29 de mar. de 2011

Más allá de tus ojos





Te recuerdo como eras en el último otoño.  Eras la boina gris y el corazón en calma. En tus ojos peleaban las llamas del crepúsculo Y las hojas caían en el agua de tu alma. Apegada a mis brazos como una enredadera. las hojas recogían tu voz lenta y en calma. Hoguera de estupor en que mi sed ardía. Dulce jacinto azul torcido sobre mi alma. Siento viajar tus ojos y es distante el otoño: boina gris, voz de pájaro y corazón de casa hacia donde emigraban mis profundos anhelos y caían mis besos alegres como brasas. Cielo desde un navío. Campo desde los cerros. Tu recuerdo es de luz, de humo, de estanque en calma! Más allá de tus ojos ardían los crepúsculos. Hojas secas de otoño giraban en tu alma. 


Pablo Neruda

27 de mar. de 2011

Nascente



Clareia manhã 
O sol vai esconder a clara estrela 
Ardente, pérola do céu refletindo teus olhos 
de: Beto Guedes

21 de mar. de 2011

Outonear de Carlos Drummond de Andrade




Todas estavam ainda verdes, mas essa ostentava algumas folhas amarelas e outras já estriadas de vermelho, numa gradação fantasista que chegava mesmo até o marrom – cor final de decomposição, depois da qual as folhas caem. Pequenas amêndoas atestavam seu esforço, e também elas se preparavam para ganhar coloração dourada e, por sua vez, completado o ciclo, tombar sobre o meio-fio, se não as colhe algum moleque apreciador de seu azedinho. É como se o cronista, lhe perguntasse – Fala, amendoeira – por que fugia ao rito de suas irmãs, adotando vestes assim particulares, a árvore pareceu
explicar-lhe:
-- Não vês? Começo a outonear. É 21 de março, data em que as folhinhas assinalam o equinócio do outono. Cumpro meu dever de árvore, embora minhas irmãs não respeitem as estações.
-- E vais outoneando sozinha?
-- Na medida do possível. Anda tudo muito desorganizado, e, como deves notar, trago comigo um resto de verão, uma antecipação de primavera e mesmo, se reparares bem neste ventinho que me fustiga pela madrugada, uma suspeita de inverno.
-- Somos todos assim.
-- Os homens, não. Em ti, por exemplo, o outono é manifesto e exclusivo. Acho-te bem outonal, meu filho, e teu trabalho é exatamente o que os autores chamam de outonada: são frutos colhidos numa hora da vida que já não é clara, mas ainda não se dilui em treva. Repara que o outono é mais estação da alma que da natureza.
-- Não me entristeças.
-- Não, querido, sou tua árvore-de-guarda e simbolizo teu outono pessoal. Quero apenas que te outonize com paciência e doçura. O dardo de luz fere menos, a chuva dá às frutas seu definitivo sabor. As folhas caem, é certo, e os cabelos também, mas há alguma coisa de gracioso em tudo isso: parábolas, ritmos, tons suaves... Outoniza-se com dignidade, meu velho.

15 de mar. de 2011

14 de mar. de 2011

Equilíbrio


                                      CANÇÃO MÍNIMA

                                                        No mistério do Sem-Fim,
                                                        equilibra-se um planeta.
                                                        E, no planeta, um jardim,
                                                        e, no jardim, um canteiro;
                                                       no canteiro, uma violeta,
                                                       e, sobre ela, o dia inteiro,
                                                      entre o planeta e o Sem-Fim,
                                                      a asa de uma borboleta.

                                                                    Cecília Meireles

1 de mar. de 2011

Esfinge

  
foto

Fernand Khnopff, Des Caresses (The Sphinx), 1896

A pintura, intitulada "Arte" ou "Sphinx" ou "carícias" retrata principalmente a união dos aspectos masculinos e femininos dentro do ser, a viagem de volta ao estado andrógino. Nostalgia de completude.

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)