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29 de dez. de 2015

BRIONI :: Radovan Ivsic (Zagreb, 1921-2009)

Emil Carlsen
Os cervos são borboletas
as borboletas  são peixes
os peixes são claridade
a claridade é morte
a morte é laranja
a laranja é vulcão
o vulcão é feno
o feno é elefante
o elefante é afogamento
o afogamento é riso
o riso é montanha
a montanha é anel
o anel é solidão
a solidão é areia
a areia é roda
a roda é terremoto
o terremoto é cílios
os cílios são cascata
a cascata é bigorna
a bigorna é lembranças
as lembranças são vermelho
o vermelho é chicote
o chicote é fim
o fim é mel
o mel é nuvem
a nuvem é o infinito
o infinito é infinito

31 de jan. de 2015

GANGORRA :: FLORA FIGUEIREDO

 Roy Lichtenstein

Eu namoro a noite, 
você apaga a lua; 

eu perfumo o lençol, 
você dorme na rua; 

eu aprumo a estrela, 
você a entorta; 

eu colho a maçã 
você traz a lagarta; 

eu rego o ipê 
você parte o galho; 

eu tempero com sal, 
você talha o molho; 

eu lavo o cristal, 
você trinca a ponta; 

eu adoço com mel, 
você passa do ponto; 

eu beijo na boca, 
você faz de conta. 


In:  Chão de Vento, 2005

29 de jan. de 2014

O unicórnio de Hilda Hilst

Gauguin 

Então, o que é a vida? E não pude chegar a nenhuma conclusão excepcional, apenas admiti que a vida é uma coisa que pode encher o nosso coração de mel e girassóis. Nossa, que otimismo! E por que girassóis? Porque sinto uma alegria absurda quando vejo um girassol e acho que os girassóis também são uma coisa absurda porque não há nada tão amarelo, tão delicado dentro daquela aparência de flor superfortaleza, não há nada mais comovente do que ver um girassol de manhãzinha bem cedo. E ainda que não houvesse manhãs e sol, o girassol continuaria a ser para mim uma coisa de alegria absurda. Se não houvesse sol, o girassol seria amarelo? Não sei, isso é um problema da física, da ótica, da vida? Não sei, mas ainda que o girassol fosse roxo ou vermelho, para mim ele sempre seria amarelo absurdo. Pois bem, eu estava dizendo que a vida é uma coisa que pode encher o nosso coração de mel e girassóis. É isso. E não pude ir mais adiante. Fiquei um pouco triste de não descobrir uma nova maneira de dizer qualquer coisa de mais fundo a respeito da vida. Depois pensei: quando foi que o meu coração se encheu de mel e girassóis? Olha, eu tenho vergonha de dizer mas vou dizer, vocês vão achar que é bobagem, mas sabem? Sabem, eu gosto muito de escrever, ninguém publica mas eu gosto e, bem, eu vou dizer logo: eu escrevi um conto uma vez e depois que eu acabei o conto eu senti que o meu coração se encheu de mel e girassóis. Um conto? Então lê pra nós. Verdade? Vocês querem ouvir! É verdade? Eu vou buscar.

4 de mar. de 2007

Distribuição da Poesia - Jorge de Lima


Konstantin Makovsky

Mel silvestre tirei das plantas,
sal tirei das águas, luz tirei do céu.
Escutai, meus irmãos: poesia tirei de tudo
para oferecer ao Senhor.
Não tirei ouro da terra
nem sangue de meus irmãos.
Estalajadeiros não me incomodeis.
Bufarinheiros e banqueiros
sei fabricar distâncias
para vos recuar.
A vida está malograda,
creio nas mágicas de Deus.
Os galos não cantam,
a manhã não raiou.
Vi os navios irem e voltarem.
Vi os infelizes irem e voltarem.
Vi homens obesos dentro do fogo.
Vi ziguezagues na escuridão.
Capitão-mor, onde é o Congo?
Onde é a Ilha de São Brandão?
Capitão-mor que noite escura!
Uivam molossos na escuridão.
Ó indesejáveis, qual o país,
qual o país que desejais?
Mel silvestre tirei das plantas,
sal tirei das águas, luz tirei do céu.
Só tenho poesia para vos dar.
Abancai-vos, meus irmãos

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)