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11 de out. de 2016

Envelhecer :: Arnaldo Antunes

A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer
A barba vai descendo e os cabelos vão caindo para cabeça aparecer
Os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é para valer
Os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer

Não quero morrer pois quero ver
Como será que deve ser envelhecer
Eu quero é viver para ver qual é
E dizer venha para o que vai acontecer

Eu quero que o tapete voe
No meio da sala de estar
Eu quero que a panela de pressão pressione
E que a pia comece a pingar
Eu quero que a sirene soe
E me faça levantar do sofá
Eu quero pôr Rita Pavone
No ringtone do meu celular
Eu quero estar no meio do ciclone
Para poder aproveitar
E quando eu esquecer meu próprio nome
Que me chamem de velho gagá

Pois ser eternamente adolescente nada é mais demodé
Com uns ralos fios de cabelo sobre a testa que não para de crescer
Não sei por que essa gente vira a cara para o presente e esquece de aprender
Que felizmente ou infelizmente sempre o tempo vai correr

1 de out. de 2015

Dor :: Alfonsina Storni :(1892 -1938)

Nicholas Roerich 
Quisera esta tarde divina de outubro 
passear pela beira longínqua do mar; 
Que a areia de ouro, e as águas verdes, 
e os céus puros me vissem passar. 

Ser alta, soberba, perfeita, quisera, 
como uma romana, para concordar 
com as grandes ondas, e as rocas mortas 
e as largas praias que apertem o mar. 

Com o passo lento, e os olhos frios 
e a boca muda, deixar-me levar; 
ver como se rompem as ondas azuis, 
contra os granitos e não pestanejar; 
ver como as aves de rapina se comem 
os peixes pequenos e não despertar; 
pensar que puderam as frágeis barcas 
Afundar-se nas águas e não suspirar; 
Ver que se adianta a garganta ao ar, 
O homem mais belo não desejar amar… 

Perder o olhar, distraidamente, 
perde-lo e que nunca o volte a encontrar: 
E figura erguida entre céu e praia 
sentir-me o esquecimento perene do mar. 

Tradução de Maria Teresa Almeida Pina 

.............
Quisiera esta tarde divina de Octubre
pasear por la orilla lejana del mar;

que la arena de oro, y las aguas verdes,
y los cielos puros me vieran pasar.

Ser alta, soberbia, perfecta, quisiera,
como una romana, para concordar

con las grandes olas, y las rocas muertas
y las anchas playas que ciñen el mar.

Con el paso lento, y los ojos fríos
y la boca muda, dejarme llevar;

ver cómo se rompen las olas azules
contra los granitos y no parpadear;

ver cómo las aves rapaces se comen
los peces pequeños y no despertar;

pensar que pudieran las frágiles barcas
hundirse en las aguas y no suspirar;

ver que se adelanta la garganta al aire,
el hombre más bello no desear amar;

perder la mirada, distraidamente,
perderla, y que nunca la vuelva a encontrar;

y, figura erguida, entre cielo y playa,
sentirme el olvido perenne del mar.

25 de jun. de 2015

Inventário :: Jorge Luis Borges

Há que encostar uma escada para subir. Falta-lhe um degrau.
O que podemos procurar no alto
Senão o que a desordem amontoa?
Há o cheiro a umidade.
O entardecer entra pela casa em lâminas de luz.
As vigas do céu raso estão próximas e o piso está vencido.
Ninguém ousa pôr-se de pé.
Há um velho divã desengonçado.
Há umas ferramentas inúteis.
Ali está a cadeira de rodas do morto.
Há um pé de candeeiro.
Há uma rede de dormir paraguaia, com borlas, a desfiar-se.
Há utensílios e papéis.
Há uma estampa do estado-maior de Aparicio Saravia.
Há um velho grelhador a carvão.
Há um relógio de tempo parado, com o pêndulo partido.
Há uma moldura desdourada, sem tela.
Há um tabuleiro de cartão e umas peças desemparelhadas.
Há uma braseira de dois pés.
Há uma arca de cabedal.
Há um exemplar bolorento do Livro dos Mártires de Foxe, em intrincada escrita gótica.
Há uma fotografia que já pode ser de qualquer pessoa.
Há uma pele já gasta que foi de tigre.
Há uma chave que perdeu a sua porta.
O que podemos procurar no alto
Senão o que a desordem amontoa?
Ao esquecimento, às coisas do esquecimento, acabo de erguer este monumento,
Sem dúvida menos duradouro que o bronze e que se confunde com elas.
........................

