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26 de jun. de 2015

Quem somos nós :: Italo Calvino

Zinaida Serebriakova
(...) quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis. 


in: As seis propostas para o próximo milênio.  Companhia das Letras, 1990. 

13 de nov. de 2014

Minha mãe me disse :: Elba Serafini

Walasse Ting
Minha mãe me disse
que todos os mortos são anjos,
escutas prováveis
de nossos rogos
deve-se apenas pedir em alta voz
e esperar em silêncio
uma resposta, ter paciência,
depositar em outro 
nosso destino

Assim, a crença inusitada
se alimenta
de um imaginário
círculo de perfeição
sobre a terra.

::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

Mi madre dice

que todos los muertos son ángeles,
potenciales escuchas
de nuestros ruegos
solo hay que pedir en voz alta
y esperar en silencio
una respuesta, ser pacientes,
depositar en otro
nuestro destino.

Así, la inusitada creencia
se alimenta
de un imaginário
círculo de perfección
sobre la tierra.

fonte: DINAMARCA. Buenos Aires: Sigamos Enamoradas, 2007.

31 de mar. de 2014

A cotidianidade dá uma ilusão de perenidade :: Julián Marías,

Klimt 

A imaginação nunca se detém no hoje; a projeção é inevitável; o homem projeta e projeta e projeta, indefinidamente, e vai traçando trajetórias. A cotidianidade em nenhum caso é indefinida: mudam as coisas que compõem a circunstância, passam as idades, produz-se o envelhecimento, ao final encontra-se a morte, própria e alheia. Ao despertar, sobretudo se se faz à felicidade, se imagina e projeta, mas se percebe que não é possível continuar indefinidamente. A cotidianidade, e isso é fundamental, finge uma ilusão de eternidade: se o homem faz todos os dias as mesmas coisas, tem a impressão de que o poderá fazer sempre; não é verdade, e o sabe, mas a cotidianidade dá uma ilusão de perenidade, sem a qual a vida seria angustiante.
Fonte: A Felicidade Humana. Duas Cidades, pg. 361)

15 de out. de 2013

Um homem precisa viajar :: Amyr Klink

"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para conhecer o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver."
Amyr Klink, Mar sem fim. Companhia das Letras, 2000.

18 de dez. de 2012

Lembranças legítimas de Maria Rita Kehl



As experiências perdidas constituem uma rede de lembranças legítimas. Pode até ser que o vivido mesmo, pão pão, queijo queijo, ocupe uma parte bem reduzida de nossas memórias. Penso que existe um acervo de saudades lotado de imagens do que se viveu só através de relatos alheios, da literatura e da imaginação. É possível ter saudades, por exemplo, da infância da sua avó, se ela te contou episódios com graça, imaginação e alguma nostalgia. Algumas cenas contadas por ela passam a te pertencer também. 
As saudades do que eu queria ter feito e não fiz se constróem de trás prá frente. É depois, só depois, que você se dá conta de que prestou atenção ao que acontecia à sua direita e não percebeu algo muito mais interessante que se passava à esquerda. Ou vice-versa. Claro, existem também as escolhas. Nesse caso penso que se eu quisesse mesmo, mesmo, fazer x em vez de y, teria feito. Essa coleção de vacilos escreve uma história. No horizonte virtual das possibilidades que foram deixadas prá traz deve haver um duplo meu, vivendo a vida que foi dos outros. 


6 de ago. de 2012

Coisas que não há que há de Manuel António Pina


"Uma coisa que me põe triste é que não exista o que não existe.
(Se é que não existe, e isto é que existe!)

Há tantas coisas bonitas que não há: 
coisas que não há, 
gente que não há, 
bichos que já houve e já não há, 
livros por ler, 
coisas por ver, 
feitos desfeitos, outros feitos por fazer, 
pessoas tão boas ainda por nascer e outras que morreram há tanto tempo! 

Tantas lembranças de que não me lembro, 
sítios que não sei, 
invenções que não invento, 
gente de vidro e de vento, 
países por achar, paisagens, 
plantas, 
jardins de ar, 
tudo o que eu nem posso imaginar porque se o imaginasse já existia 
embora num sítio onde só eu ia..."


14 de jun. de 2012

Modinha do Empregado de Banco de Murilo Mendes

Beijo Querubim de Rogério Fernandes 

Eu sou triste como um prático de farmácia,
sou quase tão triste como um homem que usa costeletas.
Passo o dia inteiro pensando nuns carinhos de mulher
mas só ouço o tectec das máquinas de escrever.
Lá fora chove e a estátua de Floriano fica linda.

Quantas meninas pela vida afora!

E eu alinhando no papel as fortunas dos outros. 
Se eu tivesse estes contos punha a andar 
a roda da imaginação nos caminhos do mundo. 
E os fregueses do Banco 
que não fazem nada com estes contos! 
Chocam outros contos para não fazerem nada com eles. 

Também se o diretor tivesse a minha imaginação

o Banco já não existiria mais

e eu estaria noutro lugar.

8 de nov. de 2011

Nós: autobiografismos de Olívia Niemeyer


Imagem: Olívia Niemeyer - Nós: autobiografismos 

“O passado é aquilo que você lembra,  aquilo que você imagina que lembra, que se convence que lembra ou finge lembrar”
Harold Pinter

25 de mar. de 2010

Dá-me a tua mão desconhecida - Clarice Lispector


Dá-me a tua mão desconhecida que a vida está me doendo e eu não sei como falar
a realidade é delicada demais, 
só a realidade é delicada, 
minha irrealidade e minha imaginação são mais pesadas." 

In: A paixão segundo G.H.  Editora Sabiá, 1964. p. 34

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)