Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
23 de dez. de 2024
21 de dez. de 2024
SIMPLEX : Marcílio Godoi
A beleza, que é a parte mais sublime da arte, é filha mais velha da simplicidade. Sejamos dessa linhagem: simples. Foi sendo simples que Colombo prendeu a respiração e colocou o ovo em pé. Foi sendo simples que Tom fez o Samba de uma nota só, foi sendo simples que Pelé driblou Mazurkiewicz sem tocar na bola, foi sendo simples que Miles Davis colocou surdina num trumpete, foi sendo simples que Drummond parou. Bem No meio do caminho.
Foi sendo assustadoramente simples que Aníbal Augusto Sardinha compôs Gente Humilde e assinou, simplesmente, "Garoto". Foi sendo simples que Gentil Cardoso, primeiro técnico de Garrincha, resumiu toda a questão futebolística: "Se a bola é feita de couro, se o couro vem da vaca e se a vaca come capim, então rola a bola na grama!".
Foi sendo simples que Pixinguinha e Braguinha fizeram Carinhoso, e Ravel compôs seu indescritível Bolero. Foi sendo drasticamente simples que Cartola e Dorival Caymmi tornaram-se simplesmente Cartola e Dorival Caymmi. "Eu vim de lá pequenininho", garantiu precisa dona Ivone Lara.
Belchior disse "me abrace e me beije bem devagar". Caetano disse "Tempo, tempo, tempo", e Gil disse só "Tempo rei", todos acometidos de vertiginosa simplicidade. E foi também de modo muito simples que, sem ser simplório, meu pai, seu Marciano, cunhou a frase lapidar, passando um cafezinho: "a melhor maneira docê não resolver um problema é ômentá bastante ele".
Sigamos simples. Como? Ora, aguando uma planta, costurando uma meia, apagando as luzes que você não é sócio da Light, cozinhando o feijão e requentando o mexido. Cumprindo os contratos dentro do que deles é possível ainda cumprir, girando suficientemente os pratinhos chineses da felicidade estampada quando eles dão aquela entortada na haste nos avisando que estão prestes a cair.
Fique simples. Não trivial, elementar, ma naturalmente Simples. Não banal, tosco, rude, simplezinho. Não. Simples. Simples com a imensa complexidade do poeta cubano Silvio Rodrigues, cantando “como el musguito en la piedra, si, si, si”.
Não diga nada. O que, em si, repara, é algo extraordinário, o melhor começo para a simpatia, o silêncio. E, o que pode ser ainda mais simples do que dizer Bom dia, simplesmente sorria. E só. E pronto. Sem encher o saco de ninguém.
Vigie, preserve bravamente a simplicidade, que é a alma dos puros, a arma fria dos imperturbáveis e o segredo dos amantes. Lute por ela. Vivamos com o orgulho mais austero, com a vaidade no modo mais espartano, a imodéstia no osso mesmo da existência, o hedonismo na conta do chá: café com leite, pão com manteiga; água de bilha em copo lagoinha, simples assim.
Rode em baixa resolução, carregue a partícula pixel do ar lentamente, ouvindo a sua própria respiração como se estivesse num mergulho com cilindro. Sobreviva, sóbrio e de pé, mãos espalmadas, quase nu, despojado de tudo, olhando no outro e sabendo com ele agora o momento mais doido e doído desse nosso Planeta.
Nessa crise, eu garanto a você, vai por mim: chão de terra batida, parede caiada. Estar vivo e razoavelmente lúcido sem revestimentos é muito mais legal do que ser feliz, essa abstração um tanto confusa e pretensiosa, coisa feita para tempos menos duros.
Pilriteiro, abronceiro, branca-espinha, cambrulheiro, combroeiro, corníolo, escalheiro, escambrulheiro, estrapoeiro, estrepeiro, pilrito, pirliteiro. Esta espécie, também conhecido como espinha-branca, espinheiro-alvar, espinheiro-branco, espinheiro-ordinário,
Em Portugal, o pilriteiro é também conhecido como abronceiro, branca-espinha, cambrulheiro, combroeiro, corníolo, escalheiro, escambrulheiro, estrapoeiro, estrepeiro, pilrito, pirliteiro.
Esta espécie, também conhecido como espinha-branca, espinheiro-alvar, espinheiro-branco, espinheiro-ordinário, por ter espinhos longos e aguçados que surgem axilas das folhas
Crataegus monogyna
Crataegus monogyna
Classificação científica
Reino: Plantae
Clado: angiospérmicas
Clado: eudicotiledóneas
Clado: rosídeas
Ordem: Rosales
Família: Rosaceae
Género: Crataegus
Espécie: C. monogyna
Nome binomial
Crataegus monogyna
Jacq.
