Vós viveis no tempo e o tempo não conheceis;
Do que sois e onde estais, vós, homens, não sabeis.
O que sabeis é só que num tempo nascestes
E que haveis de partir num tempo, tal viestes.
Mas o que foi o tempo que em si vos deu guarida?
E que será esse outro que de vós fará nada?
O tempo é tudo e nada, o homem a ele igual;
Mas sobre o tudo e o nada a duvida é geral.
O tempo morre em si, e de si renasceu.
Um vem de mim e de ti, outro és tu e sou eu.
O homem é no tempo, este nele também.
E no entanto o homem, quando ele fica, vai.
O tempo é o que vós sois, vós sois o que o tempo é,
Mas bem menos sois vós que aquilo que o tempo é.
Ah, viesse aquele tempo em que tempo não há,
P’ra nos levar do nosso para os tempos de lá
E a nós de nós mesmos, para podermos ser
Iguais àquele tempo que já deixou de ser!
Tradução de João Barrento
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