28 de fev. de 2018

Ilha:: Olinda Beja (Guadalupe, São Tomé e Príncipe,1946 )

  Ronnie Landfield 

Tenho uma ilha por dentro de mim
cheia de corais e praias sem fim
que chora e repete na longa distância
os dias e as horas que me deu na infância
tenho as canoas correndo na alma
e bebo em orgias vinho de palma
na roça à noite varrendo o terreiro
eu falo e discuto com piadô feiticeiro
santo é o seu nome e santa é a gente
que as ilhas povoam bendito o seu ventre
tenho uma ilha por dentro de mim
cheia de floresta de mato capim
que chora e repete no porto de abrigo
os dias e as horas que eu trouxe comigo

25 de fev. de 2018

É urgente o amor :: Eugénio de Andrade

É urgente o amor
É urgente um barco no mar
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

in "Até Amanhã"

20 de fev. de 2018

Flor-morcego – Tacca chantrieri






Nome Científico: Tacca chantrieri
Sinonímia: Clerodendrum esquirolii, Schizocapsa breviscapa, Schizocapsa itagakii, Tacca esquirolii, Tacca garrettii, Tacca macrantha, Tacca paxiana, Tacca roxburghii, Tacca vespertilio, Tacca minor, Tacca wilsonii
Nomes Populares: Flor-morcego, Planta-morcego, Orquídea-morcego, Flor-negra, Bigodes-de-gato
Família: Dioscoreaceae
Clima: Equatorial, Subtropical, Tropical
Origem: Ásia, China, Malásia, Oceania, Tailândia
Altura: 0.6 a 0.9 metros
Luminosidade: Luz Difusa, Meia Sombra, Sombra
Ciclo de Vida: Perene

A flor-morcego é uma planta tropical, herbácea, hermafrodita e acaule, conhecida por suas flores exóticas e ornamentais. Apesar de ser chamada também de “orquídea-morcego”, esta espécie exótica não tem parentesco com as orquídeas, na verdade ela pertence a família Dioscoreaceae, a mesma do inhame (Dioscorea sp). Apresenta raízes longas e tuberosas, folhas elípticas, de cor verde-oliva, brilhantes, glabras, com nervuras bem marcadas e sustentadas por longos pecíolos. Floresce na primavera e verão e suas inflorescências parecem pequenos morcegos, com duas brácteas de um tom marrom escuro, quase negras e longos “bigodes”. As flores verdadeiras são pequenas, pentâmeras e globulares. Os frutos que se seguem são cápsulas papiráceas que levam cerca de um ano para amadurecer.

No paisagismo a flor-morcego é ideal para áreas sombreadas em locais de clima quente e úmido. No entanto é bem mais valorizada quando cultivada em vasos e jardineiras, adornando varandas, salas de estar, escritórios, etc. Ela no entanto teme o ar seco e irá se ressentir em áreas com ar condicionado. Ainda assim é possível cultivá-la em locais de clima temperado, desde que possa ser levada para ambientes protegidos como dentro de casa ou estufas úmidas. As plantas sadias crescem produzindo novas mudas, já se as condições de cultivo não forem atendidas ela declina lentamente. Assim, seu cultivo é considerado difícil, não sendo indicada para jardineiros iniciantes.

Deve ser cultivada sob luz difusa ou sombra clara, em substrato humoso, leve, bem drenável e irrigado com frequência. Não tolera frio intenso ou estiagem. Replante a cada 2 ou 3 anos para renovar o vigor da planta. Multiplica-se por sementes e por separação das mudas formadas entorno da planta mãe. Plantas formadas a partir de sementes levam de 2 a 3 anos até iniciar o florescimento.

fonte: Jardineiro.net

Cada dia de João Cabral de Melo Neto


Porque é muito mais espessa
a vida que se desdobra
em mais vida,
como uma fruta
é mais espessa
que sua flor;
como a árvore
é mais espessa
que sua semente;
como a flor
é mais espessa
que sua árvore,
etc. etc.