A designação científica desta espécie deve-se à robustez da planta, em particular da sua madeira, e ao facto de as suas flores terem apenas um pistilo. O nome do género crataegus provém do grego krataios – que significa forte, robusto e monogyna deriva também do grego mono- (único) e de –gyne (feminino), que significa “flor com apenas 1 pistilo”. O pistilo é a parte feminina de uma flor.
Ele é de facto bastante resistente e robusto e pode viver até 500 anos de idade.
Na Grécia antiga simbolizava esperança no amor e felicidade conjugal. Anualmente, em Maio, mês da purificação, os casais ofereciam ramos floridos de pilriteiro à Deusa Maia como forma de agradecimento. Segundo a mitologia romana, consta que o cabo da lança de Rómulo era feito de madeira desta planta. A cultura Celta também reconhecia o seu valor sagrado e era tradição pedir-lhe autorização antes de lhe cortar um ramo.
No Cristianismo, diz-se que a coroa de espinhos de Jesus era composta por ramos de pilriteiro. Daí que em muitas regiões portuguesas seja tradição que se coloquem ramos desta planta nas portas, do lado de fora das casas, para proteção em dias de tempestade e de trovoada, para defender e proteger os seus moradores e os seus bens, pois diz-se que tudo aquilo que tocou Cristo nos protege.
Fonte: wikipedia
20 de dez. de 2024
EU SOU VERTICAL :: Sylvia Plath
Mas não que não quisesse ser horizontal. Não sou árvore com minha raiz no solo Sugando minerais e amor materno Para a cada março refulgir em folha, Nem sou a beleza de um canteiro Colhendo meu quinhão de Ohs e me exibindo em cor, Desconhecendo que me despetalo em breve. Comparados a mim, uma árvore é imortal E um pendão nada alto, embora mais assombroso, O que eu quero é a longevidade de uma e a audácia do outro. À luz infinitesimal das estrelas, Flores e árvores trescalam seus frios perfumes. Eu me movo entre elas, mas nenhuma me nota. Chego a pensar que pareço o mais perfeitamente Com elas quando estou dormindo — Os pensamentos esmaecem. É mais natural para mim deitar. Céu e eu então animamos a prosa,
Hei de servir no dia em que deitar afinal: E as árvores aí talvez em mim tocassem e as flores comigo se ocupassem. (28-111-1961)
Tradução de Vinicius Dantas
É no meu corpo :: Mar Becker
é no meu corpo que vais morrendo devagar
em alguns dias virá nova a pele
em algumas semanas virão novos os fios de cabelo
dentro de três ou quatro meses as unhas de agora serão
ínfima ruína, ao lado da lixa
e então já nenhum lugar das minhas mãos
contará a história de ter estado
dentro das tuas
é no meu corpo que vais morrendo
que continuas a morrer até ultrapassar o corpo
até chegar no que o corpo
não vence
até que por um golpe de sorte
não me fira mais – como água descendo pela nuca
o teu jeito de descrever
a chuva
---
mar becker
em: excertos de caminho; o caderno em perda; estudos e reunidos; 2021/22
18 de dez. de 2024
Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector
Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma floresta, e na floresta vejo a clareira verde, meio escura, rodeada de alturas, e no meio desse bom escuro estão muitas borboletas, um leão amarelo sentado, e eu sentada no chão tricotando. As horas passam como muitos anos, e os anos se passam realmente, as borboletas cheias de grandes asas e o leão amarelo com manchas - mas as manchas são apenas para que se veja que ele é amarelo, pelas manchas se vê como ele seria se não fosse amarelo. O bom dessa imagem é a penumbra, que não exige mais do que a capacidade de meus olhos e não ultrapassa minha visão. E ali estou eu, com borboleta, com leão. Minha clareira tem uns minérios, que são as cores. Só existe uma ameaça: é saber com apreensão que fora dali estou perdida, porque nem sequer será floresta (a floresta eu conheço de antemão, por amor), será um campo vazio (e este eu conheço de antemão através do medo) - tão vazio que tanto me fará ir para um lado como para outro, um descampado tão sem tampa e sem cor de chão que nele eu nem sequer encontraria um bicho para mim. Ponho apreensão de lado, suspiro para me refazer e fico toda gostando de minha intimidade com o leão e as borboletas; nenhum de nós pensa, a gente só gosta. Também eu não sou em preto e branco; sem que eu me veja, sei que para eles eu sou colorida, embora sem ultrapassar a capacidade de visão deles (nós não somos inquietantes). Sou com manchas azuis e verdes só para estas mostrarem que não sou azul nem verde - olha só o que eu não sou. A penumbra é de um verde escuro e úmido, eu sei que já disse isso mas repito por gosto de felicidade; quero a mesma coisa de novo e de novo. De modo que, como eu ia sentindo e dizendo, lá estamos. E estamos muito bem. Para falar a verdade, nunca estive tão bem. Por quê? Não quero saber por quê. Cada um de nós está no seu lugar, eu me submeto bem ao meu lugar. Vou até repetir um pouco mais porque está ficando cada vez melhor: o leão amarelo e as borboletas caladas, eu sentada no chão tricotando, e nós assim cheios de gosto pela clareira verde. Nós somos contentes.
