31 de ago. de 2014

AS TRÊS PALAVRAS MAIS ESTRANHAS :: Wislawa Szymborska

Mel Bochner, 2012
Quando pronuncio a palavra Futuro
a primeira sílaba já pertence ao passado.
Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o.
Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não-ser.


Tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves

30 de ago. de 2014

ELEGIAZINHA :: NELSON ASCHER (São Paulo, 1958)

Picasso

ELEGIAZINHA

[i. m. nikita (gata da Inês)]


Gatos não morrem de verdade:
eles apenas se reintegram
no ronronar da eternidade.

Gatos jamais morrem de fato:
suas almas saem de fininho
atrás de alguma alma de rato.

Gatos não morrem: sua fictícia
morte não passa de uma forma
mais refinada de preguiça.

Gatos não morrem: rumo a um nível
mais alto é que eles, galho a galho,
sobem numa árvore invisível.

Gatos não morrem: mais preciso
- se somem - é dizer que foram
rasgar sofás no paraíso

e dormirão lá, depois do ônus
de sete bem vividas vidas,
seus sete merecidos sonos.

In: Parte alguma.  Companhia das Letras. 

29 de ago. de 2014

Flor Jade, Mucunã


























Mucuna  (Adans. 1763)
taxonomia:  Leguminosae Papilionoideae Phaseoleae Mucuna
gênero de plantas da subfamilia Faboideae e da Phaseoleae.
Planta trepadeira cujas flores são polinizadas por morcegos ou seja, o pólen é transportado dos estames de uma flor para o estigma de outra enquanto se alimentam de seu néctar.
Cerca de 105 espécies
feijão  Bengala M. pruriens (L.) DC.
feijão  búfalo Mucuna Adans.
feijão Maurício  M. pruriens (L.) DC.
Mucuna Mucuna Adans.
mucuna M. pruriens (L.) DC.
distribuição:
pantropical ( Ásia e na China,  Austrália; África, Madagascar e Mascarenhas;na região neotropical, centrada na América Central  e Caribe. )
hábito: Principalmente lianas
Ecologia: Várzea tropical úmida , floresta tropical, muitas vezes costeira
etimologia: Derivado do tupi  brasileiro "Mucuna" dado a essas plantas.

Kindergarten :: Manuel António Pina


Konstantin Makovsky, 1882

As filhas brincam fora de o quê,
que infinitamente se interroga?
O fora de elas é dentro
 de que exterior centro?
 Quem está lá aqui
assistindo a isto e a mim,
 e às filhas brincando e ao jardim?
 Que coisa essencial em qualquer sítio perdi?
Também eu ou alguém brincou há muito tempo
em outro jardim, brincando.
 Sem que palavras lá estando?
Fora de que memória não me lembrando?



28 de ago. de 2014

COISAS CONCRETAS :: MIREN AGUR MEABE

Paul Gauguin, 1883
Estou sentada na cozinha, enquanto a massa ferve.

Amo as coisas concretas
descobrir seus nomes ao pequeno-almoço:
despertador, chuva na calçada, supermercado,
beijos na siesta,
um copo de vinho, amigos,
as pequenas mãos de meu filho,
pessoas na praça,
tu...

Elas produzem as mais doces e lânguidas cócegas,
como um banquete após o jejum.
Parece-me impossível afastar-me de tais coisas:
colam-se à minha caneta e parece que não consigo sacudi-las.

No entanto,
as coisas concretas não permitem atrasos,
e a massa já está pronta.
Assim é a vida.
Quando o semear do poema começava a germinar,
eis que o mundano vem intrometer-se.
E lá tenho eu que me levantar da mesa,
enquanto a sombra de um bilioso humor assenta.

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)