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9 de nov. de 2015

Bom dia, amor :: Carminho (carta de Maria José)

Gustave Caillebotte

Bom dia amor,
Dizem as rosas da janela ao ver o sol nascer
Bom dia amor,
Tal como as rosas espero sempre por te ver
E um dia há-de ser dia corra o vento para onde for
Juntam-se as rosas para me ver com o meu amor

Bom dia digo sempre quando vens
Quando passam por mim os olhos seus
E mais diria ao olhos do meu bem
Se ao menos uma vez vissem os meus
E mais diria ao olhos do meu bem
Se ao menos uma vez vissem os meus

Daqui eu digo tudo o que te vejo
A cada teu passar na minha rua
Assim é como vivo e assim te beijo
E trago esta maneira de ser tua
Assim é como vivo e assim te beijo
E trago esta maneira de ser tua


29 de jul. de 2015

A Palavra :: Carlos Drummond de Andrade

Anna Cunha 
Já não quero dicionários
consultados em vão.
Quero só a palavra
que nunca estará neles
nem se pode inventar.
Que resumiria o mundo
e o substituiria.
Mais sol do que o sol,
dentro da qual vivêssemos
todos em comunhão,
mudos,
saboreando-a.


12 de mar. de 2015

Ode a la Esperanza :: Pablo Neruda (1904-1973)

Machasonni
Crepúsculo marinho,
no meio
da minha vida,
as ondas como uvas,
a solidão do céu,
me enches
e desbordas,
todo o mar,
todo o céu,
movimento
e espaço,
os batalhões brancos
da espuma,
a terra alaranjada,
a cintura incendiada
do sol em agonia,
tantos
dons e dons,
aves
que acodem a seus sonhos,
e o mar, o mar,
aroma
suspendido,
coro de sal sonoro,
enquanto
nós,
os homens,
perto da água,
lutando
e esperando
junto ao mar,
esperando.

As ondas dizem para a costa firme:
"Tudo será cumprido".

Tradução: Lucas C. Gordon
in Odas Elementales.
...................................................................................
Crepusculo marino,
en medio
de mi vida,
las olas como uvas,
la soledad del cielo,
me llenas
y desbordas,
todo el mar,
todo el cielo,
movimiento
y espacio,
los batallones blancos
de la espuma,
la tierra anaranjada,
la cintura
incendiada
del sol en agonia,
tantos
dones y dones,
aves
que acuden a sus suenos,
y el mar, el mar,
aroma
suspendido,
coro de sal sonora,
mientras tanto,
nosotros,
los hombres,
junto al agua,
luchando
y esperando
junto al mar,
esperando.

Las olas dicen a la costa firme:
"Todo sera cumplido."
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19 de fev. de 2015

Não é ainda a pele, apenas :: Maria do Rosário Pedreira nasceu (Lisboa, 1959)

Berthe Morisot

Não é ainda a pele, apenas
um rumor de lã nas camisolas, um recado
a lembrar tardes no feno, linho lavado, o sol
mordendo um rio pela manhã ―
assim a distância entre a minha mão e o pessegueiro.

Na estrada
as flores demoram-se até às laranjas,
mas o aroma do pomar faz sede e os olhos cegam
na promessa de gomos novos e doces, os mais doces. Talvez
por isso se continue a viagem sem olhar para trás.

6 de jan. de 2015

22 de nov. de 2014

Disciplina :: Cesare Pavese

O trabalho começa ao romper do dia. Mas nós começamos,
um pouco antes do romper do dia, a reconhecer-nos
nas pessoas que passam na rua. Ao descobrir os raros
transeuntes, cada um sabe que está sozinho
e que tem sono — perdido no seu próprio sonho,
cada um sabe no entanto que com o dia abrirá os olhos.
Quando a manhã chega, encontra-nos estupefactos
a fixar o trabalho que agora começa.
Mas já não estamos sozinhos e ninguém mais tem sono
e pensamos com calma os pensamentos do dia
até que o sorriso vem. Com o regresso do sol
estamos todos convencidos. Mas às vezes um pensamento
menos claro — um esgar — surpreende-nos inesperadamente
e voltamos a olhar para tudo como antes do amanhecer.
A cidade clara assiste aos trabalhos e aos esgares.
Nada pode turvar a manhã. Tudo pode
acontecer e basta levantar a cabeça
do trabalho e olhar. Rapazes que se escaparam
e que ainda não fazem nada passam na rua
e alguns até correm. As árvores das avenidas
dão muita sombra e só falta a erva
entre as casas que assistem imóveis. São tantos
os que à beira-rio se despem ao sol.
A cidade permite-nos levantar a cabeça
para pensar estas coisas, e sabe bem que em seguida a baixamos.