Para não esquecer. Clarice Lispector. Editora Rocco. Rio de Janeiro. 1999. p. 36 - 37.
16 de dez. de 2024
Você é um Número :: Clarice Lispector
Faizal Besari
Se você não tomar cuidado, vira um número até para si mesmo. Desde o instante em que você nasce, classificam-no com um número. Sua identidade no Instituto Félix Pacheco é um número. O registro civil é um número. Seu título de eleitor é um número. Profissionalmente falando, você também é. Para ser motorista, tem carteira com número e chapa de carro. No Imposto de Renda, o contribuinte é identificado com um número. Seu prédio, seu telefone, seu número de casa, seu número de apartamento – tudo é número.
Se você parar um pouco e pensar, vai também encontrar outros números na sua vida, como por exemplo: a data do aniversário, número de anos de vida que você tem, o número do sapato que calça, o número de filhos que tem ou o número de irmãos. Na escola, você também tem um número de matrícula.
Se você é dos que abrem crediário, para eles você também é um número. Se tem propriedades, também. Se é sócio de um clube, tem um número. Se é imortal da Academia Brasileira de Letras, tem número da cadeira.
É por isso que vou tomar aulas particulares de Matemática. Preciso saber das coisas. Ou aulas de Física. Não estou brincando: vou mesmo tomar aulas de Matemática, preciso saber alguma coisa sobre esse mundo dos números.
Se você é comerciante, seu Alvará de Localização o classifica também.
Se é contribuinte de qualquer obra de beneficência, também é solicitado por um número. Se faz viagem de passeio ou de turismo ou de negócio, recebe um número. Se possui ações, também recebe um, como acionista de uma companhia. É claro que você é um número no recenseamento. Se é católico, recebe número de batismo. No registro civil ou religioso, você é numerado. Se possui personalidade jurídica, tem. E quando a gente morre, no jazigo, tem um número. E a certidão de óbito também.
Se há uma guerra, você é classificado por um número. Numa pulseira com placa metálica, se não me engano. Ou numa corrente de pescoço, metálica.
Nós vamos lutar contra isso. Cada um é cada um, sem número. O si – mesmo é apenas o si – mesmo.
E Deus não é número.
Vamos ser gente, por favor? Nossa sociedade está nos deixando secos como um número seco, como um osso branco seco exposto ao sol. Meu número íntimo é 9. Só. 8. Só 7. Sem somá-los nem transformá-los em novecentos e oitenta e sete. Estou me classificando com um número? Não, a intimidade não deixa. Veja, tentei várias vezes na vida não ter um número e não escapei. O que faz com que precisemos de muito carinho, de nome próprio, de genuinidade. Vamos amar que o amor não tem número. Ou tem?
24 de nov. de 2024
Dies Irae :: Clarice Lispector
Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece. E nem ao menos posso fazer o que uma menina semiparalítica fez em vingança: quebrar um jarro. Não sou semiparalítica. Embora alguma coisa em mim diga que somos semiparalíticos. E morre-se, sem ao menos uma explicação. E o pior – vive-se, sem ao menos uma explicação. E ter empregadas, chamemo-las de uma vez de criadas, é uma ofensa à humanidade.
E ter a obrigação de ser o que se chama de apresentável me irrita. Por que não posso andar em trapos, como homens que às vezes vejo na rua com barba até o peito e uma bíblia na mão, esses deuses que fizeram da loucura um meio de entender? Eu por que, só porque eu escrevi, pensam que tenho que continuar a escrever? Avisei a meus filhos que amanheci em cólera, e que eles não ligassem. Mas eu quero ligar. Quereria fazer alguma coisa definitiva que rebentasse com o tendão tenso que sustenta meu coração.
E os que desistem? Conheço uma mulher que desistiu. E vive razoavelmente bem: o sistema que arranjou para viver é ocupar-se. Nenhuma ocupação lhe agrada. Nada do que eu já fiz me agrada. E o que eu fiz com amor estraçalhou-se. Nem amar eu sabia, nem amar eu sabia. E criaram o Dia dos Analfabetos. Só li a manchete, recusei-me a ler o texto. Recuso-me a ler o texto do mundo, as manchetes já me deixam em cólera. E comemora-se muito. E guerreia-se o tempo todo. Todo um mundo de semiparalíticos. E espera-se inutilmente o milagre. E quem não espera o milagre está ainda pior, ainda mais jarros precisaria quebrar. E as igrejas estão cheias dos que temem a cólera de Deus. E dos que pedem a graça, que seria o contrário da cólera.
