Nancy Goldman
abri a geladeira com a ideia de apanhar figos rijos e cortá-los em fatias finíssimas e simétricas. imaginei interpolá-los a algo levemente amargo como pequeninas folhas almeirão ou endívias novas e produzir uma imagem que, vista de cima, parecesse ficção: uma flor de pétalas ora doces, ora amargas. ou como se o figo tivesse nascido junto com a endívia ou como se fosse natural aos dois essa combinação. imaginei apanhar umas sementes de zimbro, misturar ao sal grosso e moer sobre essa imagem [gosto da ideia de forjar uma espécie de intempérie artificial na paisagem – uma neve]. por fim, regaria com um fio de azeite contínuo e circular sobre isso que chamei de flor.Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
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10 de jul. de 2015
2 de mar. de 2015
Infância :: Helena Kolody
Anita Malfatti
Aquelas tardes de Três Barras,
Plenas de sol e de cigarras!
Quando eu ficava horas perdidas
Olhando a faina das formigas
Que iam e vinham pelos carreiros,
No áspero tronco dos pessegueiros.
A chuva-de-ouro
Era um tesouro,
Quando floria.
De áureas abelhas
Toda zumbia.
Alfombra flava
O chão cobria...
O cão travesso, de nome eslavo,
Era um amigo, quase um escravo.
Merenda agreste:
Leite crioulo,
Pão feito em casa,
Com mel dourado,
Cheirando a favo.
Ao lusco-fusco, quanta alegria!
A meninada toda acorria
Para cantar, no imenso terreiro:
“Mais bom dia, Vossa Senhoria”...
“Bom barqueiro! Bom barqueiro...”
Soava a canção pelo povoado inteiro
E a própria lua cirandava e ria.
Se a tarde de domingo era tranquila,
Saía-se a flanar, em pleno sol,
No campo, recendente a camomila.
Alegria de correr até cair,
Rolar na relva como potro novo
E quase sufocar, de tanto rir!
No riacho claro, às segundas-feiras,
Batiam roupas as lavadeiras.
Também a gente lavava trapos
Nas pedras lisas, nas corredeiras;
Catava limo, topava sapos
(Ai, ai, que susto! Virgem Maria!)
Do tempo, só se sabia
Que no ano sempre existia
O bom tempo das laranjas
E o doce tempo dos figos...
Longínqua infância... Três Barras
Plena de sol e cigarras!
in A Sombra no Rio, 1951)
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