A ilha ninguém achou
porque todos a sabíamos.
Mesmo nos olhos havia
Uma clara geografia.
Mesmo nesse fim de mar
qualquer ilha se encontrava,
mesmo sem mar e sem fim,
mesmo sem terra e sem mim
Mesmo sem naus e sem rumos,
mesmo sem vagas e areias,
há sempre um copo de mar
para um homem navegar.
Nem achada e nem não vista
nem descrita e nem viagem,
há aventuras de partidas
porém nunca acontecidas.
Chegados nunca chegamos
eu e a ilha movediça.
Móvel terra, céu incerto,
mundo jamais descoberto.
Indícios de canibais,
sinais do céu e sargaços,
aqui um mundo escondido
geme num búzio perdido.
Rosa de ventos na testa,
maré rasa, aljôfre, pérolas,
domingos de pascoelas.
E esse veleiro sem velas!
Afinal: ilha de praias.
Quereis outros achamentos
além dessas ventanias
tão tristes, tão alegrias?
Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
Mostrando postagens com marcador Jorge de Lima. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Jorge de Lima. Mostrar todas as postagens
21 de nov. de 2014
9 de jan. de 2014
Jorge de Lima, "Não procureis nexo naquilo ..."
Não procureis nexo naquilo
que os poetas pronunciam acordados,
pois eles vivem no âmbito intranquilo
em que se agitam seres ignorados.
No meio de desertos habitados
só eles é que entendem o sigilo
dos que no mundo vivem sem asilo
parecendo com eles renegados.
Eles possuem, porém, milhões de antenas
distribuídas por todos os seus poros
aonde aportam do mundo suas penas.
São os que gritam quando tudo se cala,
são os que vibram de si estranhos coros
para a fala de deus que é sua fala.
8 de set. de 2013
Jorge de Lima (União dos Palmares, 23 de abril de 1893 — Rio de Janeiro, 15 de novembro de 1953)
E o sino da Igrejinha com voz fina de menina
tem dlins-dlins
para o batismo dos pimpolhos.
Para os mortos: devagar – DLIM-DLIM...
é como um choro de menino, compassado
sem
fim.
Dlin-dlins para as manhãs loucas de luz,
para as tardinhas que são como velhinhas
passo tardo, xale preto, corcundinhas...
As andorinhas conhecem esses dlins-dlins
e vêm
ouvi-los no verão.
As ave-marias vêm
ouvi-los ao sol-pôr...
E a estrela Vésper
atrás da torre,
e entre a neblina
ouve quieta: dlim, dlim, dlim...
E há dlins-dlins de esperança,
de venturas de saudades e de fé...
Todo o pulsar da vila:
virgens que morrem, virgens que casam...
Viático...
Novenas...
Comunhões...
E nas missas domingueiras
que alegria, que repiques argentinos
aos namoros das mocinhas...
Casamentos...
Batizados...
Agonias...
Meu deus! Dlins-dlins para os que morrem...
Dlim-dlim
Jorge Mateus de Lima (União dos Palmares, 23 de abril de 1893 — Rio de Janeiro, 15 de novembro de 1953) foi político, médico, poeta, romancista, biógrafo, ensaísta, tradutor e pintor brasileiro. Inicialmente autor de belíssimos alexandrinos, posteriormente transformou-se em um modernista.
Assinar:
Postagens (Atom)
-
Tem de haver mais Agora o verão se foi E poderia nunca ter vindo. No sol está quente. Mas tem de haver mais. Tudo aconteceu, Tu...
-
Ekaterina Pozdniakova Não sei como são as outras casas de família. Na minha casa todos falam em comida. “Esse queijo é seu?” “Não, é...