21 de mai. de 2009

Milagre



Tudo, aliás, é a ponta de um mistério, inclusive os fatos. 
Ou a ausência deles. 
Duvida? 

Quando nada acontece há um milagre que não estamos vendo.
                                                                     Guimarães Rosa

12 de mai. de 2009

Como tratar o que se tem de Clarice Lispector




Existe um ser que mora em mim como se fosse casa sua, e é. Trata-se de um cavalo preto e lustroso que apesar de inteiramente selvagem - pois nunca morou em ninguém nem jamais lhe puseram rédeas nem sela - apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come às vezes na minha mão. Seu focinho é úmido e fresco. Eu beijo o seu focinho. Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito. A menos que ele escolha outra casa que não tenha medo do que é ao mesmo tempo selvagem e suave. Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com seu nome. Ou não se acerta, mas uma vez chamado com doçura e autoridade ele vai. Se ele fareja e sente que um corpo é livre, ele trota sem ruídos e vai. Aviso também que não se deve temer o seu relinchar: a gente se engana e pensa que é a gente mesmo que está relinchando de prazer ou de cólera.

5 de mai. de 2009

Andar

Estou, quanto a companhia espiritual e imediata, quase só, se não só em absoluto... Não sou das pessoas menos acompanháveis por si próprias, mas ainda assim — e de vez em quando aborreço-me de não andar senão comigo. Fernando Pessoa

3 de mai. de 2009

Contínua e infinita fragmentação


"A vida não para pra gente descansar! Se fosse só ruim ninguém aguentava e morria logo, fosse só bom ninguém reclamava, mas é bom e ruim, é despedaçado, contínua e infinita fragmentação."
Adélia Prado

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)