31 de jul. de 2025

O velho professor:: Wislawa Szymborska


Perguntei-lhe sobre aquele tempo

quando éramos tão jovens,

ingênuos, impetuosos, despreparados.


Um pouco disso restou, menos a juventude

-- respondeu.


Perguntei-lhe se ainda sabe com certeza

o que é bom e ruim para a humanidade.


É a mais mortal de todas as ilusões possíveis

-- respondeu.


Perguntei-lhe sobre o futuro,

se ainda o vê luminoso.


Li demasiados livros de história

-- respondeu.


Perguntei-lhe sobre a foto,

aquela da moldura, na escrivaninha.


Existiram, se foram. O irmão, o primo, a cunhada,

a mulher, a filha no colo da mulher,

o gato nos braços da filha,

a cerejeira em flor, e sobre a cerejeira

o passarinho não identificado voando.

-- respondeu.


Perguntei se lhe acontece de às vezes ser feliz.


Eu trabalho

-- respondeu.


Perguntei-lhe sobre amigos, se ainda os tem.


Alguns dos meus ex-assistentes,

que também já têm seus ex-assistentes,

a senhora Ludmila, que manda lá em casa,

alguém muito próximo, mas no estrangeiro,

duas senhoras da biblioteca, ambas sorridentes,

o pequeno Grzes que mora em frente e Marco Aurélio

-- respondeu.


Perguntei-lhe sobre o seu estado de saúde e de espírito.


Me proibiram café, vodca, cigarro,

carregar lembranças e coisas pesadas.

Tenho que fingir que não escuto

-- respondeu.


Perguntei sobre o jardim e o banco do jardim.


Quando a noite está clara, observo o céu.

Fico maravilhado de ver

quantos pontos de vista há ali

-- respondeu.



Um amor feliz.

Tradução Regina Przybycien.

Nenhum comentário:

O velho professor:: Wislawa Szymborska

Perguntei-lhe sobre aquele tempo quando éramos tão jovens, ingênuos, impetuosos, despreparados. Um pouco disso restou, menos a juventude -- ...