Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
14 de jul. de 2013
13 de jul. de 2013
Eu quis o mar :: Mariana Ianelli
Eu quis o mar, o porto de águas mornas,
Um desvão onde guardar minha ansiedade.
Larguei-me na amplitude da corrente
Que tragava as embarcações desorientadas.
Na largura da noite altaneira, o meu intuito:
Depositei em uma estrela miúda o segredo da viagem.
Poema do livro Passagens, ed. Iluminuras, 2003
Leitura das Cartas :: Mariana Ianelli
Te decidirás
Entre duas Américas
Num breve recolher de âncoras.
E será sem volta a tua decisão.
Terás espírito,
Impérios e dotes
E perderás um a um todos eles.
Tua fortuna desperdiçada em vão.
Vês aquela menina?
Alheio à sorte, não podes vê-la:
Falta-te o conhecimento do oculto.
Essa criança será tua mulher daqui a vinte anos.
Nenhum pudor em tua alegria
(Só volúpia e picardia)
No momento oportuno de o teu rosto
Converter toda beleza em mentira.
Tornarás à casa da ladeira
E o futuro será mais do que destruição.
Tal como antigamente estarão lá
As palmeiras, o lusco-fusco e o uivo dos cães.
Sentirás uma vertigem,
Mas não seu estranho sinal.
Outra vertigem no exílio da madrugada
E o pesadelo do inconsciente adormecerá a tua razão.
Saberás estar sozinho,
Coberto de idéias miraculosas.
Teu amor pela astronomia
Será maior do que o teu amor pelos homens.
Não questionarás a alegoria da vida
Até os teus quarenta e cinco,
Quando te descobrirás um místico
E num desvario este poema será escrito.
12 de jul. de 2013
"Buriti", "miriti", "muriti", "muritim" e "muruti" provêm do tupi mburi'ti "Carandá"
Sua beleza montava, magnificava. Marcava obstáculo: um tinha que parar ali, momentos que fosse, por império. E seguir um instante seu duro movimento coagulado, de que parecia pronta uma ameaça ou uma música. Diziam: o Buriti-Grande. Ele existia.
ROSA, J. G. Noites do sertão. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976. p. 136
.................................................
O termo buriti é a designação comum das plantas dos gêneros Mauritia, Mauritiella, Trithrinax e Astrocaryum, da família das arecáceas (antigas palmáceas). Mais especificamente, o termo costuma se referir à Mauritia flexuosa, uma palmeira muito alta, nativa de Trinidad e Tobago e das Regiões Central e Norte da América do Sul, especialmente de Venezuela e Brasil. Predomina nos estados de Roraima, Rondônia, Pará, Maranhão e Piauí, mas também encontra-se nos estados do Ceará, Bahia, Goiás, Amazonas, Tocantins, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre, Rio de Janeiro, São Paulo e no Distrito Federal. É também conhecida como coqueiro-buriti, buritizeiro, miriti, muriti, muritim, muruti, palmeira-dos-brejos, carandá-guaçu e carandaí-guaçu.
Divisão: Magnoliophyta
Classe: LiliopsidaOrdem: Arecales
Família: Arecaceae
Género: Mauritia
Espécie: M. flexuosa
Nome binomial
Mauritia flexuosa
Seu fruto, além de rico em vitamina A, B e C, ainda fornece cálcio, ferro e proteínas. Consumido tradicionalmente ao natural, o fruto do buriti também pode ser transformado em doces, sucos, picolé, licor, vinho, sobremesas de paladar peculiar e ração de animais. Fornece palmito saboroso, fécula, seiva e madeira. O óleo extraído da fruta é rico em caroteno e tem valor medicinal para os povos tradicionais do Cerrado que o utilizam como vermífugo, cicatrizante e energético natural. Também é utilizado para amaciar e envernizar couro, dar cor, aroma e qualidade a diversos produtos de beleza, como cremes, xampus, filtro solar e sabonetes.
As folhas jovens produzem uma fibra muito fina, a "seda" do buriti, usada pelos artesãos na fabricação de peças de capim-dourado. Sua fibra é transformada no artesanato em bolsas, tapetes, toalhas de mesa, brinquedos, bijuterias, redes, cobertura de teto,cordas e etc. O talo das folhas se presta ainda à fabricação de móveis, que se destacam pela leveza e durabilidade. O buriti é de grande importância na manutenção de olhos d'água naturais, chegando até a conservar locais alagadiços, de água pura e permanente.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
11 de jul. de 2013
Eucanaã Ferraz, Vinheta
Ame-se o que é, como nós,
efêmero. Todo o universo
podia chamar-se: gérbera.
