31 de mai. de 2014

Elegia 1938 de Carlos Drummond de Andrade



Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, 
onde as formas e as ações no encerram nenhum exemplo.

Praticas laboriosamente os gestos universais, 

sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual. 



Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,

e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção. 
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze 
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas. 

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra 
e sabes que, dormindo, os problemas de dispensam de morrer. 
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina 
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras. 

Caminhas entre mortos e com eles conversas 
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito. 
A literatura estragou tuas melhores horas de amor. 
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear. 

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva. 
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição 
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan. 



30 de mai. de 2014

Dueto de Chico Buarque



Consta nos astros, nos signos, nos búzios

Eu li num anúncio, eu vi no espelho, tá lá no evangelho, garantem os orixás

Serás o meu amor, serás a minha paz

Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas
Eu fiz uma tese, eu li num tratado, está computado nos dados oficiais
Serás o meu amor, serás a minha paz
Mas se a ciência provar o contrário, e se o calendário nos contrariar
Mas se o destino insistir em nos separar
Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas
Os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos
Profetas, sinopses, espelhos, conselhos
Se dane o evangelho e todos os orixás
Serás o meu amor, serás, amor, a minha paz
Consta na pauta, no Karma, na carne, passou na novela
Está no seguro, pixaram no muro, mandei fazer um cartaz
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos mapas, nos lábios, nos lápis
Consta nos Ovnis, no Pravda, na Vodca

AINDA ASSIM, EU ME LEVANTO :: Maya Angelou, pseudônimo de Marguerite Ann Johnson (4 de abril de 1928 — 28 de maio de 2014)

Você pode me riscar da História
com mentiras lançadas ao ar.
Pode me jogar contra o chão de terra,
mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar.

Minha presença o incomoda?
Por que meu brilho o intimida?
Porque eu caminho como quem possui riquezas dignas do grego Midas.
Como a lua e como o sol no céu,
com a certeza da onda no mar,
como a esperança emergindo na desgraça,
assim eu vou me levantar.

Você não queria me ver quebrada?
Cabeça curvada e olhos para o chão?
Ombros caídos como as lágrimas,
minh'alma enfraquecida pela solidão?
Meu orgulho o ofende?
Tenho certeza que sim
porque eu rio como quem possui
ouros escondidos em mim.
Pode me atirar palavras afiadas,
dilacerar-me com seu olhar,
você pode me matar em nome do ódio,
mas ainda assim, como o ar, eu vou me levantar.

Minha sensualidade incomoda?
Será que você se pergunta
por que eu danço como se tivesse
um diamante onde as coxas se juntam?
Da favela, da humilhação imposta pela cor,
eu me levanto.

De um passado enraizado na dor,
eu me levanto.

Sou um oceano negro, profundo na fé
crescendo e expandindo-se como a maré.
Deixando para trás noites de terror e atrocidade,
eu me levanto.

Em direção a um novo dia de intensa claridade,
eu me levanto

trazendo comigo o dom de meus antepassados,
eu carrego o sonho e a esperança do homem escravizado.
E assim, eu me levanto

eu me levanto

eu me levanto.

29 de mai. de 2014

Miltonia (em português: Miltônia) é um gênero botânico pertencente à família das orquídeas (Orchidaceæ)






















Destino de Mahatma Gandhi

Mantenha seus pensamentos positivos, porque seus pensamentos tornam-se suas palavras.
Mantenha suas palavras positivas, porque suas palavras tornam-se suas atitudes.
Mantenha suas atitudes positivas, porque suas atitudes tornam-se seus hábitos.
Mantenha seus hábitos positivos, porque seus hábitos tornam-se seus valores.
Mantenha seus valores positivos, porque seus valores ...
Tornam-se seu destino.

Mahatma Gandhi citado em "Middletown Roots: Featuring the Exciting‎"  Melvia F. Miller

28 de mai. de 2014

Elegia de Cecilia Meireles

Maria Primachenko

Minha tristeza é não poder mostrar - te as nuvens brancas,
e as flores novas, como aroma em brasa,
com sua coroas crepitantes de abelhas.
Teus olhos sorririam,
agradecendo a Deus o céu e a terra:
eu sentiria teu coração feliz
como um campo onde choveu.
Minha tristeza é não poder acompanhar contigo
o desenho das pombas voantes,
o destino dos trens pelas montanhas
e o brilho tênue de cada estrela
brotando à margem do crepúsculo.
Tomarias o luar nas tuas mãos,
fortes e simples como as pedras,
e dirias apenas: ‘ Como vem tão clarinho!’
E nesse luar das tuas mãos se banharia a minha vida,
sem perturbar sua claridade,
mas também sem diminuir minha tristeza.
Cecília Meireles

