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29 de dez. de 2015

BRIONI :: Radovan Ivsic (Zagreb, 1921-2009)

Emil Carlsen
Os cervos são borboletas
as borboletas  são peixes
os peixes são claridade
a claridade é morte
a morte é laranja
a laranja é vulcão
o vulcão é feno
o feno é elefante
o elefante é afogamento
o afogamento é riso
o riso é montanha
a montanha é anel
o anel é solidão
a solidão é areia
a areia é roda
a roda é terremoto
o terremoto é cílios
os cílios são cascata
a cascata é bigorna
a bigorna é lembranças
as lembranças são vermelho
o vermelho é chicote
o chicote é fim
o fim é mel
o mel é nuvem
a nuvem é o infinito
o infinito é infinito

23 de ago. de 2015

Borboletas :: Manoel de Barros

Yiannis Tsaroychis

Borboletas me convidaram a elas.
O privilégio insetal de ser uma borboleta me atraiu.
Por certo eu iria ter uma visão diferente dos homens e das coisas.
Eu imaginava que o mundo visto de uma borboleta seria, com certeza,
um mundo livre aos poemas.
Daquele ponto de vista:
Vi que as árvores são mais competentes em auroras do que os homens.
Vi que as tardes são mais aproveitadas pelas garças do que pelos homens.
Vi que as águas têm mais qualidade para a paz do que os homens.
Vi que as andorinhas sabem mais das chuvas do que os cientistas.
Poderia narrar muitas coisas ainda que pude ver do ponto de vista de
uma borboleta.
Ali até o meu fascínio era azul.


17 de out. de 2013

O Amor no Éter Adélia Prado


Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água,
entram e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniço na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo,
a metafísica, exclamam: como és bonito!
Quero escrever-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar
entre meio-dia e duas horas da tarde.

31 de ago. de 2013

Ficas tão rico de antigamente de Cecília Meireles



(...) Ficas tão rico de antigamente, tão vencido por um amor de cancioneiro, por uma ternura conventual, dolorosa – e ao mesmo tempo desejas sorrir, dançar, não pensar nada, ficar por essas praças, por esses jardins que são a imagem da vida e por onde andam crianças como pequenas flores soltas, com laços no cabelo, como felizes borboletas aprisionadas. Ficas extasiado.

fonte: Crônicas de viagem. Nova Fronteira, 1999.

3 de fev. de 2013

Borboletas :: Manoel de Barros


Borboletas me convidaram a elas.
O privilégio insetal de ser uma borboleta me atraiu.
Por certo eu iria ter uma visão diferente dos homens e das coisas.
Eu imaginava que o mundo visto de uma borboleta seria, com certeza, 
um mundo livre aos poemas.
Daquele ponto de vista:
Vi que as árvores são mais competentes em auroras do que os homens.
Vi que as tardes são mais aproveitadas pelas garças do que pelos homens.
Vi que as águas têm mais qualidade para a paz do que os homens.
Vi que as andorinhas sabem mais das chuvas do que os cientistas.
Poderia narrar muitas coisas ainda que pude ver do ponto de vista de 
uma borboleta.
Ali até o meu fascínio era azul.

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)