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8 de ago. de 2016

Limites de Sophia de Mello Breyner Andresen (1914-2004)

Ferdinand Hodler


Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes


6 de jun. de 2014

Faça de Conta :: Isabel Machado

Oswaldo Guayasamin

Faça de conta 
que a vida é curta 
e o tempo não nos pertença 
para assim sorver cada minuto 
como último 
e cada sonho 
como eterno... 
Faça de conta 
que não há limites
entre espaços 
quando abraços - em costas 
são sentidos à léguas... 
Faça de conta 
que o desejo nunca morre 
não dá trégua 
não pede água 
e só não é eterno 
para viver mais 
em clima de paixão..

5 de mar. de 2014

Pudesse eu :: Sophia de Mello Breyner Andreson

Salvador Dali
Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!

Poesia, Antologia. Moraes Editores, 1970

7 de out. de 2013

Desafio de Orides Fontela


Contra as flores que vivo 
contra os limites 
contra a aparência a atenção pura 
constrói um campo sem mais jardim
que a essência.

22 de ago. de 2012

E eu estou no mundo solta e fina como uma corça na planície de Clarice Lispector




E eu estou no mundo solta e fina como uma corça na planície. Levanto-me suave como um sopro, ergo minha cabeça de flor e sonolenta, os pés leves, atravesso campos além da terra, do mundo, do tempo, de Deus. Mergulho e depois emerjo, como de nuvens, das terras ainda não possíveis, ah ainda não possíveis. Daquelas que eu ainda não soube imaginar, mas que brotarão. Ando, deslizo, continuo, continuo... Sempre, sem parar, distraindo minha sede cansada de pousar num fim. – Onde foi que eu já vi uma lua alta no céu, branca e silenciosa? As roupas lívidas flutuando ao vento. O mastro sem bandeira, ereto e mudo fincando no espaço... tudo à espera da meia-noite... – Estou me enganando, preciso voltar. Não sinto loucura no desejo de morder estrelas, mas ainda existe a terra. E porque a primeira verdade está na terra e no corpo. Se o brilho das estrelas dói em mim, se é possível essa comunicação distante, é que alguma coisa quase semelhante a uma estrela tremula dentro de mim. Eis-me de volta ao corpo. Voltar ao meu corpo. Quando me surpreendo ao fundo do espelho assusto-me. Mal posso acreditar que tenho limites, que sou recortada e definida. Sinto-me espalhada no ar, pensando dentro das criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesma. Quando me surpreendo ao espelho não me assusto porque me ache feia ou bonita. É que me descubro de outra qualidade. Depois de não me ver há muito quase esqueço que sou humana, esqueço meu passado e sou com a mesma libertação de fim e de consciência quanto uma coisa apenas viva. 
in Perto do Coração Selvagem, p. 78

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)