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30 de mai. de 2013

Lição de gramática de Berta Piñan

Como se diz em ouolof a palavra fronteira, a palavra
pátria? E em soniké, como designareis o desamparo?
Se quiserdes dizer em berbere, por exemplo, "eu tive uma casa
num arrabalde de Rabat", poreis a frase nesta ordem? Como
se conjugam em bambara os verbos que conduzem ao norte,
que adjectivos se devem acrescentar à palavra mar, à palavra morte?
Se tiverdes de partir, a palavra adeus será um substantivo?
Como se pronuncia em diakhanké a palavra exílio? Há que
juntar os lábios? Doem? Que pronomes usais para aquele que espera
na praia, para o que regressa sem nada? Quando apontais para além, no sentido
de casa, que advérbio escolheis? Como se diz na vossa, na nossa língua
a palavra futuro?

16 de ago. de 2012

À maneira de Szymborska de Berta Piñan


Chegados a este ponto
talvez tudo devesse ser mais simples,
a palavra lua não deveria nomear nada mais
do que a lua,
e os rios deveriam seguir até ao seu destino
sem serem alterados
pelas metáforas.
Talvez a palavra solidão não devesse
significar outra coisa além da ausência
de acontecimentos
e a palavra silêncio pudesse servir só
para calar os ruídos.

Com a língua talvez tudo devesse ser

mais simples, sem voltas

nem requebros, deixando-nos
com duas ou três questões
para seguir em frente:
um porquê, algum não sei.
E, depois, fechar a porta
que, neste caso,
deveria significar unicamente
fechá-la.


(Versão a partir do original asturiano e da tradução castelhana da autora reproduzidos em Toma de tierra - poetas  en lengua asturiana: antología (1975-2010); selecção de José Luis Argüelles, Trea, Gijón, p. 445).

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)