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19 de ago. de 2015

Palavra: Adriane Garcia

Edvard Munch, 1894

Olhos
Uma cadeira não vê
Vive na mais completa escuridão
E assim, chão, quadro, teto
Nem luminária vê clarão
Mas eu, com minhas orbitais
Por onde luz atravessa
E processa
Vejo
E abrir os olhos é como
Abrir a flor
Fresca, primeira
Para o Sol
É como ter sonhado
E acordado
Com o ingresso
Na mão.

Das aparências
Achei meus óculos
Minha maneira de ver
(Não quero estar míope)
De longe, tudo pequeno
Embaralha
(Há um excesso de luz)
Astigmática, preciso um tanto
De escuro
Perto, vejo demais
Como se fosse cega.



4 de ago. de 2015

Mia Couto

Jiro Yoshihara

Dentro de cada um há o seu escuro. 
E nesse escuro só mora quem lá inventamos. 
Somos nós quem enchemos o escuro com os nossos medos.

21 de abr. de 2015

Que este amor não me cegue nem me siga. :: Hilda Hilst

 Alphonse Mucha

Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
e do tormento
de só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
de um suposto de heras em alto muro.

Que este amor só me faça descontente
e farta de fadigas. E de fragilidades tantas
eu me faça pequena. E diminuta e tenra
como só soem ser aranhas e formigas.

Que este amor só me veja de partida.

In:  "Cantares do Sem-nome e de Partidas"  

19 de mar. de 2015

Parada cardíaca :: Paulo Leminski

Henri Matisse

Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure,
vem de dentro.
Vem da zona escura
donde vem o que sinto.
Sinto muito,
sentir é muito lento.

10 de jan. de 2015

DISCURSO DE NOIVADO APÓS O JANTAR:: HANS MAGNUS ENZENSBERGER (Kaufbeuren, Alemanha 1929)


Este eu, um recipiente, que
desde que ninguém o abra,
parece compacto, liso
como um ovo Kinder,
quase apetitoso. Somente lá,
no interior, está escuro. Quem sabe
o que estará dentro, à tua espera.
Obsessões, sem dúvida,
hábitos enferrujados,
medos incompreensíveis,
truques em segunda mão,
desejos infantis.
Que tu a desejes ter,
a esta prenda embrulhada,
roça o milagre.

23 de dez. de 2014

UMA COISA É NECESSÁRIA :: HANS BØRLI (Noruega 1918-1989)

Claude Monet 


Uma coisa é necessária – aqui
neste nosso mundo díficil
de sem-abrigos e desterrados:

Fixares residência em ti.

Entra pela escuridão
e limpa a fuligem da lâmpada.

Para que as pessoas na estrada
possam entrever uma luz
em teus olhos habitados.

(1974)

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)