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18 de mai. de 2015

Com o Tempo a Sabedoria :: W. B. Yeats

 Frida Kahlo, 1943

Embora muitas sejam as folhas, a raiz é só uma;
Ao longo dos enganadores dias da mocidade,
Oscilaram ao sol minhas folhas, minhas flores;
Agora posso murchar no coração da verdade.
..............

The Coming of Wisdom with Me
Though leaves are many, the root is one;
Through all the lying days of my youth
I swayed my leaves and flowers in the sun;
Now I may wither into the truth.
  
Tradução: José Agostinho Baptista. 

26 de ago. de 2014

Viajar ! Fernando Pessoa

Koshiro Onchi

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.


Poesias. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).  p. 182.

1 de abr. de 2014

Conta a teu filho :: Renata Pallottini

Conta a teu filho, meu filho
Daquilo que nós passamos
Que havia fitas gravadas
Retratos de corpo inteiro
Conta que nos encolhemos
Como animais espancados
Que ninguém teve coragem
Que respirávamos baixo
Olhos fugindo dos olhos
As mãos frias e suadas
E conta que faz dez anos
Que temos pouca esperança
Que pedimos testemunho
E não agüentamos mais
Talvez teu filho, meu filho
Viva em mundo mais aberto
Mas é grave que lhe contes calmamente
E nos mínimos detalhes
A história desses punhais
Cravados em nossas tardes
Porém, se por tudo isso
Renuncias a ter filhos
Como (alguns) renunciamos
Deixa inscritos, como eu deixo
Sinais em troncos de árvores
Letras em papéis esquivos
Pra que não escureça
Essa lâmpada mesquinha
Relâmpago, fogo fátuo
Pura lembrança dos dias
Em que livres,
Fomos filhos de pais muito mais felizes
Conta a quem possas, meu filho
O que em ti forem palavras
Nos outros serão raízes”.

Renata Pallottini. Coração americano. Feira de Poesia, 1979 

10 de set. de 2012

Pequena folha de Pablo Neruda



Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

21 de jan. de 2007

Carranca de Proa : Pablo Neruda



A MENINA de madeira não chegou caminhando:
Ali esteve de súbito sentada nos ladrilhos,
Velhas flores do mar cobriam sua cabeça,
Seu olhar tinha tristeza de raízes.

Ali ficou olhando nossas vidas abertas,
O ir e ser e andar e voltar pela terra,
O dia descolorindo suas pétalas graduais.
Vigiava sem ver-nos a menina de madeira.

A menina coroada pelas antigas ondas
Ali fitava com seus olhos derrotados:
Sabia que vivemos numa rede remota

De tempo e água e ondas e sons e chuva,
Sem saber se existimos ou se somos seu sonho.
Essa é a história da moça de madeira. 


Tradução:  Carlos Nejar
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Soneto LXVIII 

Mascarón de Proa
La niña de madera no llegó caminando: 
allí de pronto estuvo sentada en los ladrillos, 
viejas flores del mar cubrían su cabeza, 
su mirada tenía tristeza de raíces. 

Allí quedó mirando nuestras vidas abiertas, 
el ir y ser y andar y volver por la tierra, 
el día destiñendo sus pétalos graduales. 
Vigilaba sin vernos la niña de madera. 

La niña coronada por las antiguas olas, 
allí miraba con sus ojos derrotados: 
sabía que vivimos en una red remota 

de tiempo y agua y olas y sonidos y lluvia, 
sin saber si existimos o si somos su sueño. 
Ésta es la historia de la muchacha de madera.

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)