Não, não tenho pena dos que morrem de fome. A ira é o que me toma. E acho certo roubar para comer. – Acabo de ser interrompida pelo telefonema de uma moça chamada Teresa que ficou muito contente de eu me lembrar dela. Lembro-me: era uma desconhecida, que um dia apareceu no hospital, durante os quase três meses onde passei para me salvar do incêndio. Ela se sentara, ficara um pouco calada, falara um pouco. Depois fora embora. E agora me telefonou para ser franca: que eu não escreva no jornal nada de crônicas ou coisa parecida. Que ela e muitos querem que eu seja eu própria, mesmo que remunerada para isso. Que muitos têm acesso a meus livros e que me querem como sou no jornal mesmo. Eu disse que sim, em parte porque também gostaria que fosse sim, em parte para mostrar a Teresa, que não me parece semiparalítica, que ainda se pode dizer sim.
Sim, meu Deus. Que se possa dizer sim. No entanto neste mesmo momento alguma coisa estranha aconteceu. Estou escrevendo de manhã e o tempo de repente escureceu de tal forma que foi preciso acender as luzes. E outro telefonema veio: de uma amiga perguntando-me espantada se aqui também tinha escurecido. Sim, aqui é noite escura às dez horas da manhã. É a ira de Deus. E se essa escuridão se transformar em chuva, que volte o dilúvio, mas sem a arca, nós que não soubemos fazer um mundo onde viver e não sabemos na nossa paralisia como viver. Porque se não voltar o dilúvio, voltarão Sodoma e Gomorra, que era a solução. Por que deixar entrar na arca um par de cada espécie? Pelo menos o par humano não tem dado senão filhos, mas não a outra vida, aquela que, não existindo, me fez amanhecer em cólera.
Teresa, quando você me visitou no hospital, viu-me toda enfaixada e imobilizada. Hoje você me veria mais imobilizada ainda. Hoje sou a paralítica e a muda. E se tento falar, sai um rugido de tristeza. Então não é cólera apenas? Não, é tristeza também.
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Imagem GREGORY PROCH
16 de nov. de 2024
Assombro ::Cristina Peri Rossi (Montevidéu, 12 de novembro de 1941)
Ensina-me, dizes, dos teus vinte e um anos
ávidos, acreditando, ainda, que algo pode ser ensinado
e eu, que passei dos sessenta
te olho com amor
isto é, com lonjura
(todo amor é amor às diferenças
ao espaço vazio entre dois corpos
ao espaço vazio entre duas mentes
ao horrível pressentimento de não morrer a dois)
Ensino-te, vagarosamente, alguma citação de Goethe
(“Detém-te, instante, és tão belo")
ou de Kafka (uma vez houve, houve uma vez
uma sereia que não cantou)
enquanto a noite desliza lentamente em direção ao amanhecer
através desta grande janela
que amas tanto
porque as luzes noturnas
ocultam a verdadeira cidade
e em realidade poderíamos estar em qualquer parte
essas luzes poderiam ser as de Nova York,
avenida Broadway, as de Berlim, Konstanzerstrasse,
as de Buenos Aires, calle Corrientes
e te oculto a única coisa que verdadeiramente sei:
só é poeta quem sente que a vida não é natural
que é espanto
descobrimento revelação
que não é normal estar vivo
não é natural ter vinte e um anos
nem tampouco mais de sessenta
não é normal ter andado às três da manhã
pela velha ponte de Córdoba, Espanha, sob a luz
amarela das lâmpadas de rua,
não é natural o perfume das laranjeiras nas praças
— três da manhã —
nem em Oliva nem em Sevilha
o natural é o assombro
o natural é a surpresa
o natural é viver como recém-chegada
ao mundo
aos becos de Córdoba e seus arcos
às praças de Paris
à umidade de Barcelona
ao museu de bonecas
no carro velho estacionado
nas estradas mortas de Berlim.
O natural é morrer
sem ter andado de mãos dadas
através dos portais de uma cidade desconhecida
nem ter sentido o perfume das flores brancas dos jasmineiros em flor
às três da manhã,
meridiano de Greenwich
o natural é que quem tenha andado de mãos dadas
através dos portais de uma cidade desconhecida
não o escreva
enterre-o no caixão do esquecimento
A vida brota em todos os lugares
consanguínea
bêbada
bacante exagerada
em noites de paixões turvas
mas havia uma fonte que gorgolejava
languidamente
e era difícil não sentir que a vida pode ser bonita
às vezes
como uma pausa
como uma trégua que a morte
concede ao gozo.
