31 de ago. de 2012

Ama teu ritmo... Rubén Dario

Vermeer  -  Girl with the Pearl

Ama teu ritmo e ritma tuas ações
sob sua lei, assim como teus versos;
tu és um universo de universos,
e tua alma uma fonte de canções.

A celeste unidade que supões
fará brotar em ti mundos diversos,
e, ao ressoar teus números dispersos,
pitagoriza entre as constelações.

Escuta essa retórica divina
do pássaro do ar e a noturna
irradiação geométrica adivinha;

mata essa indiferença taciturna
e pérola a pérola cristalina
engasta onde a verdade entorna a urna.

(Tradução de Antonio Cícero)
In: Y una sed de ilusiones infinita. Barcelona: Lumen, 2000.

Erythrina speciosa







Erythrina speciosa Andrews pertence à família botânica Leguminosae, subfamília Papilionoideae. Originária do Brasil, esta espécie ocorre nas regiões litorâneas do sudeste e do sul. É conhecida, popularmente, por mulungu-do-litoral, eritrina-candelabro, suinã-canivete, suinã-vermelho. O nome científico vem do latin, erythros (vermelho) em referência à cor das flores.

30 de ago. de 2012

Soneto a quatro mãos - Vinícius de Moraes com Paulo Mendes Campos

Tudo de amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-se escravizado.
Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito.
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado. 
Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.
Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.

29 de ago. de 2012

Isto de Fernando Pessoa


Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

Livro coração




 Master of the View of St Gudula - Portrait of a Young Man



28 de ago. de 2012

A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque de Jorge Larrosa Bondía

Winslow Homer (1836-1910) 

A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço.

Conferência proferida no I Seminário Internacional de Educação de Campinas, traduzida e publicada em julho de 2001, Leituras SME.

ARTE POÉTICA -Sophia de Mello Breyner Andresen,


Em Lagos em Agosto o sol cai a direito e há sítios onde até o chão é caiado. O sol é pesado e a
luz leve. Caminho no passeio rente ao muro mas não caibo na sombra. A sombra é uma fita estreita.
Mergulho a mão na sombra como se a mergulhasse na água.
A loja dos barros fica numa pequena rua do outro lado da praça. Fica depois da taberna fresca e
da oficina do ferreiro.
Entro na loja dos barros. A mulher que os vende é pequena e velha, vestida de preto. Está em
frente de mim rodeada de ânforas. A direita e à esquerda o chão e as prateleiras estão cobertos de
louças alinhadas, empilhadas e amontoadas: pratos, bilhas, tigelas, ânforas. Há duas espécies de barro:
barro cor-de-rosa-pálido e barro vermelho-escuro. Barro que desde tempos imemoriais os homens
aprenderam a modelar numa medida humana. Formas que através dos séculos  vêm  de  mão em
mão.  A loja onde estou é como uma loja de Creta. Olho as ânforas de barro pálido poisadas em
minha frente no chão. Talvez a arte deste tempo em que vivo me tenha ensinado a olhá-las melhor.
Talvez a arte deste tempo tenha sido uma arte de ascese que serviu para limpar o olhar.
A beleza da ânfora de barro pálido é tão evidente, tão certa que não pode ser descrita. Mas eu
sei que a palavra beleza não é nada, sei que a beleza não existe em si mas é apenas o rosto, a forma,
o sinal de uma verdade da qual ela não pode ser separada. Não falo de uma beleza estética mas sim
de uma beleza poética.
                                             

27 de ago. de 2012

Canção do Exílio de Murilo Mendes


Minha terra tem macieiras da Califórnia 
onde cantam gaturamos de Veneza. 
Os poetas da minha terra 
são pretos que vivem em torres de ametista, 
os sargentos do exército são monistas, cubistas, 
os filósofos são polacos vendendo a prestações. 
A gente não pode dormir 
com os oradores e os pernilongos. 
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda. 
Eu morro sufocado 
em terra estrangeira. 
Nossas flores são mais bonitas 
nossas frutas mais gostosas 
mas custam cem mil réis a dúzia. 
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade 
e ouvir um sabiá com certidão de idade!

26 de ago. de 2012

Cabelos de rubi de Ângela Carolina Cysneiros.