Espesso,
porque é mais espessa
a vida que se luta
cada dia,
o dia que se adquire
cada dia
(como uma ave
que vai cada segundo
conquistando seu vôo).

 "O Cão sem Plumas" In Poesias Completas 

19 de fev. de 2018

SENNA MACRANTHERA : MANDUÍ, Canudo de pito arbóreo, Fava do mato, Fedegoso do mato, Mamangá, Manduirana, Pau-fava e Tararaçu.





FAMÍLIA DAS FABACEAS , SUB-ORDEM CAESALPINACEAE

 NOME INDIGENA: MANDUÍ vem do tupi guarani e significa “liquido verde” devido a polpa sucosa de cor verde que envolve as lojas internas onde ficam as sementes. Também recebe os nomes de: Canudo de pito arbóreo, Fava do mato, Fedegoso do mato, Mamangá, Manduirana, Pau-fava e Tararaçu.
 Origem: Planta de habito pioneiro, aparecendo nas formações primarias ou em bordas de mata na floresta semidecídua, sendo planta comum desde o estado do Ceará até o estado de São Paulo, Brasil.
Características: Arvore de porte médio, atingindo 5 a 7 m de altura com copa baixa e globosa, tem tronco cilíndrico de 20 a 30 cm de diâmetro com ritidoma ou casca com inúmeras e pequenas depleções (sentidas ao tatear) e levemente estriado (com rugas) quando a arvore é mais velha. A cor da casca é cinzento esverdeada e os ramos novos são glabros (sem pelos) e esverdeados. As folhas são alternas e espiraladas, compostas parimpinadas (como pena e aos pares) com 2 pares de folíolos opostos sob peciolo e raque central de 10 a 16 cm de comprimento com base não espessa. A lamina foliar é oblonga (mais longa que larga), lanceolada (como lança) com base assimétrica (desigual) e ápice agudo, medindo 5 a 8 cm de comprimento por 2 a 4 cm de largura. As flores nascem em panículas (tipo de cacho) no ápice dos ramos, são pedunculadas (sob haste ou suporte de 2 a 3,5 cm de comprimento). A flor tem 5 pétalas ovadas (forma de ovo) de 1,2 a 2,4 cm de comprimento, de coloração amarelo dourado com estames e estilete (órgãos reprodutivos) bem desenvolvidos. O fruto é uma vagem cilíndrica esverdeada mesmo quando madura, deiscente (que se abre numa lateral) medindo 15 a 35 cm de comprimento por 1 a 1,6 cm de diâmetro, com arilo esverdeados nas cavidades internas e cada uma com uma semente pequena achatada.

Dicas para cultivo: Planta rústica e de crescimento rápido, sendo resistente a geadas de 0 ou - 1 grau, vegeta bem em altitudes superiores de 200 a 800 m. Aprecia solos que podem ser profundos, bem drenados ou úmidos, cm pH neutro, com constituição arenosa ou argilosa (solo vermelho) e rico em matéria orgânica ou acido e pobre para a Senna rugosa. Pode ser cultivada com sucesso em solos pobres e na recuperação de áreas devastadas.

Mudas: As sementes são arredondadas, achatadas, brilhantes e tem cor de café com leite. Essas devem ser colhidas quando o fruto estiver se abrindo naturalmente, antes de os pássaros não devorarem o liquido esverdeado e derrubarem as sementes. Devem ser semeadas logo que colhidas, colocando 2 ou 3 sementes diretamente em embalagens individuais contendo substrato organo arenoso. As sementes germinam em 20 a 40 dias, e quando as plântulas estiverem com 10 cm de altura faz-se o desbaste deixando a planta mais vigorosa. As mudas atingem 40 cm com 5 a 7 meses após o plantio.

Plantando: Pode ser plantada a pleno sol como em bosques com arvores grandes bem espaçadas. O espaçamento para reflorestamentos é de 3 x 3 m e para pomar ou banco de presevação, é de 5 x5  metros. Adicione a cova 100g de calcário e 500g de cinzas e 4 a 6 pás de matéria orgânica na terra dos 20 cm iniciais da cova que deve ter 40 cm de altura, largura e profundidade. A melhor época de plantio é de setembro a dezembro. Após o plantio,irrigar a cada quinze dias nos primeiros 3 meses, depois somente se faltar água na época da florada.