.....
Enséñame - dices, desde tus veintiún años
ávidos, creyendo, todavía que se puede enseñar alguna cosa
y yo, que pasé de los sesenta
te miro con amor
es decir, con lejanía
(todo amor es amor a las diferencias
al espacio vacío entre dos cuerpos
al espacio vacío entre dos mentes
al horrible presentimiento de no morir de a dos)
te enseño, mansamente, alguna cita de Goethe
(“detente, instante, eres tan bello")
o de Kafka (una vez hubo, hubo una vez
una sirena que no cantó)
mientras la noche lentamente se desliza hacia el alba
a través de este gran ventanal
que amas tanto
porque sus luces nocturnas
ocultan la ciudad verdadera
y en realidad podríamos estar en cualquier parte
estas luces podrían ser las de New York, avenida
Broadway, las de Berlín, Konstanzerstrasse,
las de Buenos Aires, calle Corrientes
y te oculto la única cosa que verdaderamente sé:
sólo es poeta aquel que siente que la vida no es natural
que es asombro
descubrimiento revelación
que no es normal estar vivo
no es natural tener veintiún años
ni tampoco más de sesenta
no es normal haber caminado a las tres de la mañana
por el puente viejo de Córdoba, España, bajo la luz
amarilla de las farolas,
no es natural el perfume de los naranjos en las plazas
-tres de la mañana-
ni en Oliva ni en Sevilla
lo natural es el asombro
lo natural es la sorpresa
lo natural es vivir como recién llegada
al mundo
a los callejones de Córdoba y sus arcos
a las plazas de París
a la humedad de Barcelona
al museo de muñecas
en el viejo vagón estacionado
en las vías muertas de Berlín
Lo natural es morirse
sin haber paseado de la mano
por los portales de una ciudad desconocida
ni haber sentido el perfume de los blancos jazmines en flor
a las tres de la mañana,
meridiano de Greenwich
lo natural es que quien haya paseado de la mano
por los portales de una ciudad desconocida
no lo escriba
lo hunda en el ataúd del olvido
La vida brota por todas partes
consanguínea
ebria
bacante exagerada
en noches de pasiones turbias
pero había una fuente que cloqueaba
lánguidamente
y era difícil no sentir que la vida puede ser bella a veces
como una pausa
como una tregua que la muerte
le concede al goce.
CRISTINA PERI ROSSI
Detente, instante eres tan bello
(2021)
15 de nov. de 2024
Dicionários do meu pai : Chico Buarque de Holanda
Palavra puxa palavra, e escarafunchar o dicionário analógico foi virando para mim um passatempo (desenfado, espairecimento, entretém, solaz, recreio, filistria). O resultado é que o livro, herdado já em estado precário, começou a se esfarelar nos meus dedos. Encostei-o na estante das relíquias ao descobrir, num sebo atrás da Sala Cecília Meireles, o mesmo dicionário em encadernação de percalina. Por dentro estava em boas condições, apesar de algumas manchas amareladas, e de trazer na folha de rosto a palavra anauê, escrita a caneta-tinteiro.
Com esse livro escrevi novas canções e romances, decifrei enigmas, fechei muitas palavras cruzadas. E ao vê-lo dar sinais de fadiga, saí de sebo em sebo pelo Rio de Janeiro para me garantir um dicionário analógico de reserva. Encontrei dois, mas não me dei por satisfeito, fiquei viciado no negócio. Dei de vasculhar livrarias país afora, só em São Paulo adquiri meia dúzia de exemplares, e ainda arrematei o último à venda na Amazon.com antes que algum aventureiro o fizesse. Eu já imaginava deter o monopólio (açambarcamento, exclusividade, hegemonia, senhorio, império) de dicionários analógicos da língua portuguesa, não fosse pelo senhor João Ubaldo Ribeiro, que ao que me consta também tem um, quiçá carcomido pelas traças (brocas, carunchos, gusanos, cupins, térmitas, cáries, lagartas-rosadas, gafanhotos, bichos-carpinteiros).
A horas mortas, eu corria os olhos pela minha prateleira repleta de livros gêmeos, escolhia um a esmo e o abria a bel-prazer. Então anotava num Moleskine as palavras mais preciosas, a fim de esmerar o vocabulário com que eu embasbacaria as moças e esmagaria meus rivais.
Hoje sou surpreendido pelo anúncio desta nova edição do dicionário analógico de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. Sinto como se invadissem minha propriedade, revirassem meus baús, espalhassem aos ventos meu tesouro. Trata-se para mim de uma terrível (funesta, nefasta, macabra, atroz, abominável, dilacerante, miseranda) notícia
Revista Piauí
Francisco Buarque de Hollanda | Edição 45, Junho 2010 edição 45
6 de nov. de 2024
NÃO: JÁ NÃO FALO DE TI :: Cecília Meireles
Não: já não falo de ti, já não sei de saudades.