Hay que arrimar una escalera para subir. Un tramo le falta.

¿Qué podemos buscar en el altillo
Sino lo que amontona el desorden?
Hay olor a humedad.
El atardecer entra por la pieza de plancha.
Las vigas del cielo raso están cerca y el piso está vencido.
Nadie se atreve a poner el pie.
Hay un catre de tijera desvencijado.
Hay unas herramientas inútiles.
Está el sillón de ruedas del muerto.
Hay un pie de lámpara.
Hay una hamaca paraguaya con borlas, deshilachada.
Hay aparejos y papeles.
Hay una lámina del estado mayor de Aparicio Saravia.
Hay una vieja plancha a carbón.
Hay un reloj de tiempo detenido, con el péndulo roto.
Hay un marco desdorado, sin tela.
Hay un tablero de cartón y unas piezas descabaladas.
Hay un brasero de dos patas.
Hay una petaca de cuero.
Hay un ejemplar enmohecido del Libro de los Mártires de Foxe, en intrincada letra gótica.
Hay una fotografía que ya puede ser de cualquiera.
Hay una piel gastada que fue de tigre.
Hay una llave que ha perdido su puerta.
¿Qué podemos buscar en el altillo
Sino lo que amontona el desorden?
Al olvido, a las cosas del olvido, acabo de erigir este monumento,
Sin duda menos perdurable que el bronce y que se confunde con ellas.


Jorge Luis Borges, A Rosa Profunda (1975)


11 de mai. de 2015

O artista inconfessável :: João Cabral de Melo Neto

Orest Kiprensky

Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre o fazer e o não fazer
Mais vale o inútil do fazer.
Mas não, fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que ele é inútil, e bem sabendo
que é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil
do que não fazer, e difícil-
mente se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.


A educação pela pedra. Nova Fronteira, 2004. 

19 de set. de 2014

SCHWEIZER HOF HOTEL :: Manuel António Pina

 Maria Helena Vieira da Silva, 1981

Já aqui estive, já fiz esta viagem,
e estive neste bar neste momento
e escrevi isto diante deste espelho
e da minha imagem diante da minha imagem.

Não mudou nada, nem eu próprio; a mão
escreve os mesmos versos no papel obscuro.
Que aconteceu então fora de tudo?
De que esquecimento se lembra o coração?

Algum passado, alguma ausência,
se passam talvez a meu lado,
talvez tudo exista exilado
de alguma verdadeira existência.

E eu, os versos, o bar, o espelho,
sejamos só imagens noutro espelho
diante de algum Deus em cujo lasso
olhar se fundem outro e mesmo, tempo e espaço.


(n. 1943) Poesia Reunida. Assírio & Alvim, 2001

19 de mar. de 2014

É preciso não esquecer nada :: Cecília Meireles

Childe Hassam
É preciso não esquecer nada: 
nem a torneira aberta nem o fogo aceso, 
nem o sorriso para os infelizes 
nem a oração de cada instante. 

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta 
nem o céu de sempre. 

O que é preciso é esquecer o nosso rosto, 
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso. 

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos, 
a idéia de recompensa e de glória. 

O que é preciso é ser como se já não fôssemos, 
vigiados pelos próprios olhos 
severos conosco, pois o resto não nos pertence. 


(1962)

18 de mar. de 2014

Lembrar é essencial :: Marcia Tiburi

O homem é o animal que lembra. Podemos dizer isso tendo em conta que não haveria, de um modo geral, a cultura, sem o trabalho da memória. Definir o que é a memória, porém, não é fácil. Os cientistas tentam explicá-la afirmando seu funcionamento físico-químico em nível cerebral. Os historiadores criam suas condições gráficas por meio de documentos e provas, definem, com isso, uma linguagem compreensível sobre o que ela seja: o que podemos chamar de “campo da memória”. Os artistas e escritores tentam invocar seus subterrâneos, aquilo que, mesmo sem sabermos, constitui nosso substrato imagético e simbólico. Mas o que é a memória para cada um de nós que, em tempos de excesso de informação, de estilhaçamento de sentidos, experimenta o fluxo competitivo do cotidiano, a rapidez da vida, como se ela não nos pertencesse? Como fazemos a experiência coletiva e individual da memória? É possível lembrar? Lembrar o quê? Devemos lembrar?

