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15 de dez. de 2014

Soneto do amigo de Vinicius de Moraes



Enfim, depois de tanto erro passado 
Tantas retaliações, tanto perigo 
Eis que ressurge noutro o velho amigo 
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado 
Com olhos que contêm o olhar antigo 
Sempre comigo um pouco atribulado 
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano 
Sabendo se mover e comover 
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

9 de jul. de 2014

VINTE ANOS :: Vinicius de Moraes ( 19 de outubro de 1913 - 9 de julho de 1980)


Pela campina as borboletas se amam ao estrépito das asas. 
Tudo quietação de folhas. E um sol frio 
Interiorizando as almas. 
Mergulhado em mim mesmo, com os olhos errando na campina 
Eu me lembro da minha juventude. 
Penso nela como os velhos na mocidade distante: 
- Na minha juventude... 

Eu fui feliz nesse passado grato 
Viviam então em mim forças que já me faltam. 
Possuía a mesma sinceridade nos bons e maus sentimentos. 
Aos frenesis da carne se sucediam os grandes misticismos quietos. 
Era um pequeno condor que ama as alturas 
E tem confiança nas garras. 
Tinha fé em Deus e em mim mesmo 
Confessava-me todo domingo 
E tornava a pecar toda segunda-feira 
Tinha paixão por mulheres casadas 
E fazia sonetos sentimentais e realistas 
Que catalogava num grande livro preto 
A que tinha posto o nome de Foederis Arca. 

A minha juventude... 

Onde eu seguia ansioso Tartarin pelos Alpes 
E Júlio Verne foi o mais audaz de todos os cérebros... 
Onde Mr. Pickwick era a alegria das noites de frio 
E Athos o mais perfeito de todos os homens... 
A minha juventude 
Onde Cervantes não era o filósofo de D. Quixote... 

A minha juventude 
E a noite passada em claro chorando Jean Valjean que Victor Hugo matara… 
Como vai longe tudo! 

Pesa-me como uma sufocação meus próximos vinte anos 
E esta experiência das coisas que aumenta a cada dia. 
Medo de ser jovem agora e ser ridículo 
Medo da morte futura que a minha juventude desprezava 
Medo de tudo, medo de mim próprio 
Do tédio das vigílias e do tédio dos dias…

Virá para mim uma velhice como vem para os outros 
Que me dissecará na experiência? 

Da campina verde voaram as borboletas… 

Só a quietação das folhas 

E o meu turbilhão de pensamentos.

Rio de Janeiro , 1933

19 de out. de 2013

Eu não existo sem você de Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim

Munch 

Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim 
Que nada nesse mundo levará você de mim 
Eu sei e você sabe que a distância não existe 
Que todo grande amor 
Só é bem grande se for triste 
Por isso, meu amor 
Não tenha medo de sofrer 
Que todos os caminhos me encaminham pra você 

Assim como o oceano 
Só é belo com luar 
Assim como a canção 
Só tem razão se se cantar 
Assim como uma nuvem 
Só acontece se chover 
Assim como o poeta 
Só é grande se sofrer 
Assim como viver 
Sem ter amor não é viver 

Não há você sem mim
E eu não existo sem você

15 de ago. de 2013

Garota De Ipanema de Tom Jobim


Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
No doce balanço, a caminho do mar

Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar

Ah, porque estou tão sozinho
Ah, porque tudo é tão triste
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha

Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor


22 de jun. de 2013

As Abelhas de Vinicius de Moraes


A abelha-mestra
E as abelhinhas
Estão todas prontinhas
Para ir para a festa
Num zune-que-zune
Lá vão pro jardim
Brincar com a cravina
Valsar com o jasmim
Da rosa pro cravo
Do cravo pra rosa
Da rosa pro favo
E de volta pra rosa








5 de dez. de 2012

Meu tempo é quando de Vinícius de Moraes

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando.

19 de out. de 2012

A terra prometida de Vinicius de Moraes , Toquinho


Poder dormir 

Poder morar 

Poder sair 

Poder chegar 

Poder viver 

Bem devagar 

E depois de partir poder voltar 

E dizer: este aqui é o meu lugar 

E poder assistir ao entardecer 

E saber que vai ver o sol raiar 

E ter amor e dar amor 

E receber amor até não poder mais 

E sem querer nenhum poder 

Poder viver feliz pra se morrer em paz

12 de ago. de 2012

Meu Pai de Vinicius de Moraes

Van Gogh
Meu pai, dá-me os teus velhos sapatos manchados de terra
Dá-me o teu antigo paletó sujo de ventos e de chuvas
Dá-me o imemorial chapéu com que cobrias a tua paciência
E os misteriosos papéis em que teus versos inscreveste.

Meu pai, dá-me a tua pequena chave das grandes portas
Dá-me a tua lamparina de rolha, estranha bailarina das insônias
Meu pai, dá-me os teus velhos sapatos.

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)