Feche-se o coração como um livro, cheio de imagens,
de palavras adormecidas, em altas prateleiras,
até que o pó desfaça o pobre desespero sem força,
que um dia, pode ser, parece tão terrível.
A aranha dorme em sua teia, lá fora, entre a roseira e o muro.
Resplandecem os azulejos- e tudo quanto posso ver.
O resto é imaginado, e não coincide, e é temerário
cismar. Talvez se as pálpebras pudessem
inventar outros sonhos, não de vida...
Ah! rompem-se na noite ardentes violas,
pelo ar e pelo frio subitamente roçadas.
Por onde pascerão, nestes céus invioláveis,
nossas perguntas com suas crinas de séculos arrastando-se...
Não só de amor a noite transborda mas de terríveis
crueldades, loucuras, de homicídios mais verdadeiros.
Os homens de sangue estão nas esquinas resfolegando,
e os homens da lei sonolentos movem letras
sobre imensos papéis que eles mesmos não entendem...
Ah! que rosto amaríamos ver inclinar-se na aérea varanda?
Nem os santos podem mais nada. Talvez os anjos abstratos
da álgebra e da geometria.
2 de nov. de 2024
os vivos morrem logo são os mortos que morrem devagar :: Mar Becker
os vivos morrem logo
são os mortos que morrem devagar
são os mortos que seguem morrendo depois que os velamos, que os enterramos
passam-se dias, e ainda há fios de cabelo espalhados pela casa
passam-se meses, e ainda vemos o livro
o marcador guardando o fogo da última página lida
passam-se anos, e descobrimos na gaveta as palavras escritas, os papéis
são lentos, os mortos
são lentos, como é lento o amor
como é lento reconhecer uma letra, que nos faz pensar nas mãos
como é lento imaginar as mãos, que lembram o pulso
como é lento pressentir o pulso, que nos atravessa
como sangue
em uma hora de hemorragia intensa os vivos perdem todo o sangue dos seus corpos
os mortos no entanto se demoram, habitam a casa pelo meio
no mênstruo das mulheres, no silêncio partilhado entre mãe e filha
entre duas irmãs
e topamos com seus rostos através de outros rostos
não só os da família, mas também daqueles que cruzam por nós na rua
e que não conhecemos
sempre acabamos encontrando nossos mortos por aí
eles acham jeito de voltar
de permanecer
eles acham jeito de surgir num sorriso
na cor que certos olhos assumem em tardes mais luminosas
num gesto breve
qualquer
os mortos, os mortos
tão vivos
---
mar becker
em: "os mortos, os mortos", caderno em trabalho (em feitura); 2017/23
O LIVRO DOS DESENLACES :: Marcílio Godoi
Chega um dia, aliás, chega uma noite, mais precisamente. Chega uma hora afinal em que começamos a desconfiar ou bem nos damos conta em definitivo, que certos lugares pelos quais passamos, como os objetos perdidos nos táxis ou como o brilho das berinjelas pelo cesto, ou ainda, como com algumas pessoas com que cruzamos pelos elevadores, estamos todos nos olhando pela última vez. Tudo está em não saber o tempo todo disso: que a vida gira em torno de seus próprios desfechos.
Por mais dramático ou triste que isso pareça, a sensação não é ruim. É certo que as coisas, os primos queridos, um tio-avô, aquela tia torta, o vendedor de panos de prato no semáforo, a moça dos Correios, a dona na janela do coletivo e mesmo alguns edifícios e até cidades inteiras, países, chega um momento em que nos olham fundo como se a nos dizer algo urgente e silencioso, quase sedutor: adeus.
Vamos ver e é mesmo sobre essa espécie tão frágil e única de beleza que estão nos falando, uma alma que habita a entrega dos instantes que precedem todo encontro, todo convívio, toda partida: seu próprio fim.
Um dia nos chega enfim essa noite tão clara, essa notícia tão branca que cega, tão fácil de entender: compomos uma fileira sem fim de pessoas acenando do alto seu próprio remate, sua solução definitiva.
Dos pais, irmãos, amigos, os mais queridos, enfim, nem é bom lembrar que chegará esse instante. Transitórios que somos, sempre nos chegará esse tempo, o de nos vermos limpidamente nesse lugar de passagem. E então nos é dado enxergar de vez, de chofre, o óbvio: que nenhum sol nasce duas vezes.
1 de nov. de 2024
Carlos Drummond de Andrade A Bruxa
Eduardo Duvivier
Nesta cidade do Rio,
De dois milhões de habitantes,
Estou sozinho no quarto
Estou sozinho na América.