Se esta pergunta é possível, a contrária também tem validade: haverá algo que devamos esquecer?

A memória é um enigma

Para os antigos gregos Mnemósyne era a deusa da memória, a mãe das nove musas que inspiravam os poetas, os músicos, os bailarinos. Seu simbolismo define que a memória precisa ser criada pelas artes. Numa civilização oral como foi a grega nada mais compreensível do que uma divinização da memória. A memória é a mãe das artes, tanto quanto nelas se reproduz, por meio delas é que mantém sua existência. Por isso, ela presidia a poesia, permitindo ao poeta saber e dizer o que os humanos comuns não sabiam. Que a memória seja mãe das musas significa que a lembrança é a mãe da criatividade. Mas de que lembrança se está tratando?

Para além da mitologia, na filosofia, distinguiam-se dois modos de rememoração: Mneme, espécie de arquivo disponível que se pode acessar a qualquer momento e Anamnese ou a memória que está guardada em cada um e que pode ser recuperada com certo esforço. A primeira envolve um registro consciente, enquanto a segunda manifesta o que há de inconsciente na produção de nossas vidas, ou seja, o que nos constitui sem que tenhamos percebido que nos aconteceu, que se forjou por nossa própria obra.

A memória era a deusa que permitia a conexão com os mortos, com o que já foi, com o que poderia ter sido, com o que, para sempre, não mais nos pertence desde que, com ele, não partilhamos o tempo.

Quando esquecer é uma culpa mal-resolvida

O atual modo de vida, pleno de elementos descartáveis, não privilegia a memória. O que se chama “consumismo” tem relação direta com o abandono e o descaso com a memória. Descarta-se tudo, de objetos de uso doméstico a amigos, de roupas a amores. O projeto ecologista da reciclagem é, de certo modo, um trabalho de memória. Na apressada vida urbana vige a regra de que tudo passa, o encanto pertence apenas à novidade, tudo vira lixo instantaneamente. A fungibilidade, a capacidade de trocar, é universal. Se tudo o que existe deve ser descartado, significa que sua existência não faz muita diferença. Esquecer assim, ou elevar o esquecimento a esta lei, é algo perverso.

Este gesto tem, porém, uma estranha e maléfica compensação. Numa cultura em que esquecer é a lei, ressentir é inevitável. O ressentimento é a incapacidade de esquecer, impossibilidade de deixar de lado, de abandonar o verdadeiro lixo, ou, em outros termos, o passado com o que, nele, foi espúrio. Ressentimos porque não somos capazes de ver além, carregamos o sofrimento como gozo, ou seja, como o que, contraditoriamente, nos faz bem.

Por outro lado, o ressentimento é movido pela culpa de ter abandonado algo que, injustiçado, tempos depois, reclama sua volta. O ressentimento é um mal por ser fruto da culpa. A culpa, por sua vez, é como uma doença contagiosa da qual a humanidade inteira foi vítima, e ainda é, enquanto não aprende a compreender e aceitar suas próprias escolhas. A esta capacidade chama-se hoje responsabilidade. Mas mesmo com a responsabilidade é preciso tomar cuidado para que ela não seja um mero disfarce da culpa que ainda não eliminamos. Responsabilidade só é possível quando há solidariedade. Quando nos responsabilizamos não apenas por nossas vidas e atos, mas percebemos que somos apenas parte da vida e que muitas de nossas escolhas são coletivas.