Tudo, como a flor, pulsa
e arde e apodrece. Sei,
repito ensinamento já sabido
e toda lição não diz mais
que margaridas e junquilhos.
Lições, há quem diga,
são inúteis, por mais belas.
Melhor, porém acrescento,
se azuis, vermelha, amarelas.
As bolas de sabão :: Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)
As Bolas de Sabão
As bolas de sabão que esta criança
Se entretém a largar de uma palhinha
São translucidamente uma filosofia toda.
Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,
Amigas dos olhos como as cousas,
São aquilo que são
Com uma precisão redondinha e aérea,
E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,
Pretende que elas são mais do que parecem ser.
Algumas mal se vêem no ar lúcido.
São como a brisa que passa e mal toca nas flores
E que só sabemos que passa
Porque qualquer cousa se aligeira em nós
E aceita tudo mais nitidamente.
Daniela :: Clarice Lispector
Daniela tem pouco mais de quatro anos de idade e pergunta muito — pergunta sempre. E às vezes também responde.
Vou tentar reproduzir perguntas, considerações e respostas de Daniela.
— Pensar? Disse ela para a madrinha que é estudante universitária. O que é pensar? Por que se pensa? Mas por que não se pensa? Pausa.
— Por que é preciso que se pense? Porque o Moacir Franco canta na música assim: "não, não posso parar, se eu paro eu penso, se eu penso eu choro...".
A madrinha levou Daniela até a Faculdade onde estudava, mostrou-lhe a estátua de "O Pensador" e disse-lhe":
— Daniela, aquele ali é o "O Pensador".
A menina olhou atentamente e nada falou. Bem mais tarde disse:
— Pensador... pensa-a-dor? Então por que dizemos pensa-a-dor? Gozado tudo isso!
Passado algum tempo a madrinha resolveu fazer perguntas na esperança de receber respostas:
— Daniela, o que é pensar?
— Pensar é que nem aquele homem do teu colégio.
A madrinha insistiu:
—O que é pensar?
— Bem, então pensar é fechar os olhos.
Pela última vez a madrinha insistiu:
— Daniela, o que é pensar?
— Bem, disse muito categoricamente, pensar é colocar um monte de coisas na cabeça, fazer mistério e depois dar a surpresa.
Vou tentar reproduzir perguntas, considerações e respostas de Daniela.
— Pensar? Disse ela para a madrinha que é estudante universitária. O que é pensar? Por que se pensa? Mas por que não se pensa? Pausa.
— Por que é preciso que se pense? Porque o Moacir Franco canta na música assim: "não, não posso parar, se eu paro eu penso, se eu penso eu choro...".
A madrinha levou Daniela até a Faculdade onde estudava, mostrou-lhe a estátua de "O Pensador" e disse-lhe":
— Daniela, aquele ali é o "O Pensador".
A menina olhou atentamente e nada falou. Bem mais tarde disse:
— Pensador... pensa-a-dor? Então por que dizemos pensa-a-dor? Gozado tudo isso!
Passado algum tempo a madrinha resolveu fazer perguntas na esperança de receber respostas:
— Daniela, o que é pensar?
— Pensar é que nem aquele homem do teu colégio.
A madrinha insistiu:
—O que é pensar?
— Bem, então pensar é fechar os olhos.
Pela última vez a madrinha insistiu:
— Daniela, o que é pensar?
— Bem, disse muito categoricamente, pensar é colocar um monte de coisas na cabeça, fazer mistério e depois dar a surpresa.
10 de jul. de 2013
Carta a Ophélia Queiroz - 9 Out. 1929 de Fernando Pessoa
Ophélia de Queiroz, amor de Fernando Pessoa (1888/1935).
Bebé fera:
Peço desculpinha de a arreliar. Partiu-se a corda do automóvel velho que trago na cabeça, e o meu juízo, que
já não existia, fez tr-tr-r-r-r-...
Logo a seguir a telefonar-lhe, estou a escrever-lhe, e naturalmente telefonarei outra vez, se lhe não faz mal aos nervos, e naturalmente será, não a qualquer hora, mas à hora em que lhe telefonarei.
Gosta de mim por mim ser mim ou por não? Ou não gosta mesmo sem mim nem não? Ou então?
Todas estas frases, e maneiras de não dizer nada, são sinais de que o ex-Ibis, o extinto Ibis, o Ibis sem concerto nem gostosamente alheio, vai para o Telhal, ou para Rilhafolles, e lhe é feita uma grande manifestação à magnífica ausência.