Estarei mesmo sozinho?
Ainda há pouco um ruído
Anunciou vida a meu lado.
Certo não é vida humana,
Mas é vida. E sinto a bruxa
Presa na zona de luz.
De dois milhões de habitantes!
E nem precisava tanto...
Precisava de um amigo,
Desses calados, distantes,
Que leem verso de Horácio
Mas secretamente influem
Na vida, no amor, na carne.
Estou só, não tenho amigo,
E a essa hora tardia
Como procurar amigo?
E nem precisava tanto.
Precisava de mulher
Que entrasse nesse minuto,
Recebesse este carinho,
Salvasse do aniquilamento
Um minuto e um carinho loucos
Que tenho para oferecer.
Em dois milhões de habitantes,
Quantas mulheres prováveis
Interrogam-se no espelho
Medindo o tempo perdido
Até que venha a manha
Trazer leite, jornal e calma.
Porém a essa hora vazia
Como descobrir mulher?
Esta cidade do Rio!
Tenho tanta palavra meiga,
Conheço vozes de bichos,
Sei os beijos mais violentos,
Viajei, briguei, aprendi.
Estou cercado de olhos,
De mãos, afetos, procuras.
Mas me tento comunicar-me,
O que há é apenas a noite
E uma espantosa solidão.
Companheiros, escutai-me!
Essa presença agitada
Querendo romper a noite
Não é simplesmente a bruxa.
É antes a confidência
Exalando-se de um homem.
Carlos Drummond de Andrade
POEMA ESQUISITO :: Adélia Prado
"Dói-me a cabeça aos trinta e nove anos.
Não é hábito. É rarissimamente que ela dói.
Ninguém tem culpa.
Meu pai, minha mãe descansaram seus fardos,
não existe mais o modo
de eles terem seus olhos sobre mim.
Mãe, ô mãe, ô pai, meu pai. Onde estão escondidos?
É dentro de mim que eles estão.
Não fiz mausoléu pra eles, pus os dois no chão.
Nasceu lá, porque quis, um pé de saudade roxa,
que abunda nos cemitérios.
Quem plantou foi o vento, a água da chuva.
Quem vai matar é o sol.
Passou finados não fui lá, aniversário também não.
Pra quê, se pra chorar qualquer lugar me cabe?
É de tanto lembrá-los que eu não vou.
Ôôôô pai
Ôôôô mãe
Dentro de mim eles respondem
tenazes e duros,
porque o zelo do espírito é sem meiguices:
Ôôôôi fia.
Adélia Prado
29 de out. de 2024
Amar :: Mar Becker (Passo Fundo (RS)
amar o homem que tu és
amar o homem que tu és apesar do homem
amar sabendo que um homem pode se perder no amor – mas não uma mulher
nunca uma mulher
amar-te, meu amor
mas sem esquecer que a mulher de nós dois sou eu
.
eu não posso me esquecer das tantas outras
não posso esquecer eva
não posso esquecer agar no deserto com um bebêno colo
as centenas de caminhantes que vêm e vão por são paulo, não posso esquecê-las
as manhãs em que as vejo na estação do metrô, não raramente
puxando ou sendo puxadas – nunca sei dizer
pela mão de alguma criança
.
(porque os tempos mudam, mas as mulheres permanecem as mesmas
porque são ainda todas aquela mesma moça no deserto
aqueles mesmos olhos áridos que no entanto terminam o dia
querendo chorar um rio)
.
meu amor, somos tão sozinhas
não posso te amar sem ressalvas
sem lembrar o tempo todo que no fundo só temos umas às outras
ninguém mais
ni una menos
não esquecerei joana, queimada em praça pública
a beata lindalva
a virgem maria teresa goretti
não devo esquecer quantos litros de sangue uma mulher deve perder
para que cesse o pulso
e assim sem pulso possa finalmente ser considerada santa pela nossa santa igreja
tu falas da tua paixão por aves
eu também gosto de observá-las
há noites em que fico mais de hora sentada à soleira da porta, nos fundos de casa
olho o copado da jabuticabeira
a roupa no varal
muitas de nós ainda passam noites em claro pelas mulheres de salém
sou uma delas
sei que é preciso cuidar para que corpos inteiros não sejam comidos da nossa memória
se vierem graúnas, em bandos
e arrancarem a bicadas os fios do seu cabelo, para fazerem ninhos
se vierem beija-flores e furarem seus olhos, para beberem do rio
se quiserem levar também os cílios, os pelos do sexo, até lascas de unha – que levem
mas é preciso cuidar para que pelo menos uma parte do corpo de toda mulher morta reste intacta
o coração
o projeto de libélula que ardeu em algum dos seus gestos
o nome
o silêncio
.