In:  Trabalhar Cansa (Lavorare Stanca)
Tradução de Carlos Leite

11 de nov. de 2014

Um corpo :: Adélia Prado

Jerry McElroy

Um corpo quer outro corpo.
Uma alma quer outra alma e seu corpo.
Este excesso de realidade me confunde.
Jonathan falando:
parece que estou num filme.
Se eu lhe dissesse você é estúpido
ele diria sou mesmo.
Se ele dissesse vamos comigo ao inferno passear
eu iria.
As casas baixas, as pessoas pobres,
e o sol da tarde,
imaginai o que era o sol da tarde
sobre a nossa fragilidade.
Vinha com Jonathan
pela rua mais torta da cidade.
O Caminho do Céu.


1 de nov. de 2014

O milagre existe :: Clarice Lispector


"Não, não há razão de espanto:
o milagre existe: o milagre é uma sensação.
Sensação de quê? de milagre. 
Milagre é uma atitude assim como o girassol vira lentamente 
sua abundante corola para o sol.
O milagre é a simplicidade última de existir. 
O milagre é o riquíssimo girassol se explodir de caule,
corola e raiz - e ser apenas uma semente. 
Semente que contém o futuro."
fonte:  Um Sopro de Vida

18 de set. de 2014

Gosto de Ícaro :: Tjiske Jansen

Odilon Redon

Gosto de Ícaro que sabia que a cera se iria derreter e no entanto voou em direção ao sol.
Gosto daquela rapariga que reparou como era azul a barba do Barba Azul – era exatamente esse o motivo. Gosto da Bela Adormecida que afinal fazia de conta que dormia.

Gosto da Branca de Neve que achava os anões um bando de neuróticos.
‘Quem é que se sentou na minha cadeira? Quem é que comeu do meu prato?’
E do anão, que não simpatizava lá muito com a Branca de Neve:

‘Quando ela não morava aqui, éramos só sete. E agora? É ver-nos.’
Do gigante que estava arreliado porque toda a gente chamava botas aos seus sapatos.
Não gosto de quem se acomoda no conto. Mas sobretudo

Gosto de Ícaro que sabia que a cera se iria derreter e no entanto voou em direção ao sol.

18 de jun. de 2014

Anímico de Adélia Prado

Jean-Francois Millet, 1867-1868
Nasceu no meu jardim um pé de mato
que dá flor amarela.
Toda manhã vou lá pra escutar a zoeira
da insetaria na festa.
Tem zoada de todo jeito:
tem do grosso, do fino, de aprendiz e de mestre.
É pata, é asas, é boca, é bico, é grão de
poeira e pólen na fogueira do sol.
Parece que a arvorinha conversa.

26 de mai. de 2014

Nihil de Antonio Cícero

Edvard Munch

nada sustenta no nada esta terra
nada este ser que sou eu
nada a beleza que o dia descerra
nada a que a noite acendeu
nada esse sol que ilumina enquanto erra
pelas estradas do breu
nada o poema que breve se encerra
e que do nada nasceu

20 de abr. de 2014

Alborada :: Rosalía de Castro

Vaite, noi-
te, -vai fuxin-
do. -Vente, auro-
ra, -vente abrin-
do, -co teu ros-
tro-que, sorrin-
do, -¡¡¡a sombra espanta!!!

¡Canta
paxariño, can-
ta -de ponliña en pon-
la, -que o sol se levan-
ta-polo monte ver-
de, -polo verde mon-
te, -alegrando as her-
bas, -alegrando as fon-
tes...!


¡Canta, paxariño alegre,
canta!
¡Canta porque o millo medre,
canta!
¡Canta porque a luz de te escoite,
canta!
Canta que fuxéu a noite.

Noite escura
logo ven
e moito dura
co seu manto
de tristura,
con meigallos
e temores,
agoreira
de dolores,
agarimo
de pesares,
cubridora
en todo mal.
¡Sal...!

Que a auroriña
co ceu colora
cuns arbores
que namora,
cun sembrante
de ouro e prata
teñidiño
de escalarta.
Cuns vestidos
de diamante
que lle borda
o sol amante
antre as ondas
de cristal.

¡Sal...!,
señora en todo mal,
que o sol
xa brila
nas cunchiñas do areal;
que a luz
do día
viste a terra de alegría;
que o sol
derrete con amor a escarcha fría.

II
Braca auro-
ra-ven chegan-
do, -i ás porti-
ñas-vai chaman-
do-dos que dor-
men-esperan-
do-¡o teu folgor...!

Cor...
de alba hermosa
lles estende
nos vidriños
cariñosa,
donde o sol
tamén suspende,
cando aló
no mar se tende,
de fogax
larada viva,
dempóis leve,
fuxitiva,
triste, vago 
resprandor.

Cantor
dos aires,
paxariño alegre,
canta,
canta porque o millo medre;
cantor
da aurora,
alegre namorado,
ás meniñas dille
que xa sal o sol dourado;
que o gaiteiro,
ben lavado,
ben vestido,
ben peitado,
da gaitiña
acompañado
¡á porta está...!
¡Xa...!

Se espricando
que te esprica,
repinica,
repinica
na alborada
ben amada
das meniñas
cantadeiras,
bailadoras,
rebuldeiras;
das velliñas
alegriñas;
das que saben
ben ruar.