Preciso cada vez mais de ir para Cascais — Boca do Inferno mas com dentes , cabeça para baixo, e fim, e pronto, e não há mais Ibis nenhum. E assim é que era para esse animal ave esfregar a fisionomia esquisita no chão.
Mas se o Bebé desse um beijinho, o Ibis aguentava a vida um pouco mais. Dá? — Lá está a corda partida -r-r-r-r-r-r-r-r-r-r-r-r-
a valer
9/10/1929
Fernando
9-10-1929
Cartas de Amor. Fernando Pessoa. (Organização, posfácio e notas de David Mourão Ferreira. Preâmbulo e estabelecimento do texto de Maria da Graça Queiroz.) Lisboa: Ática, 1978 (3ª ed. 1994).
- 45.9 de jul. de 2013
Mudo de beleza de Eduardo Galeano
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!.
In: O livro dos abraços, L&PM
8 de jul. de 2013
Encanto - Guimarães Rosa
bordado: Marie-Thérèse Pfyffer
Tem horas em que penso que a gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto." Guimarães Rosa in Grande Sertão: veredas. p. 69
7 de jul. de 2013
Há mulheres que trazem o mar nos olhos - Sophia de Mello Breyner Andresen
Fernanda Correia Dias . Caminho no Mar .
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os Homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes
e calma
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, in OBRA POÉTICA (Ed. Caminho, 2010)
6 de jul. de 2013
Ana Cristina Cesar lê Clarice – por Elizama Almeida
É de conhecimento coletivo que Ana Cristina costumava fazer resumos, anotações, riscos – verdadeiras interações com os livros que lia. Logo na folha de rosto da edição de A legião estrangeira, ela avisa: “antes de ler este volume veja a página 137”. Seguindo a pista, somos levados a um texto intitulado “Mas já que se há de escrever…”, composto de apenas duas linhas: “Mas já que se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas”. A lápis, Ana Cristina assinalou: “genial” – adjetivo que seria usado para qualificar diversos outros trechos ao longo do livro. Acima do aviso estão a data e o local – presume-se – do início da leitura: Porto Alegre, 12 de dezembro de 1967. A leitora contava apenas quinze anos.
fonte: http://blogdoims.uol.com.br/ims/ana-cristina-cesar-le-clarice-por-elizama-almeida/
5 de jul. de 2013
Arte de Ser Feliz de Cecília Meireles
Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar. Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa, e sentia-me completamente feliz. Houve um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? quem as comprava? em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? E que mãos as tinham criado? e que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém minha alma ficava completamente feliz.
Houve um tempo em que a minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua copa redonda. À sombra da árvore, numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E contava histórias. Eu não a podia ouvir, da altura da janela; e mesmo que a ouvisse, não a entenderia, porque isso foi muito longe, num idioma difícil. Mas as crianças tinham tal expressão no rosto, e às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.
Houve um tempo em que a minha janela se abria sobre uma cidade que parecia feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros, e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
MEIRELES, Cecília. Arte de Ser Feliz. In: ANDRADE, Carlos Drummond de et alii . Quadrante. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1962. p. 13-15)
Houve um tempo em que a minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua copa redonda. À sombra da árvore, numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E contava histórias. Eu não a podia ouvir, da altura da janela; e mesmo que a ouvisse, não a entenderia, porque isso foi muito longe, num idioma difícil. Mas as crianças tinham tal expressão no rosto, e às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.
Houve um tempo em que a minha janela se abria sobre uma cidade que parecia feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros, e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
MEIRELES, Cecília. Arte de Ser Feliz. In: ANDRADE, Carlos Drummond de et alii . Quadrante. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1962. p. 13-15)
4 de jul. de 2013
Filosofia de Pablo Neruda
Queda probada la certeza Fica provada a certeza
del árbol verde en primavera da árvore verde na primavera
y de la corteza terrestre: e do córtex terrestre
nos alimentan los planetas – alimentam-nos os planetas
a pesar de las erupciones apesar das erupções
y el mar nos ofrece pescados e o mar nos oferece peixes
a pesar de sus maremotos: apesar de seus maremotos –
somos esclavos de la tierra somos escravos da terra
que también es dueña del aire. que também é dona do ar.
Paseando por una naranja Passeando por uma laranja
me pasé más de una vida eu passei mais de uma vida
repitiendo el globo terrestre: repetindo o globo terrestre
la geografía y la ambosía: – a geografia e a ambrosia –
los jugos colos de jacinto os jogos cor de jacinto
y un olor blanco de mujer e um cheiro branco de mulher
como las flores de la harina como as flores da farinha.
