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8 de out. de 2015

Três sugestões simples para se conhecer mais profundamente um território novo :: Ana Estaregui

Bernhard Edmaier
1. observar com atenção em vista aérea os desenhos formados por seus campos de cultivo (perceber se configuram polígonos, quantos lados possuem, se são regulares ou assimétricos, se possuem forma livre e quantos e quais são os nomes dos tons dessa vegetação)
2. saber como s dá a relação que seus habitantes estabelecem com o rio.
3. descobrir quais os sons mais frágeis de seu idioma e procurar saber quais nuances não possuem correspondência de tradução com a sua língua mãe.

18 de ago. de 2014

Lisonjear as palavras:: Manoel de Barros

Bryan Allen

"Tenho gosto de lisonjear as palavras ao modo que o Padre Vieira lisonjeava. Seria uma técnica literária do Vieira? É visto que as palavras lisonjeadas se enverdeciam para ele. Eu uso essa técnica. Eu lisonjeio as palavras. E elas até me inventam. E elas se mostram faceiras para mim. Na faceirice as palavras me oferecem todos os seus lados. Então a gente sai a vadiar com elas por todos os cantos do idioma.
Ficamos a brincar brincadeiras e brincadeiras. Porque a gente não queria informar acontecimentos. Nem contar episódios. Nem fazer histórias. A gente só gostasse de fazer de conta. De inventar as coisas que aumentassem o nada. A gente não gostava de fazer nada que não fosse de brinquedo. Essas vadiagens pelos recantos do idioma seriam só para fazer jubilação com as palavras. Tirar delas algum motivo de alegria.
Uma alegria de não informar nada de nada. Seria qualquer coisa como a conversa no chão entre dois passarinhos a catar perninhas de moscas. Qualquer coisa como jogar amarelinha nas calçadas. Qualquer coisa como correr em cavalo de pau. Essas coisas. Pura jubilação sem compromissos. As palavras mais faceiras gostam de inventar travessuras. Uma delas propôs que ficássemos de horizonte para os pássaros. E os pássaros voariam sobre o nosso azul. Eu tentei me horizontar às andorinhas. E as palavras mais faceiras queriam se enluarar sobre os rios. Se ficassem prateadas sobre os rios falavam que os peixinhos viriam beijá-las.
A gente brincava no prateado das águas. A mais pura jubilação!"
In: Memórias Inventadas - A Terceira Infância; Planeta, 2010

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)