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14 de abr. de 2014

Pensamentos sobre o tempo de Paul Fleming (1609-1640)

Vós viveis no tempo e o tempo não conheceis;

Do que sois e onde estais, vós, homens, não sabeis.

O que sabeis é só que num tempo nascestes

E que haveis de partir num tempo, tal viestes.

Mas o que foi o tempo que em si vos deu guarida?

E que será esse outro que de vós fará nada?

O tempo é tudo e nada, o homem a ele igual;

Mas sobre o tudo e o nada a duvida é geral.

O tempo morre em si, e de si renasceu.

Um vem de mim e de ti, outro és tu e sou eu.

O homem é no tempo, este nele também.

E no entanto o homem, quando ele fica, vai.

O tempo é o que vós sois, vós sois o que o tempo é,

Mas bem menos sois vós que aquilo que o tempo é.

Ah, viesse aquele tempo em que tempo não há,

P’ra nos levar do nosso para os tempos de lá

E a nós de nós mesmos, para podermos ser

Iguais àquele tempo que já deixou de ser!


Tradução de João Barrento

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)