No se saca nada volando Nada se consegue voando
para escaparse de este globo para se escapar deste globo
que te atrapó desde nacer. que te aprisionou ao nascer.
Y hay que confesar esperando E há que confessar esperando
que el amor y el entendimiento que o amor e o entendimento
vienen de abajo, se levantan vêm de baixo, se levantam
y crecen dentro de nosotros e crescem dentro de nós
como cebollas, como encinas, como cebolas, azinheiras,
como galápagos o flores, como tartarugas ou flores,
como países, como razas, como países, como raças,
como caminos y destinos. como caminhos e destinos.
del árbol verde en primavera da árvore verde na primavera
y de la corteza terrestre: e do córtex terrestre
nos alimentan los planetas – alimentam-nos os planetas
a pesar de las erupciones apesar das erupções
y el mar nos ofrece pescados e o mar nos oferece peixes
a pesar de sus maremotos: apesar de seus maremotos –
somos esclavos de la tierra somos escravos da terra
que también es dueña del aire. que também é dona do ar.
Paseando por una naranja Passeando por uma laranja
me pasé más de una vida eu passei mais de uma vida
repitiendo el globo terrestre: repetindo o globo terrestre
la geografía y la ambosía: – a geografia e a ambrosia –
los jugos colos de jacinto os jogos cor de jacinto
y un olor blanco de mujer e um cheiro branco de mulher
como las flores de la harina como as flores da farinha.
No se saca nada volando Nada se consegue voando
para escaparse de este globo para se escapar deste globo
que te atrapó desde nacer. que te aprisionou ao nascer.
Y hay que confesar esperando E há que confessar esperando
que el amor y el entendimiento que o amor e o entendimento
vienen de abajo, se levantan vêm de baixo, se levantam
y crecen dentro de nosotros e crescem dentro de nós
como cebollas, como encinas, como cebolas, azinheiras,
como galápagos o flores, como tartarugas ou flores,
como países, como razas, como países, como raças,
como caminos y destinos. como caminhos e destinos.
3 de jul. de 2013
As pedras são muito mais lentas - Arnaldo Antunes
Joan Miró: Hirondelle Amour
A lua no cinema e outros poemas/organização Eucanaã Ferraz. - São Paulo: Companhia das Letras, 2011
2 de jul. de 2013
José de Almada Negreiros "A sombra sou eu"
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!
1 de jul. de 2013
Di Cavalcanti (1897-1976)
"... A arte de Di Cavalcanti, bem como sua pessoa humana, bem como seu método d ofício, está fundada na liberdade. Uma vocação de liberdade que tem sido a linha dominante de sua vida que fez dele - em certa época o único pintor social militante do Brasil - um revoltado contra as imposições drásticas dos partidos, um homem que sempre examina seus problemas, e que atingiu um elevado nível de consci6encia artística. Debaixo de apar6encias ligeiras, a carreira do Di Cavalcanti tem assumido aspectos patéticos de alto drama intelectual: este homem inquieto tem vivido em encruzilhadas, à procura de soluções plásticas, políticas e críticas, debatendo continuamente o caso do Brasil, o caso da anarquia universal e seu próprio caso que se misturou com outros.
Eis o aparente paradoxo de Emiliano Di Cavalcanti: este grande individualista é u m pintor social, este boêmio dispersivo é um trabalhador obstinado, este copiador de histórias pitorescas é um espírito sério capaz de disciplina. O homem Di Cavalcanti é rico em surpresas e imprevistos, solidário com outros no sofrimento e na alegria. Sabe que o prazer sempre foi um elemento importante na criação da obra de arte. Sabe que o prazer encerra também conflitos, abismos, contradições. Daí o aspecto triste, às vezes mesmo sinistro, de certos personagens festeiros de seus quadros. Todos nós sabemos que o substrato da alegria brasileira é carregado de tristeza. Em alguns dos melhores momentos de sua carreira Di Cavalcanti atingiu pela força da verdade plástica o cerne da nossa própria verdade metafísica na unificação de seus contrastes: de fato a gente brasileira foi ali recriada em síntese erudita...".
Murilo Mendes
1949
Crônicas de Viagem de Cecília Meireles
E o viajante apenas inclina a cabeça nas mãos, na sua janela, para entender dentro de si o que é sonho
e o que é verdade. E todos os dias são dias novos e antigos, e todas as ruas são de hoje e da
eternidade: e o viajante imóvel é uma pessoa sem data e sem nome, na qual repercutem todos os
nomes e datas que clamam por amor, compreensão, ressurreição. (1999, p. 104)
MEIRELES, Cecília. Crônicas de Viagem, vol. 2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
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Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector
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