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27 de nov. de 2014

Jorge Luis Borges: "El sueño"

Rene Magritte

Se o sonho fora (como dizem) uma
trégua, o límpido repouso da mente,
por que, se te despertam bruscamente,
sentes que te furtaram grã fortuna?

Por que é tão triste madrugar? A hora
nos despoja de um dom inconcebível,
tão íntimo que só é traduzível
numa modorra que a vigília doura

de sonhos, que bem podem ser reflexos
seccionados dos tesouros complexos
da sombra, de orbe atemporal sem nome

e que o dia em seus espelhos consome.
Quem poderá ser à noite no escuro
sonho, daquele lado do seu muro?

Tradução de Adriano Nunes
........................

Si el sueño fuera (como dicen) una
tregua, un puro reposo de la mente,
¿por qué, si te despiertan bruscamente,
sientes que te han robado una fortuna?

¿Por qué es tan triste madrugar? La hora
nos despoja de un don inconcebible,
tan íntimo que sólo es traducible
en un sopor que la vigilia dora

de sueños, que bien pueden ser reflejos
truncos de los tesoros de la sombra,
de un orbe intemporal que no se nombra

y que el día deforma en sus espejos.
¿Quién serás esta noche en el oscuro
sueño, del otro lado de su muro?


In: "Obra Poética". Buenos Aires: Enecé Editores, 2007, página 255.

24 de jun. de 2014

Hei de amoldar-me a ti como o rio a seu leito :: Dulce María Loynaz

Victor Pasmore, 1950

Hei de amoldar-me a ti como o rio a seu leito, 
como o mar a sua praia, como a espada a sua bainha.
Hei de correr em ti, hei de cantar em ti, hei de guardar-me em ti
de agora em diante.
Fora de ti há de me sobrar o mundo, como ao rio sobra
o ar, ao mar a terra, à espada a mesa do convite.
Dentro de ti não há de me faltar brancura do limo para
minha corrente, perfil de vento para minhas ondas, ajuste e
repouso para meu aço.
Dentro de ti está tudo; fora de ti não há nada.
Tudo o que tu és está em seu lugar, tudo o que não sejas tu me há
de ser vão.
Caibo em ti, estou feita a tua medida; mas se for em mim onde
algo falte, cresço... Se for em mim onde algo sobre,
corto.

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)