a mim não cabe amar inadvertidamente
não posso esquecer as últimas horas de eloá
o carro em que marielle estava na noite de 14 de março de 2018
uma mulher a cada duas horas no brasil
seis mulheres a cada hora no mundo
não esquecerei micheliny, filha da filha da índia que foi pega no laço – como um animal
não esquecerei nina, que não esquecerá bruna
ambas se erguendo da mesma noite
não esquecerei bárbara, o olho roxo, a costela trincada
não esquecerei minha irmã
minha mãe
minha avó, morta com um tiro no peito
.
tu dizes que me amas, eu digo que te amo mais
eu te amo mais, meu amor
porque tu me amas com amor apenas
mas eu tive que aprender a te amar com ódio
14 de out. de 2024
Transporta o céu para o chão – Crônica :: Stanislaw Ponte Preta
11 de out. de 2024
UM HOMEM E UMA PORTA :: K. Satchidanandan ( india, 1946)
Um homem carrega uma porta
pela rua fora.
Procura a sua casa.
Ele sonhou
com a mulher, filhos e amigos,
a entrarem através daquela porta.
Agora vê o mundo todo,
a entrar através da porta
da sua casa ainda por construir:
homens, veículos, árvores,
animais, pássaros, tudo.
E a porta, o seu sonho
erguendo-se acima da terra,
anseia ser a porta dourada do paraíso.
Imagina nuvens, arco-íris,
demónios, fadas e santos
passando através dela.
Mas é o senhor do inferno
quem guarda a porta.
E agora deseja apenas ser uma árvore
cheia de folhas,
ondulando na brisa,
para providenciar alguma sombra,
ao seu carregador sem abrigo.
Um homem carrega uma porta
ao longo da rua.
Um homem e uma estrela.
4 de out. de 2024
Um Cão, Apenas :: Cecília Meireles
Subidos, de ânimo leve e descansado passo, os quarenta degraus do jardim — plantas em flor, de cada lado; borboletas incertas; salpicos de luz no granito —, eis-me no patamar. E a meus pés, no áspero capacho de coco, à frescura da cal do pórtico, um cãozinho triste interrompe o seu sono, levanta a cabeça e fita-me. E um triste cãozinho doente, com todo o corpo ferido; gastas, as mechas brancas do pêlo; o olhar dorido e profundo, com esse lustro de lágrima que há nos olhos das pessoas muito idosas. Com um grande esforço, acaba de levantar-se. Eu não lhe digo nada; não faço nenhum gesto. Envergonha-me haver interrompido o seu sono. Se ele estava feliz ali, eu não devia ter chegado. Já que lhe faltavam tantas coisas, que ao menos dormisse: também os animais devem esquecer, enquanto dormem...
Ele, porém, levantava-se e olhava-me. Levantava-se com a dificuldade dos enfermos graves: acomodando as patas da frente, o resto do corpo, sempre com os olhos em mim, como à espera de uma palavra ou de um gesto. Mas eu não o queria vexar nem oprimir. Gostaria de ocupar-me dele: chamar alguém, pedir-lhe que o examinasse, que receitasse, encaminhá-lo para um tratamento... Mas tudo é longe, meu Deus, tudo é tão longe. E era preciso passar. E ele estava na minha frente, inábil, como envergonhado de se achar tão sujo e doente, com o envelhecido olhar numa espécie de súplica.
Até o fim da vida guardarei seu olhar no meu coração. Até o fim da vida sentirei esta humana infelicidade de nem sempre poder socorrer, neste complexo mundo dos homens.
Então, o triste cãozinho reuniu todas as suas forças, atravessou o patamar, sem nenhuma dúvida sobre o caminho, como se fosse um visitante habitual, e começou a descer as escadas e as suas rampas, com as plantas em flor de cada lado, as borboletas incertas, salpicos de luz no granito, até o limiar da entrada. Passou por entre as grades do portão, prosseguiu para o lado esquerdo, desapareceu.
Ele ia descendo como um velhinho andrajoso, esfarrapado, de cabeça baixa, sem firmeza e sem destino. Era, no entanto, uma forma de vida. Uma criatura deste mundo de criaturas inumeráveis. Esteve ao meu alcance, talvez tivesse fome e sede: e eu nada fiz por ele; amei-o, apenas, com uma caridade inútil, sem qualquer expressão concreta. Deixei-o partir, assim, humilhado, e tão digno, no entanto; como alguém que respeitosamente pede desculpas de ter ocupado um lugar que não era o seu.
Depois pensei que nós todos somos, um dia, esse cãozinho triste, à sombra de uma porta. E há o dono da casa e a escada que descemos, e a dignidade final da solidão.
Inéditos – crônicas. Rio de Janeiro, Bloch, 1967. p. 19-20
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