Vantagens da memória e do esquecimento

Nietzsche, filósofo que morreu em 1900, dizia que a memória tinha vantagens e desvantagens na vida. É certo que quem quiser viver bem, quem almejar de algum modo ser feliz, deverá provar o equilíbrio entre lembrar e esquecer. Temos, neste momento, um problema de distinção: o que devemos esquecer, o que devemos lembrar? Na busca de um meio termo, mais vantajoso será guardar o que nos traz bons afetos, ou alegria e descartar o que nos traz maus sentimentos, ou tristezas. Motivos para a infelicidade não faltam a quem quiser olhar para a história humana e a história pessoal. Mas enquanto a memória histórica nos faz bem, pois nos mostra o que se passou para chegarmos até aqui, a memória pessoal faz o mesmo, mas ela só tem sentido se conectada à memória coletiva. Para poder buscar a alegria de viver é preciso olhar para a frente, para o futuro e reinventar a vida a cada dia. É esta invenção do presente que nos dará, no futuro, um passado do qual tenhamos prazer em lembrar. Viver do passado ou no passado, só prejudica o presente no qual, elaboramos o que será amanhã o passado.

Esquecer com criatividade

Diante do trauma, da lembrança que ficou recalcada em substratos profundos de nossa inconsciência, que define o ser e o agir sociedades inteiras, como o que foi vivido em catástrofes como a nazista, a do Vietnã, a da colonização e escravização no Brasil, e tantas que conhecemos nas vidas pessoais e familiares, esquecer torna-se um remédio contra o sofrimento. Mas esquecer não é apagar o que se viveu de modo abstrato, muitas vezes é justamente pela “rememoração” que nos lembramos. Por isso, contar histórias, fazer arte, ou seja, deixar-se levar pelas musas, continua sendo a melhor saída. A vida criativa é a única que evita o mau esquecimento e, por outro lado, a má lembrança que é o ressentimento.


Revista Vida Simples, Março 2007

20 de dez. de 2013

Esquecemo-nos de quase tudo :: José Eduardo Agualusa


David Dehner 

“- A nossa espécie – continuou – tem fraca memória. Esquecemo-nos de quase tudo. Muitas vezes, por outro lado, julgamos lembrar-nos de coisas que nunca nos aconteceram. Coisas que lemos, que aconteceram a outros, ou que alguém nos contou. Certos peixes esquecem-se de onde vieram no curto instante que levam a percorrer um aquário. O aquário é para eles, dessa forma, um espaço infinito, novo a cada instante, cheio de surpresas e diversidade. Cada volta que dão parece-lhes uma experiência inédita. Connosco passa-se algo semelhante. A natureza criou o esquecimento para que nos seja possível suportar o terrível tédio deste minúsculo aquário a que chamamos vida.”

In: Um Estranho em Goa.  Edições Cotovia

3 de dez. de 2013

Coisas que criam alma na pessoa de Mia Couto

Arkhip Kuindzhi

(…) Não era tristeza. Era um vazio. Os tristes têm um céu. Cinzento, mas céu. Os desesperados têm um deserto. Meu pai olhava para trás: era mais o esquecido que o vivido. O que não lembrava era porque se esquecera de viver? Ou tudo tinha ficado lá, na mina que desmoronou? Quando se cruzava comigo, de pijama, a meio do dia, meu pai se justificava: – Sua mãe quer que eu faça dessas coisas que criam alma na pessoa. Só que ela não entende: se eu estou vivo é porque não tenho alma nenhuma. E agora, olhando-o sob aquele estilhaçado luar, me pareceu que meu pai não era senão poeira entre poeiras de Lua.

31 de mai. de 2013

ESPELHO DE DUAS FACES de ANTÓNIO GEDEÃO


Ajuda-me a esquecer as tuas faltas
e a ignorar os teus crimes
para melhor te amar.
Dá-me a febre em que te exaltas
e o que nos olhos exprimes
quando não sabes falar.

Espelho de duas faces, plana e curva:
és, e não és.
Imagem dupla, ora límpida, ora turva,
numa te afirmas, noutra te negas, em ambas te crês.

Queria sentir-te em outros sentidos.
Queria ver-te sem olhos e ouvir-te sem ouvidos.
E queria as tuas mãos numa aldeia fraterna.
Essas mãos que ainda ontem, de manhã, aturdidas,
com duas varas secas e folhas ressequidas
arrepiaram de luz as sombras da caverna. 

in "POESIA COMPLETA" (Ed. João Sá da Costa, 1996)

11 de abr. de 2013

Sólo le pido a Dios de Leon Gieco


Sólo le pido a Dios
Que el dolor no me sea indiferente,
Que la reseca muerte no me encuentre
Vacío y solo sin haber hecho lo suficiente.

