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21 de set. de 2020

De amar mucho tienes a palabra de Dulce María Loynaz

Salvador Dali

De amar mucho tienes 
a palabra que persuade, 
la mirada que vence 
y que turba...

De amar mucho dejas amor
en torno tuyo, el que pasa 
cerca y se huele el perfume
en el pecho, viene a creer
que tiene la rosa dentro...


fonte: Poemas sin nombre. Letras Cubanas, 1993.

http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/omara-portuondo-e-maria-bethania/poema-lxiv--palabras--palavras/2349610

16 de jun. de 2015

A curva dos teus olhos :: Paul Éluard

Andrew Wyeth

A curva dos teus olhos dá a volta ao meu peito
É uma dança de roda e de doçura.
Berço nocturno e auréola do tempo,
Se já não sei tudo o que vivi
É que os teus olhos não me viram sempre.

Folhas do dia e musgos do orvalho,
Hastes de brisas, sorrisos de perfume,
Asas de luz cobrindo o mundo inteiro,
Barcos de céu e barcos do mar,
Caçadores dos sons e nascentes das cores.

Perfume esparso de um manancial de auroras
Abandonado sobre a palha dos astros,
Como o dia depende da inocência
O mundo inteiro depende dos teus olhos
E todo o meu sangue corre no teu olhar.

7 de abr. de 2015

RECEITA DE PÃO :: ROSEANA MURRAY

Anders Zorn, 1889
é coisa muito antiga
o ofício do pão
primeiro misture o fermento
com água morna e açúcar
e deixe crescer ao sol

depois numa vasilha
derrame a farinha e o sal
óleo de girassol manjericão

adicionado o fermento
vá dando o ponto com calma
água morna e farinha

mas o pão tem seus mistérios
na sua feitura há que entrar
um pouco da alma do que é etéreo

então estique a massa
enrole numa trança
e deixe que descanse
que o tempo faça a sua dança

asse em forno forte
até que o perfume do pão
se espalhe pela casa e pela vida

in Receitas de olhar, ed. FTD , 1997

26 de mar. de 2015

Agora vou falar da dolencia das flores :: Clarice Lispector

John William Waterhouse

Agora vou falar da dolência das flores para sentir mais a ordem do que existe. Antes te dou com prazer o néctar, suco doce que muitas flores contêm e que os insetos buscam com avidez. Pistilo é órgão feminino da flor que geralmente ocupa o centro e contém o rudimento da semente. Pólen é pó fecundante produzido nos estames e contido nas anteras. Estame é órgão masculino da flor. É composto por estilete e pela antera na parte inferior contornando o pistilo. Fecundação é a união de dois elementos de geração - masculino e feminino - da qual resulta o fruto fértil. “E plantou Javé Deus um jardim no Éden que fica no Oriente e colocou nele o homem que formara” (Gen. 11-8).
Quero pintar uma rosa.
Rosa é flor feminina que se dá toda e tanto que para ela só resta a alegria de se ter dado. Seu perfume é mistério doido. Quando profundamente aspirada toca no fundo íntimo do coração e deixa o interior do corpo inteiro perfumado. O modo de ela se abrir em mulher é belíssimo. As pétalas têm gosto bom na boca - é só experimentar. Mas rosa não é it. É ela. As encarnadas são de grande sensualidade. As brancas são a paz do Deus. É muito raro encontrar na casa de flores rosas brancas. As amarelas são de um alarme alegre. As cor-de-rosa são em geral mais carnudas e têm a cor por excelência. As alaranjadas são produto de enxerto e são sexualmente atraentes.
Preste atenção e é um favor: estou convidando você para mudar-se para reino novo.
fonte: Água viva. 11. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990.

31 de jan. de 2015

GANGORRA :: FLORA FIGUEIREDO

 Roy Lichtenstein

Eu namoro a noite, 
você apaga a lua; 

eu perfumo o lençol, 
você dorme na rua; 

eu aprumo a estrela, 
você a entorta; 

eu colho a maçã 
você traz a lagarta; 

eu rego o ipê 
você parte o galho; 

eu tempero com sal, 
você talha o molho; 

eu lavo o cristal, 
você trinca a ponta; 

eu adoço com mel, 
você passa do ponto; 

eu beijo na boca, 
você faz de conta. 


In:  Chão de Vento, 2005

20 de jan. de 2014

As bênçãos de Manoel de Barros

Leonardo Varuzza 

Não tenho a anatomia de uma garça pra receber
em mim os perfumes do azul.
Mas eu recebo.
É uma bênção.
Às vezes se tenho tristeza, as andorinhas me
namoram mais de perto.
Fico enamorado.
É uma bênção.
Logo dou aos caracóis ornamentos de ouro
para que se tornem peregrinos do chão.
Eles se tornam.
É uma bênção.
Até alguém já chegou de me ver passar
a mão nos cabelos de Deus!
Eu só queria agradecer.

16 de out. de 2013

Flor e cronópio de Julio Cortázar


Um cronópio encontra uma flor solitária no meio dos campos. Primeiro pensa em arrancá-la, mas percebe que é uma crueldade inútil, e se coloca de joelhos junto dela e brinca alegremente com a flor, isto é: acaricia-lhe as pétalas, sopra para que ela dance, zumbe feio uma abelha, cheira seu perfume, e deita finalmente debaixo da flor envolvido em uma enorme paz.
A flor pensa: "É como uma flor."

Do livro: Histórias de cronópios e de famas. Editora Civilização Brasileira, 10ª edição, 2007.

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)