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27 de ago. de 2015

Às coisas sou blasé :: Ana Estaregui (1987, Sorocaba)

Claude Monet, 1872
finjo não ver beleza
nas pequenas xícaras disfarço
a ternura
pelas as estampas
de frutas tropicais
na toalha
de plástico
da mesa da cozinha
[por fora lisinha
por dentro manta - que nem carpete]
dissimulo
indiferença às casquinhas
craqueladas
espalhadas
de pão francês
e ao tom marrom caramelo escuro
dos pratos duralex.

14 de jul. de 2013

Das finalidades supremas da existência e da nossa dignidade como homens - Anton Tchekhov



“Em Oreanda, sentaram-se num banco perto da igreja e ficaram calados, olhando o mar embaixo. Mal se avistava Ialta através da névoa matutina, e nos cumes das montanhas nuvens brancas pairavam imóveis. A folhagem das árvores estava quieta, cigarras cantavam e o ruído surdo e monótono do mar, vindo de baixo, falava de repouso, do sono eterno que nos espera. Esse barulho já se fazia ouvir ali quando não havia Ialta, nem Oreanda; ele se faz ouvir agora e será assim também no futuro, surdo e indiferente, quando nós não mais existirmos. E nessa constância, nessa completa indiferença em relação à vida e à morte de cada um de nós, esconde-se, talvez, a garantia de nossa salvação eterna, do incessante movimento da vida na terra, do seu contínuo aperfeiçoamento. Sentado ao lado de uma jovem mulher, que no amanhecer parecia tão bela, tranqüilizado e enfeitiçado pela visão desse panorama fantástico – o mar, as montanhas, as nuvens, o amplo céu -, Gúrov pensava que no fundo, se refletirmos bem, tudo neste mundo é maravilhoso; tudo, exceto aquilo que nós mesmos pensamos e fazemos quando esquecemos das finalidades supremas da existência e da nossa dignidade como homens.”.

Tchekhov, Anton. A dama do cachorrinho. In: A corista e outras histórias. LP&M.

11 de abr. de 2013

Sólo le pido a Dios de Leon Gieco


Sólo le pido a Dios
Que el dolor no me sea indiferente,
Que la reseca muerte no me encuentre
Vacío y solo sin haber hecho lo suficiente.

Sólo le pido a Dios
Que lo injusto no me sea indiferente,
Que no me abofeteen la otra mejilla
Después que una garra me arañó esta suerte.

Sólo le pido a Dios
Que la guerra no me sea indiferente,
Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente.

Sólo le pido a Dios
Que el engaño no me sea indiferente
Si un traidor puede más que unos cuantos,
Que esos cuantos no lo olviden fácilmente.

Sólo le pido a Dios
Que el futuro no me sea indiferente,
Desahuciado está el que tiene que marchar
A vivir una cultura diferente.
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Só peço a Deus
que a dor não me seja indiferente
que a seca morte não me encontre
vazia e só sem ter feito o suficiente

Só peço a Deus
que o injusto não me seja indiferente
que não me esbofeteem a outra face
Depois que uma garra me arranhou essa sorte

Só peço a Deus
que a guerra não me seja indiferente
É um monstro grande e esmaga
Toda pobre inocência da gente

Só peço a Deus
que o engano não me seja indiferente
Se um traidor pode mais que uns quantos,
que esses não esqueçam facilmente

Só peço a Deus
que o futuro não me seja indiferente,
Desiludido está o que tem que marchar
para viver uma cultura diferente

Só peço a Deus
que a guerra não me seja indiferente
É um monstro grande e esmaga
Toda pobre inocência da gente


31 de ago. de 2012

Ama teu ritmo... Rubén Dario

Vermeer  -  Girl with the Pearl

Ama teu ritmo e ritma tuas ações
sob sua lei, assim como teus versos;
tu és um universo de universos,
e tua alma uma fonte de canções.

A celeste unidade que supões
fará brotar em ti mundos diversos,
e, ao ressoar teus números dispersos,
pitagoriza entre as constelações.

Escuta essa retórica divina
do pássaro do ar e a noturna
irradiação geométrica adivinha;

mata essa indiferença taciturna
e pérola a pérola cristalina
engasta onde a verdade entorna a urna.

(Tradução de Antonio Cícero)
In: Y una sed de ilusiones infinita. Barcelona: Lumen, 2000.

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)