O filósofo romeno radicado na França Émil Cioran (século 20) tinha por hábito passar o verão nas praias da Normandia e Bretanha. Num desses momentos, ele escreve que os "novos bárbaros" (os turistas) tomaram o lugar dos "viajantes", pessoas que amam conhecer o mundo pra se "espantar" com ele,
Fui fotografado à minha revelia, em frente a um templo egípcio no Metropolitan Museum de Nova York. À minha revelia,de novo, fotografado fui na 5a.Avenida às três e meia da tarde. Assim, um sem- número de vezes em frente ao Coliseu, nas ruínas de Machu Pichu, perto da Torre de Londres, junto à Catedral de Colônia, sobre as pedras da Acrópole ,em Atenas, nas mesquitas de Istambul e, evidente, em Juiz de Fora. Guardado estou em álbuns japoneses, italianos,americanos,alemães, franceses argentinos, senegaleses, disperso desatento como se aquele corpo não fosse meu. Quando mostram as fotos aos parentes e vizinhos sou pedra-porta-árvore-sombra-paisagem. Ninguém, reunindo as fotos, perguntará: -Quem é este constante figurante no flagrante do alheio instante? Disperso-dispersivo estou. Que álbum conterá a unidade perdida revelada do negativo perambulante que sou?