¡Arriba
todas, rapaciñas do lugar,
que o sol
i a aurora xa vos vén a dispertar!
¡Arriba!
¡Arriba, toleirona mocidad,
que atru-
xaremos-cantaremos o ala...lá...!!!

Nota da autora:
A máis grande dificultade que achéi pra escribir esta alborada, foi o meu deseio de que saíse nun todo arregrada á música. Conseguín esto, pro foi a custa da poesía; non podía ser de outro modo, cando se dá cun aire tan estraño e tan difícile de acomodarlle letra algunha.

21 de fev. de 2014

Valsa Brasileira :: Chico Buarque e Edu Lobo



Vivia a te buscar
Porque pensando em ti
Corria contra o tempo
Eu descartava os dias
Em que não te vi
Como de um filme
A ação que não valeu
Rodava as horas pra trás
Roubava um pouquinho
E ajeitava o meu caminho
Pra encostar no teu

Subia na montanha
Não como anda um corpo
Mas um sentimento
Eu surpreendia o sol
Antes do sol raiar
Saltava as noites
Sem me refazer
E pela porta de trás
Da casa vazia
Eu ingressaria
E te veria
Confusa por me ver
Chegando assim
Mil dias antes de te conhecer

https://www.youtube.com/watch?v=Gx7EW-l9erg&feature=kp

10 de jan. de 2014

Mário de Andrade: Manhã (1912)

Arnaud Julien Pallière, Ouro Preto - 1820.

O jardim estava em rosa ao pé do Sol
E o ventinho de mato que viera do Jaraguá,
Deixando por tudo uma presença de água,
Banzava gozado na manhã praceana.

Tudo limpo que nem toada de flauta.
A gente si quisesse beijava o chão sem formiga,
A boca roçava mesmo na paisana de cristal.

Um silêncio nortista, muito claro!
As sombras se agarravam no folheto das árvores
Talqualmente preguiças pesadas.
O sol sentava nos bancos tomando banho-de-luz.

Tinha um sossego tão antigo no jardim,
Uma fresca tão de mão lavada com limão,
Era tão marupiara e descansante
Que desejei… Mulher não desejei não, desejei…
Se eu tivesse ao meu lado ali passeando
Suponhamos Lênin, Carlos Prestes, Ghandi, um desses!…

Na doçura da manhã quase acabada
Eu lhes falava cordialmente: – Se abanquem um bocadinho.

E havia de contar pra eles os nomes dos nossos peixes,
Ou descrevia Ouro Preto, a entrada de Vitória, Marajó,
Coisa assim, que pusesse um disfarce de festa
No pensamento dessas tempestades de homens.

2 de jan. de 2014

O pão de Rui Costa


Há pessoas que amam
Com os dedos todos sobre a mesa.
Aquecem o pão com o suor do rosto
E quando as perdemos estão sempre
Ao nosso lado.
Por enquanto não nos tocam:
A lua encontra o pão caiado que comemos
Enquanto o riso das promessas destila
Na solidão da erva.
Estas pessoas são o chão
Onde erguemos o sol que nos falhou os dedos
E pôs um fruto negro no lugar do coração.
Estas pessoas são o chão
Que não precisa de voar.

a nuvem prateada das pessoas graves. quasi, 2005

27 de nov. de 2013

Aléns :: Mia Couto

 M.C. Escher
(...) Olhei  o poente e vi as aves carregando o sol, empurrando o dia para outros aléns.
 Aquela era a minha última noite desse retiro nos matos.  Manhã seguinte eu já entrava na vila, como quem regressa a seu próprio corpo depois do sono. Olhei o poente e vi as aves carregando o sol, empurrando o dia para outros aléns.

fonte: O último voo do flamingo. Companhia das Letras, 2005.

26 de nov. de 2013

É sempre uma história de amor de Gil T. Sousa

 James McNeill Whistler, 1865
é sempre
uma história de amor:

a árvore
que se afeiçoa ao pássaro

o sol
que se liga à água

os olhos
que se prendem ao mar

In: falso lugar, 2004

28 de set. de 2013

Trouxe o sol à poesia de João Cabral de Melo Neto

Chagall
Trouxe o sol à poesia
mas como trazê-lo ao dia?

No papel mineral
qualquer geometria
fecunda a pura flora
que o pensamento cria.

Ora, no rosto que, grave
riso súbito abria,
no andar decidido
que os longes media,

na calma segurança
de quem tudo sabia,
no contacto das coisas
que apenas coisas via,

nova espécie de sol
eu, sem contar, descobria:
não a claridade imóvel
da praia ao meio-dia,

de aérea arquitetura
ou de pura poesia:
mas o oculto calor
que as coisas todas cria.

         (sem data; 1947?)

2 de set. de 2013

Minha vida é monótona :: Saint-Exupêry


Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens também. E isso me incomoda um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fosse música. 

in: O PEQUENO PRINCIPE. Agir, 2006.

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)