de médio a grande porte. Seu uso na recuperação de áreas degradadas é bastante interessante, pois atrai e alimenta a vida silvestre, responsável pela polinização e dispersão de outras espécies vegetais importantes para o equilíbrio ecológico.

Deve ser cultivada sob sol pleno, em solo fértil, profundo, bem drenável, enriquecido com matéria orgânica e irrigado regularmente. Apesar de crescer melhor sob as condições descritas acima, a mirindiba-rosa é rústica e capaz de se desenvolver em solo pobres. Multiplica-se por sementes, plantadas em saquinhos. As mudas se beneficiam se forem sombreadas nas horas mais quentes do dia, com a proteção de telas tipo sombrite ou sob a copa de árvores. Elas podem ser transplantadas ao local definitivo cerca seis a sete meses após plantio.

fonte: jardineiro.net

25 de jun. de 2017

Iubiguine :: Margaret Atwood

Tu começas assim:
esta é a tua mão,
este é o teu olho,
aquilo é um peixe, azul deitado
no papel, quase
da forma de um olho.
Esta é a tua boca, isto é um O
ou uma lua, o que 
preferires. Isto é amarelo.

Para lá da janela
está a chuva, verde
porque é Verão, e para além dela
as árvores e depois o mundo,
que é redondo e tem só
as cores destes nove lápis de cor.

Este é o mundo, que é mais cheio
e mais difícil de aprender do que eu fiz parecer.
Fazes bem em esborratá-lo assim
com o vermelho e mais
o laranja: o mundo queima.

Logo que aprenderes estas palavras
vais saber que há mais
palavras do que podes aprender.
A palavra mão flutua sobre a tua mão
como uma pequena nuvem por cima de um lago.
A palavra mão prende
a tua mão a esta mesa,
a tua mão é uma pedra quente
que eu seguro entre duas palavras.

Esta é a tua mão, estas são as minhas mãos, este é o mundo,
que é redondo mas não é plano e tem mais cores
do que as que podemos ver.

Ele tem um início, ele tem um fim,
é a isto que
regressarás, esta é a tua mão.

Margaret Atwood, 1978.

24 de jun. de 2017

Lira Paulistana :: Mário de Andrade


Na rua Barão de Itapetininga
O meu coração não sabe de si,
Não se vê moça que não seja linda,
Minha namorada não passeia aqui.

Na rua Barão de Itapetininga
Minha aspiração não agüenta mais,
A tarde caindo, a vida foi longa,
Mas a esperança já está no cais

Na rua Barão de Itapetininga
Minha devoção quebra duma vez,
Porque a mulher que eu amo está longe,
É ... a princesa do império chinês.

Na rua Barão de Itapetininga
Noite de São João qualquer mês terá,
Em mil labaredas de fogo e sangue
Bandeira ardente tremulará.

Na rua Barão de Itapetininga
Minha namorada vem passear.

Poesias Completas.  Livraria Martins Editora.

Marc Zakharovich Chagall (nascido Moishe Zakharovich Shagal em 24 Junho 1887 – 28 Março 1985)