Sólo le pido a Dios
Que lo injusto no me sea indiferente,
Que no me abofeteen la otra mejilla
Después que una garra me arañó esta suerte.

Sólo le pido a Dios
Que la guerra no me sea indiferente,
Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente.

Sólo le pido a Dios
Que el engaño no me sea indiferente
Si un traidor puede más que unos cuantos,
Que esos cuantos no lo olviden fácilmente.

Sólo le pido a Dios
Que el futuro no me sea indiferente,
Desahuciado está el que tiene que marchar
A vivir una cultura diferente.
------
Só peço a Deus
que a dor não me seja indiferente
que a seca morte não me encontre
vazia e só sem ter feito o suficiente

Só peço a Deus
que o injusto não me seja indiferente
que não me esbofeteem a outra face
Depois que uma garra me arranhou essa sorte

Só peço a Deus
que a guerra não me seja indiferente
É um monstro grande e esmaga
Toda pobre inocência da gente

Só peço a Deus
que o engano não me seja indiferente
Se um traidor pode mais que uns quantos,
que esses não esqueçam facilmente

Só peço a Deus
que o futuro não me seja indiferente,
Desiludido está o que tem que marchar
para viver uma cultura diferente

Só peço a Deus
que a guerra não me seja indiferente
É um monstro grande e esmaga
Toda pobre inocência da gente


29 de jan. de 2013

Evadir-me, esquecer-me de Sophia de Mello Breyner Andresen


Evadir-me, esquecer-me, regressar

À frescura das coisas vegetais,
Ao verde flutuante dos pinhais
Percorridos de seivas virginais
E ao grande vento límpido do mar.



Obra Poética I

Caminho

13 de dez. de 2012

Memória de Santo Agostinho


Em seu livro, "As Confissões", Santo Agostinho refletiu sobre o arcabouço da memória. "Mas eis-me diante dos campos , dos vastos palácios da memória, onde estão os tesouros de inúmeras imagens trazidas por percepções de toda espécie. Lá estão guardados todos nossos pensamentos, quer aumentando, quer diminuindo, quer modificando de qualquer modo as aquisições de nossos sentidos, e tudo que aí depositamos ou reservamos, se ainda não foi sepultado ou absorvido pelo esquecimento."

8 de mar. de 2012

Todo mundo tem sua Madeleine de Pedro Nava

"Todo mundo tem sua Madeleine, num cheiro, num gosto, numa cor, numa releitura - na minha vidraça iluminada de repente! - e cada um foi um pouco furtado pelo petit Marcel porque ele é quem deu forma poética decisiva e lancinante a esse sistema de recuperação do tempo. Essa retomada, a percepção desse processo de utilização da lembrança (até então inerte como a Bela Adormecida no Bosque do inconsciente) tem algo da violência e da subitaneidade de uma explosão, mas é justamente o seu contrário, porque concentra por precipitação e suscita crioscopicamente o passado diluído - doravante irresgatável e incorruptível. Cheiro de moringa nova, gosto de sua água, apito de fábrica cortando as madrugadas irremediáveis. Perfume de sumo de laranja no frio ácido das noites de junho. Escalas de piano ouvidas ao sol desolado das ruas desertas. Umas imagens puxam as outras e cada sucesso entregue assim devolve tempo e espaço comprimidos e expande, em quem evoca essas dimensões, revivescências povoadas do esquecido pronto para renascer." 
Baú de ossos, p. 291/292

11 de jan. de 2012

Imprevisão do tempo de Débora Siqueira Bueno

Olívia Niemeyer -   Nós: autobiografismos

Trago óculos de sol para um dia de chuva fina.
Chovem ausências e me desprotejo.
Quero sentir a dor funda, visceral,
palpar lembranças rombas
sob o rebordo costal.

Tenho o vestido leve para o dia em cinzas.
O ar me agulha a pele.
Quero o frio que me lembre quem não fui.
Tenho saudades
de futuros esquecidos.

6 de out. de 2011

Livrinho


Tenho um livrinho onde escrevo
Quando me esqueço de ti.
É um livro de capa negra
Onde inda nada escrevi.

Fernando Pessoa

13 de set. de 2009

Sonhos


Há sonhos que devem ser ressonhados, projetos que não podem ser esquecidos..."
"Estar sendo. Ter sido"  de Hilda Hilst

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)