Jane Collins
(...) Todos co­meçaram a cantar , a dançar e a bater palmas que não faziam barulho, e ela soube que há muito tempo atrás, quando os animais falavam, as galinhas tinham den­tes, as estrelas viviam sobre as águas e as nuvens eram bordadas e usadas como almofadas, uma antiga fada feiticeira havia dito que, uma dia, viria do céu uma menina de cabelos da cor do rubi que iria espalhar o Amor entre os habitantes daquele reino e de todos os reinos ‘conhecidos e não conhecidos, que iriam se unir como irmãos e o mundo amanheceria em paz e muito iluminado.
fonte: Cabelos de rubi de Ângela Carolina Cysneiros. 
http://www.traco-freudiano.org/blog/?p=680

25 de ago. de 2012

À bela princesa Andréa de Azulay de Clarice Lispector

Alexander Calder -Mobile "The Star"

Rio, 27 de junho de 1974
À bela princesa Andréa de Azulay,
dou-lhe de presente este objeto. Espero que você goste dele. Seu nome é móbile. Mas eu lhe dei sete nomes. O primeiro: la donna é mobile qual piuma ao vento (a mulher é volúvel como pluma ao vento). O segundo nome é: vertigem. O terceiro é: ano 2000. O quarto é: sussurros delicadíssimos. O quinto é: suspiros. O sexto é: pássaro azul. O sétimo é: Andréa de Azulay.
Quero lhe dizer, minha querida coleguinha, que a mais bela música do mundo é o silêncio interestrelar. E me desculpe: não posso ficar sozinha contigo porque senão nasce uma estrela no ar.
Você precisa saber que já é uma escritora. Mas nem ligue, faça de conta que nem é. Eu lhe desejo que você seja conhecida e admirada só por um grupo delicado embora grande de pessoas espalhadas pelo mundo. Desejo-lhe que nunca atinja a cruel popularidade porque esta é ruim e invade a intimidade sagrada do coração da gente. Escreva sobre ovo que dá certo. Dá certo também escrever sobre estrela. E sobre a quentura que os bichos dão a gente. Cerque-se da proteção divina e humana, tenha sempre pai e mãe - escreva o que quiser sem ligar para ninguém. Você me entendeu?
Um beijo nas suas mãos de princesa.



Gotlib, Nádia Battella. Clarice: Uma Vida que se conta.  Edusp, 2009

24 de ago. de 2012

Ipê-branco









Louis le Brocquy (Dublin 1916 – 2012) pintora




Morada de Livia Garcia Roza e O seu olhar de Arnaldo Antunes

Matt Wisniewski 


Moro no mais íntimo de seu olhar.
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O seu olhar lá fora
O seu olhar no céu 
O seu olhar demora 
O seu olhar no meu 
 O seu olhar seu olhar melhora 
Melhora o meu 
 Onde a brasa mora 
E devora o breu 
Como a chuva molha 
O que se escondeu 
 O seu olhar seu olhar melhora 
Melhora o meu 
 O seu olhar agora 
O seu olhar nasceu 
O seu olhar me olha 
O seu olhar é seu 
 O seu olhar seu olhar melhora 
Melhora o meu

23 de ago. de 2012

Jasmim da Índia ( Quisqualis indica )





Trepadeira lenhosa de crescimento vigoroso nativa da Índia. Sua floração é bastante decorativa, pois as flores mudam de cor passando de branco a vermelho escuro com suave perfume. É utilizada para plantio em cercas, alambrados e maciços. Pode ser mantida como arbusto através de podas.
Pertence à família das combretáceas.
Luz: Pleno sol
Solos: Vários tipos de solos, preferencialmente férteis e bem drenados.
Origem: Índia

22 de ago. de 2012

Nadir da Costa - Pintora




































Nadir da Costa
Nasceu em Aquidauana, MS, em 1944, mudando-se para o Rio de Janeiro aos 16 anos, onde estudou no que hoje é a Escola do Parque Lage. Foi depois para Campinas, onde estudou com Bernardo Caro e Biojone e aperfeiçoou seus estudos em Nova York. Possui um estilo figurativo romântico, onde sobressai uma poética profundamente feminina.
fonte:  http://www.galeriabrasiliana.com.br/conteudo/index.php?option=com_easygallery&act=categories&cid=29&Itemid=99999999



João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)