Cultivando: Fazer apenas podas de formação da copa e eliminar os galhos que nascerem na base do tronco. Adubar com composto orgânico, pode ser 2 pás de cama de frango bem curtida + 30 gr de N-P-K 10-10-10 dobrando essa quantia a cada ano até o 2ª ano. A planta tem galhos frágeis e podem se lascar ou quebrar quando ocorrem vendavais.

Usos: Os frutos amadurecem em julho a agosto. Os frutos são deiscentes (se abrem quando maduros), e por isso, devem ser colhidos para consumo ainda verdes quando estiverem bem macios e com a polpa bem liquida. Os frutos podem ser consumidos dando um leve aperto a casca se rompe deixando sair uma polpa sucosa, verde de sabor que lembra uma limonada bem doce. A arvore pode ser cultivada por sua magnífica floração outonal e para atrair e fornecer alimento para os pássaros durante o inverno.

15 de fev. de 2018

Relicário :: Sérgio Aral

  Salvador Dali 
 
Relicário

(...)
ecoa pelos ares
esta memória de eterno
presente.
Nathan Sousa


Conselhos são bem-vindos
mas não acredita
em predestinação

Ocupa-se de
calcular a idade
de objetos preciosos
e o átimo aproximado
em que circunstâncias
alteraram seus formatos
originais

Manuseia
cada peça
como se fosse
joia fina
seu coração
amores idos
juventude reencontrada

Cataloga em fichas
com esmerada técnica
de observação

os detalhes da existência

As lacunas são retocadas
com metodologia antiga

imaginação

Cogita que anda
para trás

o tempo

que
adiante tem
medida curta

Não se ressente
em deduzir que
a eternidade está na memória

viver é por enquanto.

ÁLBUM :: Luci Collin

 
como são enormes
as ossadas de animais no museu nacional
(“Não se diz ‘ossos’”, advertiu a tia solteirona
formada em filosofia pura)

quando descobri o imenso livro de anatomia
de crustáceos e moluscos
sob impulso científico enclausurei
insetos nos vidrinhos de remédio
da bisavó

a bisavó chorava à toa, aliás,
e zanzava pela casa ralhando (em vêneto)
com fantasmas que a haviam
abandonado
bem ali

como são enormes
as lembranças
quando meu pai me perdeu no mar
quando minha mãe me perdeu na saída do cinema
deve ter durado trinta segundos
e até hoje

quando o carrilhão dá cinco
(que era a hora do bolinho de polvilho)
sento-me pro chá solitário
e folheio um atlas de imagens decorridas
que se debatem como insetos
e o gole tem um gosto desabitado e ermo
porque perdi o código
com que se argumenta
com os fantasmas
 
A palavra algo. Iluminuras, 2016

14 de fev. de 2018

O Sonho :: Henri Rousseau

Num lindo sonho
Yadwigha dorme suavemente
Ouve os sons de uma flauta
Tocada por simpático encantador
Enquanto a lua se reflete
Nos rios e nas árvores vedejantes,
 As serpentes esperam
Os sons alegres do instrumento.

Yadwigha dans un beau rêve
S'étant endormie doucement
Entendait les sons d'une musette
Dont jouait un charmeur bien pensant.
Pendant que la lune reflète
Sur les fleuves [ou fleurs], les arbres verdoyants,
Les fauves serpientes pretent l'oreille
Aux transmite gais de l'instrument.

EU ERA UM CACHORRO sobre um poema de Jim Harrison :: Adriana Lisboa

.
Eu era um cachorro numa corrente curta
e agora não há mais corrente
.
mas se não há mais corrente
o que me impede
de sair
voando?
.
(não me digam que cachorros não
voam
não me venham com
mais essa ideia
corrente).

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)