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5 de dez. de 2015

Encontro :: HAGAR PEETERS (Amsterdam, 1972)


Ele não apareceu.
Talvez tenha adoecido ou ficado debaixo de
um eléctrico. Talvez outra pessoa se pusesse na conversa com ele.
Talvez se tenha esquecido do relógio,
ou o relógio se tenha esquecido de lhe dar o tempo certo.
Talvez o carro não pegasse,
ou tenha ficado avariado a meio do caminho.
Talvez alguém lhe telefonasse quando ia a sair de casa,
dizendo-lhe que tinha de ir a um funeral
ou que a mãe dele tinha morrido.
Talvez tenha encontrado um antigo conhecido.
Talvez tenha tido uma discussão no emprego,
tenha sido despedido e esteja a esconder
a cabeça debaixo de uma almofada.
Talvez a ponte estivesse fechada e
a seguinte também.
Talvez o semáforo permanecesse vermelho.
Talvez o multibanco tenha engolido o cartão
ou a meio do caminho tenha reparado que se esquecera
do porta-moedas.
Talvez tenha perdido os óculos,
não conseguisse deixar de ler,
houvesse um programa que ele queria acabar de ver,
não conseguisse dar a volta à fechadura da porta,
não encontrasse as chaves em sítio nenhum e
o cão dele de repente começasse a vomitar.
Talvez não houvesse um telefone por perto,
não encontrasse o restaurante
ou esteja à espera noutro sítio, por engano.
Talvez – a última possibilidade,
incompreensível e inesperada –
ele tenha deixado de me amar.

(in Genoeg gedicht over de liefde vandaag, 1999)

4 de ago. de 2012

A Hora de Estrela Leminski


“Amo o que foi 
e já não é a dor 
que não me dói” 
“De agora em diante 
só o durante dura”

“Já ouvi doze vezes 
dar a hora
Num relógio que diz 
que é meio dia”

Dentro do tempo 
há o agora
E a vida preserva

18 de fev. de 2012

Compassado de Débora Siqueira Bueno


Relógio de Salvador Dalí

No estacionamento da Faculdade de Medicina 
em Belo Horizonte 
(lugares muito amados têm seus nomes), 
entre os imensos fícus não acho, 
lugar nenhum, meu carro. 
Caminho incessante noite adentro – 
o que procuro? 
Talvez não busque nada ou, quem sabe, 
só queira descansar nesse cenário. 
Compassado caminho, luz e sombra, 
o sol penetra a ramagem densa. 
Escuto os meus passos sobre as folhas, 
ninguém a habitar aquele espaço. 
Carrego em minhas mãos pequenos seixos, 
meus dentes se quebraram em pedaços. 
E vago, desdentada, labirinto, 
as mãos bem juntas, para que não caia 
pedaço algum que possa ser colado. 
Súbito percebo, não são dentes – 
um brilho de metal faísca à vista. 
Pequenas engrenagens de relógio 
aguardam, impossível, o conserto 
do tempo que se foi, já desmontado.

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)