27 de mai. de 2014




Privatização de José Saramago

próximo de São Francisco Xavier, MG


Privatize-se tudo,
privatize-se o mar e o céu, 
privatize-se a água e o ar, 
privatize-se a justiça e a lei, 
privatize-se a nuvem que passa, 
privatize-se o sonho, 
sobretudo se for diurno e de olhos abertos. 

José Saramago - Cadernos de Lanzarote

26 de mai. de 2014

Nihil de Antonio Cícero

Edvard Munch

nada sustenta no nada esta terra
nada este ser que sou eu
nada a beleza que o dia descerra
nada a que a noite acendeu
nada esse sol que ilumina enquanto erra
pelas estradas do breu
nada o poema que breve se encerra
e que do nada nasceu

25 de mai. de 2014

Sobre o presente :: Marcelo Gleiser

Como dizia Gilberto Gil, "O melhor lugar do mundo é aqui e agora". Todo mundo sabe exatamente o que isso significa, "aqui" e "agora". Mas se paramos para pensar sobre o assunto, descobrimos que nenhum dos dois existe, ao menos de forma concreta. O que existe é uma representação do aqui e do agora em nossas mentes, criada a partir de um truque cognitivo.

No fim das contas, o aqui e o agora são invenções do nosso cérebro, e não entidades que existem, como você ou a cadeira em que você se senta.

A nossa percepção do real, da realidade, é produto de uma integração extremamente complexa feita por nossos cérebros. São incontáveis estímulos sensoriais, imagens, sons, cheiros, tato, que são recolhidos pelos nossos órgãos, transferidos por impulsos nervosos ao nosso cérebro e lá, em regiões diversas, integrados para criar o que chamamos de realidade. O aqui e o agora são exemplos dessa integração, aproximações que criamos para que seja possível funcionar no mundo: sem uma noção do "aqui", como nos posicionar no espaço? Sem uma noção do "agora", do "presente", como ligar passado e futuro?

Que o cérebro constrói a realidade não deve ser surpresa para ninguém. Basta alterar seu funcionamento, após algumas cervejas, uma noite sem dormir ou com o uso de drogas, que nossa percepção do "real" é profundamente afetada. Ninguém dá muita bola para isso, até que acontece alguma coisa. Num caso mais extremo, a demência leva à destruição do indivíduo, do que chamamos de "eu". Quem você é e como você se relaciona com o mundo externo depende exclusivamente de como o seu cérebro integra informação sensorial e as memórias registradas do passado.

O presente, em particular, é uma construção cognitiva fascinante. O tempo flui continuamente, ou assim o percebemos. Mas não temos um relógio dentro das nossas cabeças; o que temos são impulsos externos, estímulos que vêm de fora para dentro, aliados a mecanismos internos, como o bater do coração. Quando vemos algo, fótons de luz são recebidos pela retina de nossos olhos, e um impulso é transmitido pelo nervo óptico até a região posterior do cérebro, onde é analisado e transformado numa imagem. Vemos o mundo de dentro para fora de nossas cabeças! E o que chamamos de presente é uma ilusão.

Quando olhamos em torno, vemos objetos a distâncias diferentes ao mesmo tempo. Mas sabemos que a luz tem uma velocidade finita: o tempo que demora para viajar de um objeto mais distante é maior. Portanto, quando olhamos, por exemplo, para uma árvore e uma nuvem no céu, e vemos os dois objetos ao mesmo tempo, estamos, na verdade, vendo a árvore antes da nuvem; objetos mais distantes estão num passado mais longínquo. Mesmo o seu laptop ou o jornal que você lê não estão sendo vistos agora, mas um bilionésimo de segundo no passado, que é aproximadamente o tempo que a luz demora para ir da tela até os seus olhos.

Quando nos referimos ao presente, estamos, na verdade, nos referindo a uma ilusão construída por nossos cérebros. Nunca vemos nada como é "agora". O presente existe apenas em nossas cabeças.

Corações róseos




Coração é terra que ninguém vê
Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Sachei, mondei - nada colhi.
Nasceram espinhos
e nos espinhos me feri.

Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Cavei, plantei.
Na terra ingrata
nada criei.

Semeador da Parábola...
Lancei a boa semente
a gestos largos...
Aves do céu levaram.
Espinhos do chão cobriram.
O resto se perdeu
na terra dura
da ingratidão

Coração é terra que ninguém vê
- diz o ditado.
Plantei, reguei, nada deu, não.
Terra de lagedo, de pedregulho,
- teu coração. Bati na porta de um coração.
Bati. Bati. Nada escutei.
Casa vazia. Porta fechada,
foi que encontrei..

24 de mai. de 2014

O POETA E O POEMA de Alphonsus de Guimaraens Filho



Nenhum poema se faz de matéria abstrata.

É a carne, e seus suplícios,
ternuras,
alegrias,
é a carne, é o que ilumina a carne, a essência,
o luminoso e o opaco do poema.



Nenhum poema. Nenhum pode nascer do inexistente.
A vida é mais real que a realidade.
E em seus contrastes e seqüelas, funda
um reino onde pervagam
não a agonia de um, não o alvoroço
de outro,
mas o assombro de todos num caminho
estranho
como infinito corredor que ecoa
passos idos (de agora,
e de ontem e de sempre),
passos,
risos e choros — num reino
que nada tem de utópico, antes
mais duro do que rocha,
mais duro do que rocha da esperança
(do desespero?),
mais duro do que a nossa frágil carne,
nossa atônita alma,
— duros pesar de seu destino, duros
pesar de serem só a hora do sonho,
do sofrimento,
de indizível espanto,
e por fim um silêncio que arrepia
a epiderme do acaso:

(...)
Não há poema isento.

Há é o homem.
Há é o homem e o poema.
Fundidos.

23 de mai. de 2014

Lenço dos namorados de Portugal


















Os Lenços dos Namorados eram pedaços de pano bordados por moças apaixonadas e em idade de se casar que presenteavam seus amados com lenços que traziam frases e versos de amor. 

Bordados coloridos e por muitas vezes com erros ortográficos, a beleza destes lenços estava na pureza e sinceridade declarada de um amor que poderia ou não ser correspondido. O moço que recebesse o presente deveria usá-lo em local visível para que a amada soubesse que o amor era correspondido!

INSÔNIA :: FLORA FIGUEIREDO

Silêncio.
Madrugada.
Rua vazia.
Uma lua branca de linho
estendida no escuro,
sobre o nada.
Num momento insone,
conversam confidentes
Presente, Passado, Futuro.
Um pensamento corta o espaço
versejando a esmo.
Escuto passos:
é meu coração abrindo a porta de mim mesmo.

In Chão de Vento, 2005


21 de mai. de 2014

Passarinho Noivinha (Xolmis irupero)



  





  

A Noivinha (Xolmis irupero), também conhecida popularmente por Viuvinha e Viuvinha-Alegre, é uma ave passeriforme da família Tyrannidae.
Seu nome significa: de Xolmis= vocábulo de origem incerta. Provavelmente se refere ao asteca “xomotl”, nome de ave registrado por Hernandez (1651), no México; do (guarani) iruperó = pássaro problemático, com problemas. ⇒ Pássaro xolmis problemático.
Características
Mede cerca de 18 centímetros e é quase todo branco. Apenas as rêmiges primárias (penas da ponta das asas), bem como a ponta das penas da cauda são negras; também são pretos o bico e as pernas.
Come essencialmente insetos que apanha em vôo com apurada técnica: parte de um galho onde esta pousada, apanha a presa em ousadas piruetas e volta para o seu poleiro.
Constrói o ninho em ocos de árvores e ninhos abandonados de João-de-Barro. Põe cerca de 3 ovos que apenas a fêmea choca durante aproximadamente duas semanas. Os filhotes são alimentados por ambos os pais, que lhes trazem o alimento no bico.
Hábitos
Sabe peneirar muito bem, mantendo-se no mesmo ponto no ar, adejando as asas como os beija-flores. Na caatinga seca contra o céu azul destaca-se pela alvura de sua plumagem e de sua extrema elegância de vôo. É uma das mais lindas aves do sertão nordestino.
Vive na caatinga, nos campos com arbustos e árvores esparsas, na beira de brejos, no Nordeste e no sul do Brasil, no Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e ainda na Argentina, Uruguai, Bolívia e Paraguai.
fonte: http://www.wikiaves.com.br/noivinha

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)