Na realidade, todo leitor é, quando lê, o leitor de si mesmo. A obra não passa de uma espécie de instrumento óptico oferecido ao leitor a fim de lhe ser possível discernir o que, sem ela, não teria certamente visto em si mesmo.
Marcel Proust, in "O Tempo Redescoberto"
Os seres não cessam de mudar de lugar em relação a nós. Na
marcha insensível mas eterna do mundo, nós consideramo-los como imóveis num
instante de visão, demasiado breve para que seja percebido o movimento que os
arrasta. Mas basta escolher na nossa memória duas imagens suas, tomadas em
instantes diferentes, bastante próximos no entanto para que eles não tenham
mudado em si mesmo, pelo menos sensivelmente, e a diferença das duas imagens
mede a deslocação que eles operavam em relação a nós.